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Já era a sétima vez que a rapariga de cabelos cor de avelã olhava para o grande relógio posto na sala e o mesmo mostrava que ainda não eram 8:00h da manhã.

Podia jurar que o tempo estava a passar mais devagar desde há uma hora. Talvez a insistência da mesma fizesse o tempo não correr na sua sequência habitual.

A sua insistência foi notada pela sua companheira, não só de posto de trabalho, como também de casa e de vida, sim porque um ano podia ser considerado uma vida já.

"Sabes que não é por olhares para o relógio de 2 em 2 minutos que o tempo vai passar mais rápido, certo?"

"Estou cansada"

"Estamos todos, o final de ano é sempre mais complicado"

"Foi uma longa noite, um grande mês e um ano enorme" disse simplesmente

Olhou novamente para o relógio e o mesmo marcava 8:00h em ponto. Suspirou e fechou o computador à sua frente. Depois de 8 horas de trabalho e muitos processos, tinha acabado de fechar o ano na empresa e ela podia ir, finalmente, descansar.

Fazer o turno da noite era a única forma que os superiores dela tinham visto para que a empresa conseguisse fechar o ano de 2018 e entrasse rapidamente no ano de 2019.

Não havia muita gente na rua aquela hora da manhã, era sábado e estava a nevar em Nova Iorque.

Não se sentia em casa, nunca se sentiu. Aliás a única coisa que a fazia sair do apartamento que dividia com Annie, a sua colega de trabalho e casa, era mesmo o trabalho e o facto de ter que ganhar dinheiro para se sustentar.

Aquele emprego sempre foi o seu sonho, representar uma grande multinacional, mas após um ano em terras norte americanas, a única coisa que ela queria era ter oportunidades em Portugal, na sua terra.

Quando chegaram a casa, Annie tratou logo de ir para o frigorífico de modo a preparar mais uma das suas enormes sandes. Ela sabia que assim que a amiga acabasse a sua sandes iria dormir e só a voltaria a ver à noite.

Largou as suas coisas em cima da cama e ligou o portátil, iria ver se alguma das cem empresas para as quais tinha mandado o seu currículo tinham respondido ao seu pedido, desesperado, de emprego.

Só queria voltar, já só pensava nisso. Nunca mais era hora disso.

Quando viu que não tinha resposta nenhuma, suspirou e derrotada, fechou novamente o portátil e deitou-se na cama. Fechou os olhos e mesmo se querer adormeceu.

Acordou quando sentiu frio e olhou em volta, percebendo que estava no seu quarto mas estava vestida e não tinha ligado o aquecimento, daí o frio que sentia. Nova Iorque era uma cidade muito fria no inverno e aquele inicio de ano estava particularmente frio.

Quando chegou aos Estados Unidos, no final de 2017, percebeu que nunca se iria adaptar ao frio avassalador. No verão era bom mas os invernos eram muito rigorosos e nunca se iria habituar.

Sempre tinha ouvido a mãe dizer que ela não era uma menina do frio, nem do frio, nem do campo. Tinha saudades da mãe, aliás tinha saudades de todos, até dos seus dois irmãos que por muito chatos que pudessem parecer, eram os melhores irmãos do mundo.

Levantou-se da cama e viu que ainda eram apenas 11:00h, foi até à cozinha e preparou cerelac para responder aos insistentes "roncos" que o seu estômago ia fazendo. Depois de comer voltou ao quarto com o intuito de pegar no computador e voltar para a sala, mas uma notificação prendeu a sua atenção no monitor, assim que o abriu, ainda no quarto.

Era um email de uma das empresas para as quais tinha enviado o currículo e pelo conteúdo, lido à pressa na diagonal, percebeu que queriam marcar uma entrevista com ela, por conferência devido à distância entre os países.

Ficou feliz, tão feliz que deixou escapar a taça que tinha na mão e só "acordou" do seu estado de felicidade sem expressão quando ouviu o barulho de algo a partir-se, seguido de um grito por parte de Annie.

"MADALENA" gritou a americana, o melhor que conseguiu, visto que o nome da portuguesa não era algo fácil para a nova iorquina produzir

"Está tudo bem" disse e começou a apanhar os cacos

Assim que a rapariga de cabelos pretos se apercebeu do que se passava, depressa chegou ao pé da rapariga com uma vassoura, um pano e uma pá e começou a limpar o chão.

"Assustaste-me" disse olhando para a rapariga seriamente

"Desculpa, não sei que me deu"

"Que se passou?" perguntou preocupada

"Marcaram-me uma conferência, para uma entrevista num empresa ... em Portugal"

"Mas isso é bom!" sorriu, feliz pela amiga "Vais poder voltar para Portugal"

"Eu sei, é o que sempre quis e tu sabes disso melhor que ninguém" olhou para as mãos

"Não percebo a tua preocupação toda, com o teu currículo e com este emprego aqui, consegues o emprego de certeza" disse sorridente "Era o que mais querias, voltar ao teu país, voltar a estar com as pessoas que gostas"

Aquela frase fez com a rapariga pensasse naquilo que iria fazer dali para a frente, ela queria voltar ao seu país e estar perto da família de novo, mas será que conseguiria voltar a estar perto dele?



Olá! Aqui está o primeiro capítulo desta nova aventura. Como eu expliquei na "introdução" que publiquei, esta história irá ter voltas diferentes de todas as histórias que já escrevi. Na verdade ainda tenho que acertar algumas ideias na minha cabeça mas já sei qual a estrutura que a fic terá daqui para a frente.

Espero que tenham gostado e deixem a vossa opinião, bem como estrelinhas!

Até ao próximo capítulo, mulan. 


Nova Iorque | Rúben DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora