Num caderno cor turquesa a capa dura, Kangmin escreveu um poema melancólico e o intitulou "dor", bem no cantinho do papel pardo. Suspirou ao deitar os olhos para fora da janela do seu quarto: o mar estava irado, gritando, pulando, puxando e empurrando. Era normal a maré estar cheia naquele horário, e entendia o porquê de todos acharem divertido — ainda que perigoso — aquela violência um tanto engraçada e única. Remotamente recordou-se das aulas de física da escola, mas decidiu afastar-se dessas lembranças, pois era férias e ninguém ligava para o que foi estudado durante o ano letivo.
Pacientemente o Yoo regou seu girassol brilhante, sua samambaia gigante, seu cacto acolhedor. Eram preciosos para ele, pois eram um dos seus poucos motivos de alegria e dor. Mantinha-os sempre debaixo da suas asas, paranóico com a ideia de alguém roubá-los ou um moleque chutar uma bola justamente nas suas crianças. E ainda tinha suas plantinhas desconhecidas, aquelas bonitas demais para ele saber qual, de fato, é o seu nome popular. Não conhecia-as, eram frutos de alguns roubos por aquela cidade litorânea. Encontrava-as em qualquer lugar, pegava e achava que não fazia mal algum. Talvez um dia viesse a nomear suas florzinhas.
Kangmin levantou-se e deixou a casa de veraneio da sua família, sendo contemporaneamente ocupada pelo próprio Yoo e seu irmão. Papai e mamãe não vieram, ainda estavam na caótica capital Seul a espera das férias. Mandou os meninos na frente, empanturrando-os de regras e proibições. Não cumpriram quase nenhuma, apenas aproveitando a ausência dos adultos. Eram adolescentes, afinal.
Arduamente caminhou pela areia quente, mirando os olhos no irmão e seus novos amigos surfistas. O sol preparava-se para se pôr, mas não proibia-se de estar nocivo e bárbaro sobre a pele delicada do Min. Ele andou e andou. Quando se aproximou do grupo de meninos, não foi o seu irmão que olhou-o primeiro e sim um loiro. Ele bateu o olho em Kangmin uma vez, sem querer, e desviou por isso já estar programado a ser feito. Conquanto, teve que checar melhor aquele menino e, assim, olhou-o pela segunda vez.
— Hyung, você vai cozinhar hoje ou vamos comer lamen de novo? — indagou, sentindo o aperto no estômago pela fome.
— Vamos no food truck do pai de Dongheon, lá tem comida boa e barata! — seu irmão mais velho deu pequenos tapas na areia amaciada pela água, num claro gesto para que o mais novo se sentasse.
— Desculpe, não conheço Dongheon — circulou os olhos entre os rapazes, para então um moreno erguer a mão e sorrir.
— Sou eu, prazer — sorriu este, avaliando o menino com toda a atenção.
— Ah, eu sou Kangmin. Vocês são novos na cidade? — Yoo fazia círculos na areia ensopada, evitando o excesso de contato visual com aqueles garotos bonitos.
O loiro prontificou-se.
— Minchan tem uma casa de veraneio aqui — olhou para o garoto que tentava enterrar a si mesmo — Então ele convidou seus amigos da escola. Ah, eu sou Gyehyeon.
— Prazer — Kangmin sorriu, simpático.
— Esse é Hoyoung, ele é muito bom surfando — seu irmão apresentou o citado — Tem também Yongseung, ele sabe fazer manobras incríveis com bicicleta.
— Sim, e eu? — o único menino de camiseta perguntou, falsamente irritado por ter sido excluído da lista — Pronto, agora eu me apresento! Sou Yeonho e sou maravilhoso em tudo o que faço.
Kangmin riu, internamente nomeando-o de Sr. Ego. Talvez fosse brincadeira, mas ele tinha certeza que aquele tal gostava de ter um pouco de atenção. Não julgava, até ele mesmo curtia um pouco aquilo. Seria legal os ter naquele pedacinho do verão, pois novas amizades nunca poderiam ser negadas ou abominadas. Também, estava cansado de sentir-se solitário e vazio naquela casa, apenas com suas flores e suas poesias decadentes.
Gyehyeon sorriu para ele. Daí veio o nome da sua primeira flor.
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minhas flores e minhas outras doresッkangmin+??
Fanfictionentre flores, águas salgadas, línguas queimadas por cafés, pele bronzeada e sorvetes de chocolate, kangmin encontrou mais uma dor para a sua coleção.