língua queimada pelo café

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Os coqueiros altos convulsionavam ao passo que as gotas violentas marcavam a areia da praia. Era manhã, mas nem tudo havia saído como planejado. Provavelmente porque ninguém gostaria de pegar um resfriado em pleno verão e a presença da chuva chegava a ser angustiante. Chuvinhas de verão são passageiras, então gostavam de pensar que, talvez, suas frustrações também fossem.

— Aish... Logo hoje! — Hoyoung reclamava — Mas que droga! Eu estava tão feliz porque iríamos jogar! Essa merda de céu só manda água na hora errada!

— Você se irrita muito facilmente, Hoyoung. Isso é normal — Yongseung, que estava jogado no sofá completamente folgado, comentava sobre o amigo.

— Isso é ridículo. É óbvio que devo ficar com raiva disso, parece até uma conspiração universal contra mim — o menino cruzou os braços e, de cara fechada, decidiu calar-se e internamente alimentar sua raiva.

— Vai passar rapidinho! — Yeonho dizia ao tirar inúmeras fotos de si mesmo perto da janela fechada, externamente molhada pela precipitação. — Certo, Minchan?

Minchan não prestava atenção na conversa, mas sim no jeito acalentador e carinhoso o qual Gyehyeon tocava e cuidava de Kangmin, ainda que o garoto insistisse em menos contato físico. Não importava quantas vezes falasse, pois sempre sentiria a mão dele na sua perna, nos ombros, na nuca, até mesmo nos seus lábios, uma vez que o outro amava acariciá-los. E aquele barulho ensurdecedor da chuva era apenas o estopim para que perdesse uma barrinha de paciência.

Dongheon estava incrível com o seu cabelo molhado do recente banho tomado, causando uma veemente indagação interna ao Yoo acerca da possibilidade de, alguma vez naquele mesmo verão, vê-lo com suas madeixas secas. Ou talvez vê-lo sem mastigar qualquer coisa, pois era exatamente isso o que estava fazendo naquele momento.

Afinal de contas, Dongheon estava frustrado com a intensa mudança temporal ou talvez esse fosse só um pretexto a suprir com sua ânsia por comida. Era a frustração de sempre. Sempre comendo.

O tempo fechou e não haveria mais vôlei: comeu seu kimchi em silêncio. Hoyoung não parava de demonstrar sua raiva: enfiou três tofus na boca. Minchan olhava atravessado para Kangmin, incomodado pelo garoto atrair a atenção de Gyehyeon: comeu um sanduíche inteiro sozinho. Yongseung estava há dias sem lavar um prato sequer, somente sentado no sofá sem fazer nada: engoliu um copo inteiro de suco e mais quatro tortinhas doces.

— Podemos jogar amanhã! — Kangmin sorriu, propondo o que aparentemente já estava óbvio. Seu olhar adocicado encarava Dongheon cujo não olhava de volta, apenas servia-se de mais tortinhas.

— Eu não vou — Yongseung foi logo avisando, esticando-se preguiçosamente no sofá da casa de Minchan.

Kangmin expressou tristeza em seu semblante, mas apenas concordou com a cabeça, respeitando aquela opinião. Yongseung era o último a fazer as coisas, quando as fazia. Não costumava correr, não gostava de andar e até aquele momento estava esperando alguém levá-lo um copo d'água, pois era acomodado demais para levantar-se e pegar por si só.

— Min, você ainda vai? — Gyehyeon sorriu-lhe, como sempre fazia. Estavam próximos até demais e Kangmin já não tinha mais espaço para onde empurrar aquela cadeira.

— Vou sim — aquiesceu num gesto — Dongheon, ainda está de pé?

— É, pode ser — Kangmin pensou que o menino tivesse sido indiferente somente porque estava de boca cheia.

— Vamos fazer duplas, que tal? — Gyehyeon aparentava ser o único eufórico com aquilo.

— Não é uma má ideia — Yeonho concordou com a proposta.

— Eu quero fazer dupla com Kangmin! — Gyehyeon, animado, puxou o menino para um abraço e, cheio de entusiasmo, beijou-o estalado na bochecha.

Minchan sentiu o estômago embrulhar.

— Por que você não faz comigo? Costumávamos fazer dupla em tudo! — ergueu-se num salto, claramente tomado pela inveja do roubo absurdo que Kangmin havia feito a ele — Por que Kangmin merece todo esse carinho?

— Minchan, você está insuportável hoje! — Hoyoung tomou as rédeas da situação, empurrando o amigo para que sentasse outra vez. — Seu histerismo está me deixando irritado!

Dongheon estava tão ocupado lambendo os dedos de açúcar que nem se importou com nada daquilo.

— Façam menos barulho senão vou ter que sair daqui e estou muito cansado para me levantar... — a voz lenta e arrastava denunciava a lentidão de Yongseung, cansado de fazer exatamente nada.

Kangmin estava assustado àquela altura do campeonato. Afastou a mão de Gyehyeon de si uma última vez e bebeu um pouco do seu café, consequentemente queimando sua língua pela quentura ignorada. Mesmo após o susto continuou bebendo o seu líquido.

Virou-se para Minchan, intensamente olhando-o com inveja da atenção de Gyehyeon. Provavelmente gostasse do Hyeon, ou talvez fossem apenas amigos. Não importava, porque o loiro parecia ser muito especial para o Chan e Kangmin havia tirado-o isso.

Mas lá estava Yongseung com seu cabelo bagunçado e as pernas esticadas no sofá. Falava lento, andava lento, fazia lento. Não fazia. Ficava num canto descansando de nada, quieto, apenas pedindo favores e favores sem fim. Não saía do lugar. Parecia um bicho-preguiça.

Kangmin mordeu a língua queimada e observou ambos meninos. Foi então que saiu o nome da terceira e quarta flor. 

minhas flores e minhas outras doresッkangmin+??Onde histórias criam vida. Descubra agora