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- Bom dia, classe. - Sorri Bradley enquanto entra pela porta com sua pilha de livros debaixo do braço. Trajado de um terno cinza e camisa social branca, ele caminha em passos firmes até sua mesa e deposita seus objetos no topo. Seus movimentos são leves e coordenados. Delicados, eu diria.

Seu cabelo vai até os ombros e tem um corte repicado, é bastante bem cuidado, e sua barba tem o comprimento perfeito para deixar qualquer mulher como eu, louca.

Sei do nome dele porque, é claro, antes de entrar nas aulas li sobre todos os meus professores. Ele obviamente foi o que mais me chamou atenção, pela matéria que dá aula e pela aura de astro do rock engomadinho demais que exalava na fotografia que constava na parte dele do site da faculdade. Os outros professores, bem... Eram em sua maioria velhos e desinteressantes, com cara de ranzinza e "estou aqui pelo dinheiro". De cara percebi que Cooper não era assim - ele chegava na sala e tinha prazer em trazer seus livros e se preparar para mais uma aula na manhã.

- Vejo que... Temos uma aluna nova. Transferida da NYU! Seja bem vinda... - Ele pausa para ler meu nome na folha. - Germanotta.

Eu sorrio e movo minha cabeça em resposta, sem dizer nada.

- É... Italiano? Seu sobrenome, digo. - Ele diz se virando para a lousa para escrever o resumo da aula.
- Sim. Sou decendente de italianos, e vim de Nova York. -- Digo alto o suficiente para ele ouvir, e pego meu caderno de anotações.
- Minha mãe tem parentes lá também. Família Campano. - Posso sentir o sorriso em sua voz mesmo ele estando de costas. Por que ele está puxando assunto comigo?

A classe me encara, como se fosse incomum e bizarro ele conversar com alguém. Respiro fundo e termino a conversa logo.

- Interessante. Talvez nossas famílias tenham se visto por lá. - Abaixo minha cabeça e começo a escrever rapidamente, copiando o conteúdo que ele estava escrevendo há pouco.

Bradley termina, se vira e acena com a cabeça para mim, sem sorrir ou expressar posterior reação, apenas respeito pela coincidência. Ele parece ter entendido o recado e começa a introduzir sua aula, como se eu nem existisse na sala.

***

Não nego o desejo que eletrificou meu corpo quando o homem de olhos azuis direcionou sua atenção à mim. Ele é bonito demais, charmoso demais... E inteligente demais, é claro. Conduziu a aula com a maestria de um professor veterano, apesar de estar apenas na casa dos 30. Cheguei a pensar demais nesse assunto e em algum momento simplesmente me desliguei de sua aula.

- Senhorita Germanotta, se importa? - Ele me tira de meus devaneios e eu olho para ele de súbito.
- Ah... Perdão, professor Cooper. Qual era a pergunta? - eu olho para ele desnorteada e ele sorri como se gostasse do que via. Maldito predador.
- Botticelli. Nascimento de Vênus. O que você entende desta obra? - Ele se apoia quase se sentando na própria mesa e cruza os braços esperando uma resposta.

Mal sabe ele que escolheu minha obra favorita para me perguntar.

- Bom, não é muito difícil interpretá-lo. Chega a ser literal... Para um leigo. Mas eu já estudei muito sobre esse e posso dizer que...

Sou interrompida pelo sinal indicando o final da aula. O Sr. Cooper sorri e fecha seu livro olhando pra mim.

- Podemos continuar essa análise depois, Stefani. - Tenho a impressão que ele pisca pra mim, o que provavelmente é coisa da minha cabeça. Ponho os livros na mochila e paro para checar a próxima aula e acabo sendo uma das últimas a sair da sala.

- A senhorita tem um gosto interessante para obras. Tenho certeza que será um prazer debater com você ao longo do ano. - Ouço sua voz grossa por trás de mim e congelo. - Bem vinda à Universidade de Los Angeles, Stefani.

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