"Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tina."
I CORINTIOS 13:1
Guarujá, São Paulo
Julho, 2008
"- Márcia, eu acho que estou apaixonada! – A voz alegre de Paula ecoava por toda a papelaria.
- De novo? – Márcia arrumava os maços de folha sulfite que tinham recém-chegado do estoque para repor na loja – Paula, essa deve ser sua centésima paixão desde o dia que eu te conheci.
- Má, dessa vez é de verdade. – A morena agora colocou as mãos em formato de flor apoiando o queixo. – Eu amo o Leandro.
- Ai Paula – Márcia riu dos sonhos da jovem apaixonada e voltou ao seu trabalho.
Paula, ainda sonhando acordada, correu até a sala dos funcionários e guardou sua bolsa. Olhou mais uma vez no espelho e ajeitou sua roupa que ficara amarrotada com a caminhada do ponto de ônibus até a papelaria onde trabalhava.
Enquanto isso, num outro lugar da cidade, Leandro estava concentrado em atender as pessoas que entravam e saíam constantemente do restaurante do hotel. Fazia um bom tempo que trabalhava naquele restaurante e já fazia seu nome como maître. Tinha poucos amigos, tinha poucos objetivos, tinha poucos sonhos, mas tinha muita, mas muita vontade de encarar os desafios e sentia um prazer imensurável em vencer todos.
Naquele dia estava especialmente alegre. Paula havia passado a noite com ele.
Foi um longo trabalho de conquista. Leandro teve que usar todo o seu charme e vocabulário para conseguir a primeira chance com a senhorita que roubou seus pensamentos e os prendeu numa caixinha em formato de coração que só ela tinha a chave. Paula sabia que o rapaz não era flor que se cheirasse, mas tinha em si a ideia de que todos deveriam ter uma chance. Paula havia lhe dado uma chance e Leandro a agarrou com unhas, dentes e coração.
Algumas pessoas chamam a demonstração de afeto, por parte do homem, como frescura. Mas, para Leandro, era uma coisa boa. Mesmo com uma vida inteira dedicada ao trabalho, seu pai demonstrava sempre o amor à sua mãe. Não eram ricos e nem nada demais. Eram pessoas simples, que tinham trocado alianças no cartório do centro da cidade 30 anos antes e que fizeram uma família para fazer seus três meninos se orgulharem.
Leandro era o filho do meio. Ajuizado, responsável e dedicado, o jovem tinha em suas mãos os sonhos que sempre quis realizar, ter um emprego para poder comprar suas quinquilharias modernas, como diz sua mãe. Luan, o mais velho, era o filho que tinha todas as qualidades de Leandro multiplicado por dez. O primogênito de dona Edna, simplesmente amava a vida que levava na estrada. Conseguira, por forças do destino e dedicação própria, a licença para dirigir caminhões e passava a maior parte dos dias na estrada. Por esse e outros motivos que o mais velho dos meninos de Edna, no auge dos seus vinte e seis anos, ainda não casara. Nem ao menos namorava.
Esse, não era o caso do caçula.
Lucas, o garoto problema, trocava de namorada como troca de camisetas e isso era motivo de preocupação de Edna e principalmente do senhor Arnaldo. Pensava que, se tivesse uma menina dentre seus filhos, jamais queria que a mesma namorasse um tipo como Lucas. Não queria ter o desgosto de ver a filha se apaixonando por um 'galinha'. Fora a fama de pegador, Lucas era um bom filho. Estudioso e dedicado, tinha o sonho de fazer medicina. Sonho esse que se dependesse de seus pais e irmãos, será realizado, mesmo que tenham que fazer inúmeros sacrifícios e Lucas, estava disposto a dar esse orgulho aos que amava.
Leandro sorriu por um momento, enquanto ajudava a organizar as praças do restaurante, lembrando do aviso da mãe enquanto estava se preparando para o trabalho.
- Le, não vai magoar a menina ein!
Não, ele não iria magoar Paula.
Tinha a conhecido por meio de sua amiga, Márcia que era a namorada/esposa de um dos garçons que trabalhava com ele, Eduardo. Quando lembrou de um dos poucos amigos que tinha, levou os olhos até ele que, do outro lado, lustrava os belos e formosos talheres que tinham no restaurante.
- Quer uma foto Leandro? – Eduardo comentou enquanto caminhava até o amigo com um pano branco em mãos que havia usado para lustrar os talheres, normas do hotel. – Se quiser, eu te dou se problemas.
- Eu não sei como que a Márcia te aguenta cara... – Leandro disse terminando suas tarefas também. – Teu humor é um saco.
- Eu também não sei... – O amigo riu enquanto passava por ele e parou de repente. – Mas, e a Paula?
Nesse momento, sentiu um sorriso maroto surgir nos lábios de Eduardo. Era desse humor ácido que Leandro fugia sempre. Ele adorava seu amigo, mas vez ou outra o rapaz sabia ser grosso. Perguntar sobre Paula não era nada demais, o problema estava em como ele iria lidar depois disso com as brincadeirinhas que Eduardo insistiria em levar por, pelo menos, uns dois meses.
- Tá muito bem, obrigado. – O jovem maître livrou-se do amigo que entendeu a mudança brusca de assunto e fez uma nota mental de continuar com o interrogatório em outra hora. Tinha certeza que esse "tá muito bem, obrigado" tinha muitas, mas muitas entrelinhas.
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O SOL DE JULHO
Historia CortaA felicidade não é uma receita pronta. Ela precisa ser remexida até ficar do jeito que cada ser humano merece. Paula e Leandro é uma história de amor que, mesmo com o passar do anos, resiste a todos momentos. Iluminados por um sol de julho, crescem...