A noite era clara, as estrelas e a lua iluminava a pacata cidade Ouro Velho. Passara da meia noite, mas mesmo assim Leo ainda estava acordado no seu quarto. O barulho do que ocorria na sala da sua casa não o deixara dormir. Seu pai chegara mais uma vez bêbado de uma noite de boemia. E estava logo ali, a gritar com sua mãe. Pelo menos as coisas pareciam mais pacíficas do que o normal, já que tinha vezes que ele a agredia. E o pequeno Leo de apenas nove anos nada podia fazer a não ser tentar se esconder do mundo puxando a coberta até a altura dos olhos.
Nesse ambiente ele cresceria até os seus quatorze anos, quando seu pai morreria ao entrar em uma briga no bar onde frequentava com um sujeito orgulhoso e que portava uma faca de cozinha que carregava junto a si desde de quando presenciou a morte de sua mãe por um marginal quando contava 16 anos de idade, depois desse evento ele nunca mais fora o mesmo, um pouco mais violento do que o normal.
Mas voltando a história do pequeno Leo, ao enterrar o homem chamava de pai, ele não chorou e nem se sensibilizou ao contrário de sua mãe que mesmo sendo vítima de tantos abusos ainda sim amava o ser que estava naquele caixão negro, negro como os seus olhos que anos atrás se cruzaram com os dele coincidentemente numa noite também clara por causa do brilho das estrelas e da lua.
E por causa de um encontro arranjado por seus amigos debaixo de um pinheiro que ficava no centro da praça aonde o tradicional festejo de são francisco ocorria, seus destinos se cruzaram assim como os seus olhos e eles entrariam em uma grande jornada de amor. Eles se encontraram diversas vezes depois daquela noite, e em um desses encontros ocorreu o primeiro beijo, bem debaixo do mesmo pinheiro no centro da praça.
Leo não sabia dessa história e nem de quando o pai dele salvara a vida de uma mulher, um bebê e um pequeno cachorro ao sofrerem um acidente de carro. Ou quando ele emprestara dinheiro para um antigo colega da escola que estava desempregado e tinha quatro bocas pra alimentar em casa. Ou de quando ele levara a sua mãe para uma lanchonete e ao se deparar com um mendigo pedindo comida ele comprou e serviu o pobre coitado com alguns hamburgueres. E até pouco ficou sabendo de quando seu pai sofrera um golpe que tirara seu emprego e até a sua dignidade por difamarem que ele estava roubando da empresa onde trabalhara. Pouco tempo depois, nenhuma outra empresa quis contratá-lo. As contas e dívidas só aumentavam, e com elas a sua preocupação, o seu estresse, a sua raiva e depois de muito tempo contendo tais sentimentos, sua alma se quebrou e isso tudo foi o seu motivo de começar a beber e se viciar.
Leo não sabia dessas histórias, pra ele seu pai sempre fora um monstro e não entendia o porquê da mãe chorar tanto pela sua morte. E nunca entenderá, pelo menos não nessa vida.
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Histórias Curtas
RandomApenas algumas curtas histórias para entreter e fazer refletir.