II.

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O relógio da parede a sua frente indicava quinze pras oito. Havia muito barulho naquela sala, mas Aline só conseguia escutar o tic tac do relógio ecoar pelos seus ouvidos.

As coisas não eram mais as mesmas, seu coração estava acelerado, sua respiração ofegante, suas mãos não paravam de suar. O medo corroía o mais íntimo do seu ser, sua boca estava seca, sua face estava pálida, e sua barriga estava estranha, dando a ela uma ânsia de vômito.

O seu medo adentrara a sala de reconhecimento faltando dez minutos para as oito. No momento em que ele entrou, ela o reconheceu. Estava ali. Logo atrás do vidro que separava as duas salas da delegacia de polícia. Sua mão tremia tanto. O policial falou pra ela apontar o número do sujeito e ela o fez com a sua voz trêmula. O policial falou o nome do rapaz, mas ela não estava mais escutando. O que ecoava no seu ouvido era apenas o tic tac repetitivo do relógio que fazia a seu nervosismo aumentar.

Ela queria sair dali, ela queria fugir do mundo, fugir da realidade, fugir de tudo que possa machucá-la tanto quanto aquele rapaz a machucou. Agora sua alma estava quebrada, corrompida, ela sentia nojo e queria vomitar por causa disso. A mãe a levou daquele lugar passando pelo corredor, pela sala de espera, pela porta da frente, pelo estacionamento e chegando no carro.

A advogada que acompanhava o caso dizia que a justiça seria feita tentando reconfortar a garota. Mas nada mais iria reconfortá-la durante um bom tempo. Tudo pra ela passaria a ser ameaça tudo pra ela pareceria ter a intenção de abusar dela.

A Aline que todos conheciam morreu naquela festa na casa da garota mais popular da escola enquanto os pais viajavam e a irmã mais nova estava na casa dos avós, bem na terceira porta a esquerda depois de subir um lance de escadas com os degraus feitos de mármore.

A batida da música ressoava na casa toda, até mesmo no quarto onde Jorge levara Aline dopada de um forte calmamente que a fazia ver o mundo todo mais lento. Mas ela ainda tinha uma mínima noção do que estava acontecendo bem em cima da cama espaçosa cheia de almofadas de emojis. O que aconteceu ali, arrancou a sua integridade e lançou no fogo.

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