Capítulo Um

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CAPÍTULO UM

REPOSTAGEM DA HISTÓRIA

Música alta, enérgica, bebidas alcoólicas, cigarros e baseados durante altas horas da madrugada de um sábado qualquer. Características comuns de uma festa repleta de universitários, acontecendo dentro do apartamento ao qual dividia o aluguel com o meu primo, o Theo.

Enquanto apoiava a mão nos joelhos, empinando o quadril para rebolar até o chão, senti quando tocaram meus ombros, despertando a minha atenção.

— Ei, Camila — um rapaz, um dos nossos convidados, disse em alto tom, tentando sobressair a música, inclinando-se na direção dos meus ouvidos. — Tem uma coroa ali na porta... Ela querendo falar com algum responsável.

Titubeei por alguns segundos enquanto mordia o lábio inferior, imaginando que pudesse ser algum vizinho aborrecido com a nossa baderna, pedindo, mais uma vez, para abaixarmos a música.

Ajeitei meus cabelos compridos em um coque improvisado e caminhei em direção à porta, que estava entreaberta.

— Hm?! — murmurei franzindo as sobrancelhas delineadas, encarando a figura de uma mulher parada logo à frente, com os braços cruzados a frente do corpo. — Posso ajudar em alguma coisa?

Com seus olhos esverdeados, a mulher, que aparentava estar na casa dos quarenta anos de idade, me fitou com reprovação. Seus lábios delicados se entreabriram e um suspiro profundo, carregado de repugnância, escapou por entre eles.

— É você a responsável pela festa? — indagou, analisando-me rapidamente dos pés a cabeça. Concordei com um aceno. — Então... — sua voz era firme. — Meu nome é Carmem, sou a síndica do condomínio.

Um breve silêncio se fez entre nós. Sustentei seu olhar, porém a observei, encarando as vestimentas simples: um short de moletom, que exibia parte das pernas torneadas e uma regata. Já havia visto-a algumas vezes na área de convívio do prédio. Carmem era um tanto quanto atraente, mas quando eu estava sóbria, a timidez era gritante até para uma simples troca de olhares.

— E? — elevei as sobrancelhas, dando de ombros.

A tez clara da outra mulher tornou-se rubra e pude vislumbrar o quanto ela estava irritada com meu comportamento esnobe. Contive um risinho no canto da boca. Ela revirou os olhos, evidenciando sua impaciência.

— Filha, são quase duas horas da manhã! Um monte de vizinhos reclamou do volume da música, da gritaria! Tem gente aqui que levanta cedo pra trabalhar! — praticamente berrou.

Talvez pela embriaguez, permiti que um sorrisinho cínico se espalhasse pelo meu rosto, dando de ombros outra vez.

— Ah, é?! — arqueei as sobrancelhas. — Sinto muito, mas não estou nem aí!

Os lábios de Carmem se entreabriram, denunciando parte da sua admiração perante a minha insolência. Seus olhos se estreitaram, como se fossem me fuzilar.

— Escute aqui, menina — aproximou-se um pouco mais. —, como é mesmo o seu nome, hein?!

— Camila — respondi dando um risinho debochado, escorando-me no batente da porta.

Ela inspirou fundo, como se tentasse encontrar a paciência perdida no fundo da sua alma, juntou as palmas das mãos à frente do corpo e forçou um sorriso, exibindo os dentes alinhados.

— Então, Camila — murmurou entre dentes. — Não acha que podemos resolver isso de um jeito mais amigável? Só estou pedindo para abaixarem o volume do som — arqueou a sobrancelha como se houvesse chegado a uma belíssima solução.

Moça do Condomínio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora