Two: the gold Culbert's

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"Eu estou farta dessa vida. Farta de ter que ser a filha perfeita, fazer tudo o que a minha mãe quer. Eu nunca tive uma aventura, nunca senti borboletas no estômago. Eu quero mudar, eu quero realizar meu sonho."

Rose adentrou o quarto de Kiara, que dormia feito um anjo. A televisão estava ligada, o que fazia a mulher concluir que sua filha, na noite passada, havia ido dormir tarde, consequentemente, esquecendo a televisão ligada quando finalmente pegara no sonho. Andou até a janela que dava vista para a rua e abriu a cortina com força, fazendo a garota acordar num susto por conta do barulho.

- Bom dia, Kiara. Você vai se atrasar se não acordar logo. — Falou em um tom de voz calmo enquanto já se dirigia a porta — O café está na mesa, eu chego á noite. — Pausou já enquanto estava bem próxima a porta. Virou-se e lançou um sorriso afetivo para a sua filha —

Kiara aproveitava breves segundos de preguiça após a saída de sua mãe. Gostava daqueles momentos em que estava sozinha, tinha vontade em passar mais tempo assim, mas as vezes, isso era quase impossível.

Finalmente tomou coragem e levantou-se de sua cama que naquela manhã parecia agarra-lá com tanta força que não a deixava sair. Rapidamente, fez suas higienes matinais no banheiro integrado à seu quarto e vestiu o uniforme da escola — uma camisa fechada por botões e uma gravata vermelha, saia dois palmos á cima do joelho, uma meia quadriculada vermelha que tampava mais metade de suas pernas e uma bota de cano curto. — você deve estar se perguntando o porquê de usar esse uniforme. Ah, deve-se ao fato de estudar no melhor colégio da cidade.

Desceu até a cozinha, aonde pegou apenas uma maçã. Por incrível que pareça, a garota naquela manhã não tinha fome. Seu coração estava apertado, ela sentia uma enorme vontade de fazer algo que jamais havia feito. Mas o quê? Nem ela própria sabia.

Estava sentada sob o balcão da cozinha americana — coisa que só fazia quando sua mãe não estava em casa — e saboreava sua pêra.

Ainda restava algum tempo até que fosse para a escola, então, decidiu ir ao sótão.

O sótão era o lugar em que mais sentia a presença de seu pai — talvez porque passassem muito tempo juntos lá enquanto jogavam jogos de tabuleiro, talvez porque todos os seus pertences estavam lá — ela não sabia. mas sabia que quando estava lá, todos os seus medos iam embora, porque sentia que seu pai estava com ela.

- Nossa... há quanto tempo eu não venho aqui. — Murmurou, sentiu seus olhos marejarem. Os papéis da empresa de seu pai estavam bagunçados sob a secretaria, exatamente como ele deixou. Algumas caixas estavam amontoadas por todos os lados — Rose jamais tinha tido coragem para entrar ali depois de sua morte. Repentinamente, uma vontade imensa de abrir aquelas caixas invadiram seu corpo. Era uma mistura de curiosidade e indecisão. E se sua mãe não gostasse? Provavelmente, ela não iria gostar. Mas que mal tinha? Ela pensou, afinal, era só as coisas de seu pai falecido.

Abriu-as com alguma dificuldade causado pelo peso e deparou-se com algo que lhe causou espanto. O brilho daquele cordão de ouro brilhava e reluzia em seus olhos. As memórias invadiram sua mente.



"- Minha filha, esteve cordão pertenceu ao seu bisavô, na verdade, a toda geração dos Culbert's. — Falou para a pequena garotinha de oito anos sentada em seu joelho esquerdo, enquanto passeava com as mãos por seus fios loiros —
- É sério, papai? — Indagou, curiosa. Seus olhos focavam fixamente no pingente redondo, grande e brilhante dourado, cujo estava escrito "Tradition, innovation, continuation: Culbert's" — E algum dia ele será meu?
- Claro que sim, meu anjinho — tocou com o dedo indicador na ponta de seu nariz, o que a fez gargalhar — e depois, será dos meus netinhos, depois, dos meus bisnetinhos, tataranetinhos... — Gargalhou junto com a garotinha que se divertia como nunca antes — Mas você tem que me prometer que cuidará muito bem dele, porque é uma jóia importante e valiosa.
- Eu prometo, papai. "





- Droga! — Exclamou enquanto saía de seu flashback — como pude me esquecer de você, maldito? — Resmungou referindo-se ao pingente pesado e valioso — Me desculpe por isso, papai. Eu prometi que iria cuidar dele muito bem, e é isso o que irei fazer.



Kiara saiu de seu transe e olhou no relógio de madeira que estava preso à parede do sótão. Deu um pulo quando viu que já se passavam das oito da manhã. Ela havia perdido a noção do tempo, e, droga! se ela não corresse, chegaria MUITO atrasada. A menina apanhou sua mochila e correu até à escola.



*

- Kiara, por que se atrasou hoje? Nem parecia você. — Ironizou Becca, a melhor amiga de Kiara —
- Não enche, Becca. — A loira revirou os olhos sem humor algum — Olha o que eu encontrei! — Pousou sua mochila sob seu colo enquanto a abria. Tirou de lá uma caixinha e a abriu, revelando o então pingente banhado a ouro, o que assustou Becca.
- Kiara, aonde você arrumou isso?! — Quis saber. Becca era de uma família rica e tradicional, era muito culta e entendia um pouco de tudo — incluindo joalheira —, o que era suficiente para saber a importância daquele cordão. —
- Era do meu pai, é uma espécie de jóia de família. — Explicou.
- Rose sabe que você pegou isso? — Falou, enquanto puxou o colar da mão de Kiara —
- Hey! — Arrancou a peça da mão de Becca — não toque nisso!
- Kiara! Você não pensa?! — Exclamou. A menina pôs-se de pé em frente à sua amiga — Venda isso, siga seu sonho! Hollywood espera por você, bobinha!
- Becca, você está louca? — Kiara levantou-se do banco. Aquela era simplesmente a ideia mais louca que já tinha ouvido na sua vida. Vender uma jóia de família e ir para Hollywood? Ou melhor, fugir. Gargalhou ironicamente. A menina era inocente demais para sequer pensar em algo assim — Não tente enfiar minhocas na minha cabeça, eu não sou inconsequente como você.
- E eu não sou tapada como você! — Deu um leve tapa em sua testa — Kiara, quantas vidas você tem? Uma, não é? — Falou — Então viva. Você é talentosa, você é incrível. — Pausou e abraçou os ombros de sua amiga — Viva seu sonho. Eu acredito em você, menina.

I saw the dangerous in your eyes - Imagine Onde histórias criam vida. Descubra agora