Santuário

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Caminhando sozinho eu procuro seu sorriso, mas não o encontro, nunca o havia encontrado de fato. 
Eu somente encontrava o vazio existencial, eu encontrava meu coração quebrado, eu encontrava mágoas, eu encontrava tudo o que não queria encontrar. Eu estava constituído de uma série de rejeitos do meu próprio inconsciente clamando por salvação. 

Sem salvação!

Meu coração era como grito de agonia perto da morte, era como o medo iminente ao encontrar o suicídio. Eu procurei olhares, timbres e sorrisos para preencher esse pote vazio que sou, mas não sou nada, não sou nada, nada além de nada. 
Socos batem em meu peito dizendo que preciso sobreviver, preciso vencer, preciso procurar aceitação e preenchimento em um abismo vazio e infinito.
Meus anseios são como uivos perdidos na escuridão, clamando pelo fim da existência monótona e insignificante e, ao mesmo tempo, declarando todo o amor que tem por viver em um mundo repleto de belezas únicas e especiais.

Belezas vazias!

O destino foi capaz de me trazer preenchimento, o amor por você, o amor pela vida, o amor que eu procurava, mas será que era amor?
Eu não sabia se você era quem eu tinha escolhido por toda uma vida, eu apenas me preenchia com o seu ser perfeito e especial refletido em mim, assim como a lua reflete a luz do sol.

Luz desnecessária!

Me perdi em tantos sentimentos e não notei que você também buscava preenchimento, mas quem era você?
O amor verdadeiro? Que preenchia minha existência, mas ao mesmo tempo procurava ser preenchido?
Um amor temporário? Que estava ali apenas para me mostrar que os prazeres são passageiros e que a dor é sempre quem nos acompanha?
Sendo pisoteado por mamutes e mordido por leões eu tive que entender que procurar algo que nos completasse não era amor, era ilusão, era dependência. Amor é transbordar juntos a ponto de encher todo o rio nilo.

Hórus vivo!

Você tinha soberania sobre mim e eu era sua esfinge perdida no deserto, no Egito. Não só no Egito, mas perdido em tudo o que existia ao redor de mim e do meu ser esquisito.
Eu quero um beijo, um beijo de despedida. Vida beije-me e me entregue a morte. Carinho beije-me e me entregue a solidão.
Arraste-me pelas suas ruas de pureza, me tranque dentro da igreja e me exorcize, me arranque desse pecado. O pecado de fingir amar-te demasiadamente, sendo que queria apenas ser preenchido. 

Arraste-me em seu santuário!

Santuário que também anseia preenchimento , baby o santuário é você, eu sou visitante que se ajoelha perante a ti e você acredita que sempre estarei ali, mas logo me vou.
Me vou com meus pecados, pecados que me impedem de te amar, que me impedem de te preencher. 

Santuário, eu preciso ir agora, eu sou vazio demais para preencher você!

Palavras não ditasOnde histórias criam vida. Descubra agora