Cheguei com as mãos suando e cãibra nos pés. Havia passado no banco antes, como forma de me preparar para minha confissão, minha segunda confissão dessa vez. Parecia que quanto mais eu falava desse assunto mais ficava fácil, podia só parecer também.
Minha pressão acabou caindo antes de eu chegar na porta do local, então parei na padaria e comi, não resisti e comi, um quibe, uma bomba de chocolate e uma Coca. Tudo isso me fez sentir culpada, mas eu senti que não seria assim, não mais, ou pelo menos não deveria ser.
Eu parei de contar as calorias que eu ingeria há uns 3 dias, era angustiante não saber quanto eu estava comendo, era angustiante não saber se eu estava passando ou não das calorias, se eu estava me exercitando o suficiente para compensar e se eu estava bebendo os litros de água necessários para não comer.
Tomei coragem e entrei. Levei logo um elogio da psicóloga de que estava mais magra, mal sabia ela de que esse era o problema. Me sentei e começamos a consulta. Falamos dos remédios, da casa, da minha relação com minha mãe, com meu namorado, da minha depressão, até que tomei coragem e contei. Contei tudo de uma vez só, desde os meus 10 anos, da bulimia, da anorexia, da negação de que era apenas um estilo de vida, de que era apenas uma ajuda para emagrecer e de que eu tinha o controle, tudo, tudo, tudo, e então, o silêncio.
E ela me pergunta, de onde isso veio, de que trauma de infância, de onde? Acho que desde sempre, as magras sempre são escolhidas primeiro, sempre são as mais bonitas, sempre são as mais felizes, as mais ricas, as mais tudo... Quando você vê uma gorda em um filme? Em um papel de comédia, sendo ridicularizada, você quer ser essa pessoa? Você não quer.
Depois disso entramos na questão da angustia, como é você comer quase nada em um dia e no outro comer a casa inteira porque teve compulsão. É uma relação muito desajeitada com a comida e isso gera muita tristeza, você se sente bem porque preencheu seu vazio com a comida mas se sente mal porque comeu, e então toma laxantes, faz exercícios ou vomita. Ou você compensa, fica o outro dia inteiro sem comer, apenas para ter mais uma compulsão, é um ciclo vicioso que te suga e você apenas não consegue escapar.
E então, finalmente, entramos na questão final. Você fica tão focada em emagrecer, tão sugada por aquilo, aquilo toma tanto tempo da sua vida e você pensa tanto, tanto, tanto naquilo, que não sobra mais nada. Você não sai, porque corre risco de comer, você não faz mais seus hobbies porque tem que contar as calorias, você não conversa com suas amigas porque você tem que socializar com o grupo de anorexia e bulimia, você se perde aos poucos e no final só sobra aquilo que te liga à anorexia e à bulimia, se sobrou a dança é porque ela gasta calorias, não porque você tá pensando nela como uma atividade legal. No meu caso eu perdi tudo. Eu gostava de pintar, escrever, desenhar, ouvir música... A única coisa que restou pra mim foram as músicas, e músicas que incentivavam a ser magra, a malhar, ou falavam de anorexia. No fim eu perdi tudo.
Bom, depois dessa longa conversa a psicóloga me passou como "dever de casa" voltar a fazer as coisas que eu gosto, então eu... voltei a escrever, e você pode conferir no meu perfil o que eu escrevo pra me distrair da anorexia e voltar a descobrir quem eu sou.
Só pra encerrar, no final desse dia não teve nada demais, eu visitei minha avó, entreguei algumas coisas pra ela e voltei pra casa.
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Aprendendo a se amar
RandomUma luta diária contra meus transtornos psiquiátricos, principalmente a anorexia nervosa e a bulimia. É um diário, uma confissão, postarei diariamente.