♒ MERMAID ♒ || h.s.

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2º Capítulo

Deslisei o meu corpo pela rocha abaixo e nadei o mais depressa que consegui até ao meu quarto. Deitei-me na minha concha coberta de esponjas e chorei. Chorei sem lágrimas, pois estas misturavam-se com a água que me rodeava. Levei as minhas unhas á cauda e espetei-as. Um fino fio de sangue envolveu-se com a água.

“Luna?” Bateram á porta.

“Sim?” Respondi, com a voz mais normal que conseguia.

“É a Renee. Posso?”

“Sim, claro.” Deixei de me preocupar com a minha voz.

“O que se passou?”

“Foi ele. Ele viu-me.” Confessei, voltando a soluçar sonoramente.

“E estás triste?” Ela cerrou os olhos.

“Não. Quer dizer… Sim, estou triste por não poder falar com ele.” Funguei. “Tenho saudades.”

“Sabes que se quiseres ir lá para cima, é só pedir ao meu pai para te dar pernas.”

“Mas é esse o problema. Eu quero ir, mas não quero. Não te quero deixar aqui. Quero que venhas comigo.” Confessei.

“Eu também quero ir, mas o meu pai nunca iria permitir.”

“Já alguma vez lhe pediste?” Arqueei as sobrancelhas.

“Não…”

Suspirei, mais uma vez. Levei as mãos á cara, tentando pensar um pouco.

“Amanhã falamos, está bem?” Acabei por dizer.

Ela deu um pequeno aceno de cabeça e saiu para o seu quarto. Saí do meu quarto pela janela e olhei para cima enquanto flutuava. Olhei o céu escuro sobre a tona da água. Grunhi em frustração.

Fechei um pouco os olhos e voltei a suspirar. A minha cauda movia-se automaticamente para a baía. A minha mente não acompanhava o meu corpo. A minha cabeça saiu da água e eu visualizei a praia. E lá estava ele, sentando, com os joelhos ao peito, fitando o mar.  Fitando-me.

Voltei a mergulhar, e nadei silenciosamente até á rocha. Não sei o que me deu para estar aqui, mas aqui estou.

“Luna...” ele soluçava.

A sua voz, as lágrimas… Só me apetece ir lá e limpá-las.

“Eu... Eu sei que não estás morta como dizem. Eu acredito em ti, eu acredito que me estás a ouvir.” Ele olhava agora para a lua.

“Harry.” Lágrimas corriam pela minha cara.

“Luna?” Ele levantou-se num salto e começou a andar na minha direção.

“Não te aproximes.” Pedi, num sussurro.

“És mesmo tu?” Harry pergunta, mas não me consegue ver. É como se estivesse a falar para o vento.

“Não te aproximes.” Repeti.

“Porquê? Luna, eu quero ver-te. Onde estás?”

“Harry, vai para casa.”

“Não vou sem ti.” Ele cruzou os seus braços e sentou-se numa rocha perto da minha.

Dei uma gargalhada baixa.

“Harry, eu estou em casa. Eu vivo noutro lugar agora.” Confessei.

“Então deixa-me ir contigo.”

“Não irias chegar lá vivo.” Baixei a cabeça.

“Apanhei-te.” Os seus olhos verdes estavam agora em frente aos meus. “Estás dentro de água? Credo, não tens frio?”