O vento gélido da madrugada atingiu suavemente a face de Maria Marta.
A mulher nem sequer piscou,e se de fato o fizera não poderia ter percebido. Estava muito concentrada no objeto que segurava em suas mãos tremulas.
A imperatriz era uma mulher forte, não era fria - como Zé Alfredo tanto a definia - nem mesmo interesseira. Só era pratica e eficaz. O fato dela não perder tempo com frivolidades patéticas do cotidiano - como algumas ruivinhas água de salsicha por ai - a tornava muito desagradável para pessoas desocupadas, em especial Zé Alfredo.
Antigamente, seu primogênito - José Pedro - era o único que a protegia e defendia - mais por medo da fúria da Imperatriz do que por cumplicidade - dos outros. Maria Clara era capacho do Comendador e João Lucas era um moleque,não queria nada na vida.
Mas isso era passado. Agora era o que importava.
Maria Clara - após inúmeras indas e vindas com Vicente - estava solteira e,no momento,se encontrava na França,de ferias com um renomado chef de cozinha chamado Javier DuPres, para o gosto da mulher de infames olhos azuis.
Joao Lucas, por outro lado, se tornou um homem decente, sério e competente. Com o que ele e a esposa Eduarda chamavam de "lekinhos", a vida seguia feliz. Martinha e Alfredinho contavam dois anos de idade, e estavam tao serelepes quanto qualquer outra criança dessa idade. Eduarda continuava com os cabelos vermelhos como fogo, exceto por alguns fios nas pontas que estavam pretos.
José Pedro, porém, não teve a mesma sorte e, num fatídico dia de novembro, precisamente as 17:00h da tarde, sofreu um acidente de carro. Morreu antes mesmo de chegar ao hospital. Pelo o que se soube, ele estava discutindo com Danielle pelo telefone.
A perda do filho mais velho foi um choque para a família Imperial, em especial para Marta. Com a falta do filho,ela se deligou de suas emoções de uma vez. Nem Zé,nem Clara e nem Silviano conseguiam atingir Marta. Ela simplesmente perdera sua capacidade de sentir.
Agora, quando os primeiros raios de sol começaram a surgir lentamente no horizonte, Marta se posicionava próxima ao tumulo de seu filho, suspirando suavemente.Primeiro o Zé, depois o Pedro? Disse um voz interna no canto de sua mente. Arqueando suas sobrancelhas, Marta disse suavemente
"Se pelo menos o Zé Pedro voltasse também...."Já se passaram quase 10 meses desde que José Alfredo tinha voltado de sua "morte" e ele continuava a infernizar a vida de Marta. Por que tudo não poderia ser tao simples como antes? Quando eles passeavam por Paris, Londres, Itália... Era tudo tao bom...
Ela ainda podia se lembrar do ultimo verão que passaram juntos, antes de terem as crianças. As caminhadas ao longo do Sena, os risos na chuva de Londres, eram memorias que ficavam em sua mente e se recusavam a sair.
Marta podia se lembrar bem, de tudo....Dos restaurantes em Paris, dos passeios à Notre Dame...Tudo,mas em especial quando eles se sentavam na grama, perto da torre Eiffel. Ela se sentia muito feliz por ter encontrado José Alfredo que, apesar de bronco e durão, se tornou o amor de sua vida. Já no hotel, após o jantar, houve uma noite na qual um bolero em especial começou a tocar e Marta teve a brilhante ideia de ensinar Zé a dançar. Depois de quase decepar um dos dedos de Marta, Zé finalmente aprendeu a dançar acompanhando algumas notas.Eles dançavam lentamente,como se fosse a ultima dança deles. Talvez fosse.E então vieram os filhos, os anos passaram, a empresa cresceu e vieram tantos outros problemas que ela nem podia se lembrar direito. Obviamente, Zé ficou entediado e, para se divertir, arranjou amantes. Ela não se importava, contanto que essas rameiras não interferissem em sua vida e de sua família.
O que não foi o caso da Ísis.
Por um lado, ela até compreendia Zé Alfredo. Um homem rico,poderoso, que já estava com inúmeros fios brancos e era rabugento, precisava de alguma diversão. Talvez tendo uma criança como amante o ajudasse a se sentir mais jovem? Fazia-o se sentir imortal, já que ele "morria" de medo de morrer. Seria patético se não fosse trágico...
E mesmo assim, apesar de todas as adversidades da vida, ela ainda se lembrava dos tempos de ouro, do ultimo verão que compartilharam juntos.
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Nosso Último Verão 「MALFRED」
RomansEm meio ao caos que sua vida se tornou, a imperatriz Maria Marta se lembra dos bons tempos que já não voltam mais...