Capítulo 04 - O segundo erro

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Dante

Helena acaba de virar a terceira dose de tequila como se estivesse bebendo água. Ela não parece uma mulher que costuma beber, deve ser por isso que seu rosto está rosado, denunciando o estado semiembriagado.

— Eu costumava ir a muitas festas quando entrei na faculdade... — Sua voz chega aos meus ouvidos, me deixando surpreso por ter tocado em um assunto tão seu comigo.

Aguardo uma continuação que não vem. Ela está concentrada em algum ponto fixo na prateleira de bebidas, com certeza lembrando-se do seu passado.

— Não consigo te imaginar sendo uma jovem inconsequente — tento brincar para quebrar o clima tenso.

Seus olhos se voltam para os meus e vejo arrependimento no fundo do azul límpido.

— Eu era. — Sorri. — Era livre, feliz, sonhadora... — Seguro a respiração diante da revelação.

Sua boca volta a frisar e aquela nuvem escura, que vi na noite em que a encontrei num dos bancos do parque, corre por suas feições. Helena guarda algo doloroso para si, isso está mais que evidente.

— Era? — não me contenho em perguntar.

— Sim, era. — Volta sua atenção para frente, sem dar uma explicação que possa justificar suas palavras.

Observo a agitação que acontece a nossa volta. A boate está a todo vapor, mas aqui onde estamos é possível se comunicar sem gritos. Arrasto a banqueta mais para perto.

— Por que era, Helena? — murmuro.

Mais uma vez, ela se vira na minha direção, seu rosto a centímetros do meu, sua respiração bate em meus lábios. Perto, perigosamente perto.

— Porque eu permiti que me tirassem a leveza, Dante. Fiz escolhas que pensei serem certas e estou tendo que colher os frutos. — Seus olhos marejam, é tão rápido que se não estivesse totalmente concentrado nela não teria notado.

Sem que eu perceba, minha mão se ergue e segura uma mecha do cabelo ruivo, lindo. Percebo que na presença da Helena não domo meus atos, não penso antes de fazer, minha mente simplesmente toma decisões sozinha.

— Ninguém pode tirar sua essência, ruiva — enfatizo, o apelido escapando sem obstáculos para impedi-lo. — Você pode ser o que quiser, basta se permitir.

— Não é tão fácil quanto parece, Dante.

— Então me explique.

Ficamos com o olhar trancado um no outro. Não a conheço há muito tempo, contudo, Helena é transparente o bastante para que eu saiba da sua luta contra a seriedade e a vontade de se abrir.

— Eu... — Sua postura vacila. — Preciso ir.

Fico sem reação quando ela levanta rapidamente e some entre a multidão, só saio do torpor quando o barman pergunta se quero mais um drinque, dispenso a proposta com um aceno e caminho atrás dos cabelos de fogo que se destacam entre a variedade de cores. Consigo alcançá-la no instante que sai pela porta.

— Helena, espere. — Seus ombros tremem por conta do vento gelado.

— Me deixe em paz, Dante! — Vira-se raivosa para mim. — Só quero ir para casa. Eu tenho uma filha, um marido... Droga! Já não chega o deslize que cometi com você? Hum? Eu não consigo ser assim, ok. Não dá para trair e depois deitar na cama como se nada tivesse acontecido — despeja entredentes.

Foi errado o que fizemos? Foi. Mas tem alguma coisa que não deixa a culpa se alojar na minha consciência.

Para ela é complicado, porque é ela que precisa lidar com a mentira, Dante. Não força. Esse é um ponto relevante.

MINHA PROMESSA É VOCÊ - LIVRO V (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora