AusênciaO céu hoje não brilha.
Não que ele tenha deixado de brilhar porque o esplendor que o compõe tenha se esvaecido. Seu brilho foi embora, pois, não o merecemos!
O céu que sobrepõe nossas cabeças, não passa de uma grande e bela dadiva. Iluminado com o preenchimento dos raios solares, e escuro com a ausência deles. Tudo é uma questão de equilíbrio afinal.
Em noites como esta, nada se compara ao sentimento de insignificância que compõe o interior de quem observa as constelações. Pequenos pontos brilhosos, emanando sua luz, enquanto também nos conta sua história, e perplexos, ficamos ineptos. O quão ridículo é a nossa mera existência.
Sobe a luz matutina, estranha é nossa compreensão sobre nosso próprio lugar neste mundo. Rodeado de astros, planetoides, meteoritos, estrelas e buracos negros que se saciam da luz viajante.
Quanta compreensão temos sobre este mundo afinal.
Os seres, que juntamente a nós, habitam este pequeno pedaço de terra e grandes porções de água, geralmente, apenas tentam sobreviver, e bem, nada mais natural. Infelizmente, entre tantas criaturas que residem neste mundo, também se inclui nestas a pior delas: nós, os Humanos.
O ser humano apenas ocupa sua atual posição na cadeia alimentar, por estar em constante evolução. Pelo menos em alguns conceitos, já em outros, não o precede. Lutamos por conforto, enquanto eles lutam por sobrevivência.
A verdade é que se os outros residentes da terra, tivessem a mínima noção de sua força, já seria o suficiente para começar o processo de erradicação de uma espécie tão ingrata e destrutiva como a nossa.
Destruímos mais do que criamos!
Em meio de pessoas como nós, a sua própria espécie, a sua inestimada prole, nada somos do que apenas mais um. Um novo número estatístico que perpetua mais um início, um que não importa o fim.
Somos especiais pelas lentes de uma câmera durante um discurso político, até que estoure uma guerra, neste caso, somos apenas mais um número novamente, mas desta vez, na lista de morte após um bombardeio.
Não que eu me veja como algo inútil, por contrário da visão de muitos, apenas me permito ver a verdade deste mundo.
— Inabitável
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Acordar se tornou difícil. Acordo com o sentimento de ausência, não de algo material ou de alguma pessoa que já não habita mais meu mundo privativo, mas de algo maior... mais simples.
Levanto-me após refletir sobre absolutamente nada, enquanto olhava para o teto. Nada. Não é uma questão de compreensão ou a falta dela, no fundo, creio que seja uma crença que se firmou na mais profunda dor que habita dentro de mim. Ninguém entende isso. Pelo menos não antes de passar por isso.
Assistir as pessoas se tornou algo angustiante. Me sinto no dever de produzir. Produzir relações e comunicações com outros, porque neste mundo, bem, só se pode estar notoriamente bem quando se tem um sorriso no rosto e diálogos constantes com todos. Nem pense em não se adequar aos seus critérios, porque sem esses padrões, você é apenas mais um que precisa de ajuda.
Você pensa que me entende, mas nunca enxergou meu sangue escorrer, e quando viu as marcas que o sangue derramado deixou, apenas se prestou a dizer:
"Não dá pra te entender, por que você faz isso? Pra que você que tanta atenção?"
Eu nunca quis atenção, só queria me sentir vivo!