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"E pra mim foi...foi como se eu fosse um barco afogando no meio de uma louca tempestade..."Digo encarando a mesa há minha frente. "Meu pai era tudo de ruim para os outros, mas pra mim ele nunca foi ruim. Até naquele momento, antes dele morrer, ele se desculpou."

"Então ele não era apenas presente na sua vida.."Diz a doutora Montgomery me encarando e eu confirmo.

Desde que tudo aconteceu á 3 dias atrás, eu tento me reconstruir. Contar para alguém estranho sobre tudo isso era á melhor forma de eu não enlouquecer. Já faz algumas horas que estou aqui na minha segunda sessão de terapia tentando ao máximo liberar tudo o que ela me pergunta, mas para mim, agora, isso era muito difícil!

"E eu me senti culpada..."Digo tentando segurar o choro.

"Você sabe que não é sua culpa."Diz ela com sua voz calma. "A perda de um ente querido é uma das situações mais difíceis que a vida pode trazer, então dê espaço para o luto na sua vida social, familiar, profissional e em outros campos, porquê é mais que um direito seu por perder seu pai. Isso é um dever humano que temos uns com os outros. O processo de luto é necessário para a reconstrução do lugar do sujeito que perde alguém. E como todos lidarão com perdas um dia, é importante que se construa um espaço coletivo que legitime o luto como um recurso de saúde não só para você, mas também para as pessoas ao seu redor. O processo de luto devolve a você a chance de uma nova história. Então, não se sinta culpada! Se permita sentir á dor de ter perdido ele para que você tenha essa reconstrução."Diz ela pegando sua prancheta e anota alguma coisa, balançando a perna. "Agora, me conte sobre sua mãe."Ela fala e meus olhos se direcionam para ela.

"Minha mãe..."Respiro fundo. "Isso pra mim ainda é novo."Digo e mordo os lábios vendo ela confirmar com a cabeça. "Ela é uma pessoa ótima."Digo pausadamente querendo ter certeza de tudo o que vou falar.

"Como você se sentiu quando conheceu ela?"Pergunta ela.

"Totalmente perdida!"Digo. "Ela estava morta para mim desde que me entendo por gente."Encaro o chão. "Nem em meus sonhos mais loucos eu imaginaria que ela estava viva."minha voz era baixa e eu tentava a todo custo me manter calma. "Todo o carinho que eu nunca recebi dela, ela está querendo devolver agora, mas pra mim ainda é confuso, entende?"Pergunto e a mulher confirma.

"Você deveria se permitir mais."Diz ela.

"Como assim?"Pergunto.

"Ela está querendo se aproximar de você, não está?"Ela pergunta e eu confirmo. "Assim como você teve uma perda, ela também teve, e conviveu com essa suposta perda, que é você, por 18 anos! Dê uma chance á ela, você não sabe as coisas que ela passou e nem ela sabe as coisas que você passou, com isso, vocês duas tem um vínculo que ninguém pode desatar, se você se permitir unir ele!" Ela fala e algumas lágrimas já descia dos meus olhos.

O alarme tocou avisando que o meu tempo já havia acabado e eu limpo o meu rosto levantando do sofá.

"Muito obrigada!"Agradeço á ela que estende sua mão para mim e eu aperto.

"Até á próxima sessão."Diz ela com um sorriso no rosto. "E não se esqueça sobre o quê a gente conversou. Conheça mais dela!"Eu confirmo e sorrio para ela me despedindo.

Ela me acompanha até a porta e eu saio da sala vendo Brian folhear uma revista que havia na recepção, onde ele tinha ficado me esperando. Seus olhos se encontram com os meus e ele deixa a revista de lado se levantando e vindo até a mim.

"Como foi?"pergunta ele e eu começo á andar ao seu lado saindo do consultório. Ele pega um guarda chuva que estava na porta e abre nos protegendo da chuva que caia.

Fetish | E.BOnde histórias criam vida. Descubra agora