"Quando três sementes nascerem da Grande Flor, a Dinastia dos Firenze chegará ao fim pelo fogo...".
Alexandra II, a Clarividente, pulou de supetão na cama de seu quarto, no Castelo Real de Therissa. Fazia anos, desde seu casamento, que ela não tinha uma premonição tão intensa assim e só de lembrar dela lhe trazia calafrios. Sua família havia lutado bravamente para defender aquela terra e seu povo na Grande Guerra, em que povos se uniram sob um único estandarte para defender algo que acreditavam ser justo, e, com a vitória, os aldeões haviam elegido sua tataravó, Selina Firenze, a primeira de seu nome e de sua linhagem, a Justa, como sua soberana.
Filha de camponeses, a vila da antepassada fora atacada e seus pais mortos diante dela, por conta de um soberano corrupto que lhes tirava toda chance de sobrevivência. Depois que mataram sua família, a moça foi violentada e deixada para morrer, mas isso não a impediu de juntar-se à Revolução que surgira por Illyria e lutar pela liberdade de seu povo. Selina se tornou a maior general e estrategista de guerra da história dos humanos. Sob sua liderança, ela transformou um movimento desconhecido e fraco em uma massa ameaçadora para os olhos do rei tirânico. Ela marchou sobre a capital com o apoio de elfos do norte e do sul, vencendo batalha atrás de batalha até alcançar o Castelo Real, onde cercou a cidade por mais de dois meses, extraviando carroças com comida que alimentavam o exército e tornando a água não potável. Quando finalmente Selina adentrou o palácio e a sala do trono, o rei se enforcara diante da cadeira de espaldar elevado e veludo roxo. Ele preferiu a morte a reconhecer sua derrota.
Anos haviam se passado desde então, e o reino apenas crescera e prosperara continuamente. Como a dinastia chegaria ao fim?
A família Firenze sempre se orgulhara de suas amazonas, e Alexandra não era diferente. Dotada do dom da clarividência e de grande beleza, a futura soberana trazia consigo todas as qualidades de suas antecessoras: justiça, generosidade, força e sabedoria, mesmo estando a jovem nos seus vinte e seis anos. Possuía longos cabelos louros como os raios do sol e olhos negros como a pena dos corvos, sagazes como de um felino. Mesmo com todas essas qualidades, ela era extremamente severa consigo mesma e pedia e exigia o mesmo dos outros ao seu redor, sendo vista como uma princesa rígida.
Sua família residia no Castelo Real havia cinco gerações, localizado na encosta de uma montanha cuja ponta era coberta de gelo eterno e cuja base era ocupada pelos aldeões e a natureza. O castelo se erguia com pedras tão brancas que reluziam quando os raios do sol as tocavam, como uma grande estrela. A edificação se mantinha firme e forte na encosta, e diziam que as pedras usadas foram retiradas de dentro da própria montanha e, logo, ela teria nascido da terra, como uma criatura. A construção era capaz de sobreviver às piores tempestades, guerras e aos verões mais quentes; quando era primavera, pequenas flores nasciam nas frestas do castelo, transformando aquele gigante num caleidoscópio de cores.
O único acréscimo feito após anos de existência fora uma cúpula de vitrais, encomendada pela antiga rainha aos elfos do sul, que eram capazes de usar as areias de seu reino para fazerem os mais belos vitrais de Illyria. Ele ficava no topo da construção, como uma abóbada, e, quando o sol batia, reluzia dentro do edifício, num show de cores e luz.
Os Firenze governaram pacificamente por todos esses anos, lutando em batalhas como último recurso, quando a diplomacia não funcionava mais. Era um reino vasto e próspero, sem quaisquer problemas além dos normais: tributos, colheita, proteção de fronteiras. Como eles poderiam perecer se estavam encerrados em bases tão sólidas por tanto tempo? Todos os amavam e os respeitavam, um ataque rebelde não era imaginável, muito menos um golpe de Estado.
Percebendo a inquietação da esposa, o príncipe se virou e tocou no ombro de Alexandra.
— Meu amor, por que não volta a dormir? É tarde.
Ela considerou por um momento. Não fazia sentido aquele tipo de aviso. A Grande Flor sempre dava uma única semente, gerada com o sangue dos genitores e seu poder interior, que era plantada ao lado da divindade, onde cresceria por três meses e de onde surgiria uma criança e futura sucessora. Sempre nasceram meninas e era somente uma única semente para se evitar rivalidades pelo trono. Todos os regentes de Therissa seguiam essa tradição e a Flor nunca mudara seu comportamento.
Alexandra voltou a se deitar no peito do seu marido. Era apenas um sonho bobo, nada mais.
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As Três Irmãs #ContestLetters
Fantasy(PRIMEIRA VERSÃO, NÃO REVISADA) O reino está em jogo. A coroa também. Uma profecia. Uma rainha. Três princesas. A quem cabe a coroa? Em quem confiar? "Aqueles que mais amamos, são os mais capazes de nos trair."