電話 | Telephone 📵

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— Felix, tome cuidado. Não abra a porta para ninguém, tudo bem? Estamos saindo.

— Pode deixar, mãe.

A progenitora carinhosamente depositou um beijo casto na testa do filho e se despediu com o pai, enquanto fechava a porta amadeirada com o garoto dentro.

Os pais combinaram de se divertirem em um baile para comemorar o aniversário de casamento; programa de casal.

O menino mal se importou com o fato de que não o convidaram. Afinal, o que, em uma festa somente para casais e velhos, faria um adolescente? Ele, certamente, morreria de tédio observando — solitário em uma mesa bebericando um copo de água com gás, diga-se de passagem — os pares dançando uma música que assemelhava-se mais à uma marcha fúnebre e contando histórias sobre o passado; assuntos que iam de "o quanto os filhos cresceram" até "os tempos de sua juventude".

Felix jogou-se sobre o estofado macio da poltrona, e agarrou seu celular, o seu fiel companheiro. Os fones de ouvido já encontravam-se devidamente encaixados em suas orelhas, berrando um som ardiloso e esganiçado, como se fosse uma melodia de ninar soando em seus ouvidos, enquanto lia alguma edição da revista em quadrinhos de Batman.

O som estava tão alto que mal ouviu o tintilar afobado do telefone fixo. Levantou-se bufando alto, acomodado demais para abandonar o conforto da poltrona.

O aparelho vermelho tremelicava com os toques em cima da mesa envernizada; era tão velho e rústico como a sua bisavó Gertrudes. Sua mãe insistia em usá-lo e afirmava que era a "relíquia da família". Por Deus, em pleno século XXI! Felix ainda acreditava que aquilo deveria ser doado ao museu. Ou à um caminhão de lixo.

Tirou o fone do gancho de plástico, pausando o som do celular.

— Olá — ouviu somente um arfar incessante no outro lado da linha.

— Quem é? — insistiu.

— Meu nome é Mão Sangrenta — a voz masculina pronunciou-se dentre grunhidos e um timbre sombrio.

— Hã? — a face do garoto retorceu-se em desconfiança. — Quem é você?

— Eu irei até ti. Estou na sua cidade.

As mãos do garoto levaram o telefone de volta ao gancho. Que diabos aconteceu? O jovem, desgostoso do possível trote, desligou-o imediatamente, não se rendendo às graças daquele homem.

O telefone tocou novamente.
— Alô — sua voz já demonstrava impaciência.

— Aqui é o Mão Sangrenta.

O telefone foi desligado novamente, bem na cara do ser que, logo após, ligou outra vez para o número.

— Dá pra parar de ligar para cá? Aqui não é a Casa da Mãe Joana. Vá passar trote para outra pessoa.

— Não desligaria de novo se fosse você, Felix.

Não entendendo o motivo pelo qual um arrepio subitamente tomou seu corpo ao ouvir seu nome na voz do cara que desejava anormalmente retomar o diálogo, encerrou a chamada; desta vez, com um receio inexplicável.

Quem seria o tal Mão Sangrenta?

Talvez um de seus colegas do colégio pregando-lhe uma peça ridícula. Esperou por alguns instantes, esperando por mais outra ligação impertinente, mas esta não veio. Estava certo sobre sua dedução.

Ou talvez não.

Espreguiçou-se sobre o sofá maior, ainda com aquela sensação estranha em seu interior. Imaginava que realmente seria um de seus colegas com quem havia tido uma discussão idiota e o indivíduo estaria vingando-se desta forma, assustando-o. Decerto, o garoto sentiu-se acuado por um par de momentos seguintes.

BLOODY HAND | lee felixOnde histórias criam vida. Descubra agora