Quatro anos atrás.
Lá estava eu, parada no altar, observando o amor da minha vida caminhar em minha direção. No entanto, ele não estava vindo para se casar comigo, mas sim com meu irmão. Ela o escolheu e eu não tive escolha a não ser aceitar. Afinal, quem não escolheria o belo e bem-sucedido Marcos? Enquanto eu mal tinha saído da adolescência, ela buscava a estabilidade que eu não poderia lhe oferecer, pelo menos não naquele momento. Ao olhar para o meu irmão, a inveja inevitavelmente me invade, pois ele venceu nessa disputa. Conhecemos Jullia ao mesmo tempo e provavelmente nos apaixonamos por ela ao mesmo tempo.
Marcos tem seis anos a mais do que eu, com seus 24 anos. Ele é alto, medindo 1,78m, cabelos castanhos quase loiros, olhos castanhos, corpo atlético, pele morena e um sorriso encantador, como se fosse de família. Por outro lado, embora não seja tão alta, com meus 1,67m, possuo cabelos bem pretos, olhos verdes, sou magra e tenho a pele clara. Hoje, porém, não tenho motivos para sorrir.
Alguém toca meu ombro e quando olho, vejo que é André, amigo em comum de Marcos e padrinho do casamento. Ele era um dos poucos que sabia de tudo o que aconteceu entre Marcos, Jullia e eu, além dos meus pais e mais três pessoas. (Afinal, para o meu pai, não seria adequado que as pessoas soubessem que sua filha era lésbica). André olha preocupado.
"Estou bem", sussurro, tentando transmitir uma tranquilidade que eu não possuía.
"Tem certeza?", ele pergunta no mesmo tom.
Assinto com a cabeça em afirmação. "Por que não estaria? É o casamento do meu irmão."
"Sim, mas ele está se casando com a mulher que você ama, e você está no altar como madrinha. Eu já teria saído correndo."
"Sim, mas foi ela quem o escolheu, e não há nada que eu possa fazer a respeito. Além disso, ele é meu irmão e precisa do meu apoio. E para completar, ela está grávida", desabafo, suspirando.
André me olha assustado, e não é para menos. Afinal, a informação da gravidez era nova até para mim, que fiquei sabendo pela manhã. Ele faz menção de dizer algo, mas somos interrompidos pelo pronunciamento do padre, e nos calamos. Isso é mais uma coisa que eu não poderia proporcionar a Jullia: um casamento diante de um padre. A cerimônia se arrasta tediosamente até chegar a hora dos votos, e agora sinto uma vontade imensa de sair correndo. Minhas pernas estão fracas, e não tenho certeza de quanto tempo consigo suportar segurar as lágrimas que não são de emoção por ver meu irmão se casar, mas sim por perder a única mulher que amei na vida. Finalmente, ocorre a troca de alianças, e tudo está acabado. Meu coração está despedaçado.
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Estou na festa de casamento, e todos estão felizes, exceto eu. Afinal, não há motivo para estar feliz. Provavelmente nunca mais amarei alguém na vida. Ok, posso estar sendo drástica, afinal, tenho apenas 18 anos e uma vida inteira pela frente. Mas Jullia foi meu primeiro amor, minha primeira vez. Namoramos em segredo por cerca de quatro meses, afinal, ela era três anos mais velha do que eu, e tínhamos o medo da rejeição da minha família. Além disso, eu era menor de idade na época. E, de repente, ela decide que não podemos seguir em frente, que não tem coragem de enfrentar as barreiras ao meu lado. Então meus pais me mandam para uma viagem de intercâmbio, e quando volto, seis meses depois, ela está com casamento marcado com meu irmão. Sim, isso me destruiu de uma forma que não consigo descrever. Eu sabia do amor de Marcos por ela e que ele aproveitaria minha ausência para se aproximar dela, e assim ele fez.
Afinal, o que eu poderia oferecer a ela se escolhesse ficar ao meu lado? Naquela época, eu não havia terminado o colégio e não sabia qual faculdade fazer. Enquanto isso, Marcos estava prestes a se formar em administração, com cargo na empresa de nossos pais, sendo o sucessor direto da presidência. Eu era apenas uma garota problemática. Eu tentei lutar por ela quando voltei, mas foi em vão. Ela já havia decidido, e agora, três meses após o meu retorno, estou aqui na recepção do casamento deles. Tudo o que desejo é sair correndo. Para acabar com todas as minhas esperanças, ela está grávida dele. Uma criança é um vínculo eterno. Estava distraída quando percebo que minha mãe está ao meu lado, e levo um pequeno susto.
"Poxa, mãe, a senhora me assustou", digo, fazendo um pequeno drama e levando a mão ao peito.
"Pare de drama, Nat", ela responde rindo.
Também solto um pequeno sorriso, o primeiro desde o início do dia.
"Como você está, minha menina?", ela pergunta preocupada.
"Estou bem, mãe", suspiro, "dentro do possível, né. Papai deve estar radiante."
"Sim, de fato, ele está. Eu também estou feliz, afinal, meu filho se casou hoje. Mas também estou preocupada com você, com o seu coração, minha pequena."
Sinto a sinceridade em suas palavras. Sempre fui mais próxima da minha mãe do que do meu pai, ela sempre me apoiava.
"Vou ficar bem, mãe, não se preocupe", digo sem muita certeza. "Só estou nervosa com o brinde. Papai disse que eu devo fazer um brinde aos noivos por ser madrinha, mesmo o Marcos dizendo que não era necessário."
"Às vezes, não entendo seu pai", ela suspira.
"Eu desisti de tentar entendê-lo de verdade. Não entendo essa diferença de tratamento que ele faz entre o Marcos e eu", desabafo, realmente chateada e um pouco embolada, pois estava bebendo desde que cheguei ali.
"E ele não faz diferença entre vocês, minha filha. Acho que você deveria parar de beber, meu anjo", ela diz, olhando para mim com preocupação.
Olho para ela de forma irônica, como se dissesse "sério, mãe?" Quando ia responder, escuto alguém me chamando e vejo que era meu pai.
"Venha cá, Natasha. É a sua vez de fazer um brinde aos noivos, querida", ele diz com um sorriso no rosto.
Vou em direção ao palco, quase caindo e sendo amparada por Lúcia, amiga de Jullia, que estava descendo do palco. Me posiciono em frente ao microfone, olhando para todos.
Até que vejo Jullia. Desde que cheguei à festa, é a primeira vez que olho para ela. Estava linda e assustada. Arrisco dizer que estava com medo. Sim, medo de que talvez a adolescente irresponsável estrague sua festa de casamento. Olho nos olhos dela e suspiro. Em seguida, olho para meu irmão. Ele está com uma expressão de "sinto muito por isso". Meu irmão sempre foi carinhoso e protetor, e eu o admirava. Mas agora ele roubou o meu amor. A verdade é que Marcos sempre foi fraco, então sempre fazia as vontades do nosso pai. Mas isso está prestes a mudar hoje.
Respiro fundo mais uma vez e começo o meu discurso, dizendo meias verdades sobre como Marcos é um cara incrível, como ele e Jullia combinam e o quanto estou feliz por eles. Digo outras bobagens que meu pai havia me instruído a falar. No final, olho diretamente para os dois e digo: "Eu amo vocês". E sim, essa parte é a mais pura verdade. Eu amo meu irmão, apesar de tudo, e amo Jullia. Provavelmente vou amá-los para sempre.
Saio do palco, indo em direção à saída. Minha mãe e André tentam me interceptar, mas não paro. Ouço meu pai e Marcos me chamando, mas começo a correr. Preciso sair dali o mais rápido possível. Também ouço Jullia me chamando. Olho para trás uma última vez antes de entrar no carro e vejo lágrimas em seus olhos. Mas já está feito. Ela está casada, e eu estou partindo, talvez para nunca mais voltar. Entro no carro e sigo em direção ao aeroporto. Não sei se é um adeus ou apenas um até logo, mas por enquanto isso basta para mim.
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Nossa História
Historia CortaNatasha tem seu coração destruido ao ver o amor da sua vida se casar com seu irmão mais velho. Numa tentativa de curar seu coração ou de fuga como preferir. Após quatro anos ela esta de volta e frente a frente com quem feriu seu coração. O tempo pas...