please, don't go

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PLEASE DON'T GO

Em meio a tempestade que quase aterrorizava a cidade de Alisvalley, uma garota de cabelo azul tomou sua bicicleta amarela e começou a pedalar o mais rápido que podia sob a chuva que não tinha dó de bater contra seu rosto e deixar sua visão quase completamente cega, mas estava determinada. Foi por essa determinação que a garota e a bicicleta foram lançados longe quando um carro os atingiu com precisão.
     Foi como estar flutuando em direção ao nada até que sons altos fizeram seus sentidos voltarem a funcionar repentinamente, seus olhos se abriram lentamente mas foram forçados a se fecharem quando uma luz forte apareceu de repente. Clary abriu seus olhos o mais devagar que podia tentando se acostumar com a claridade que surgia junto de vozes aleatórias, quando finalmente percebeu que podia enxergar e também ouvir, Clarisse Jones percebeu que estava em um quarto de hospital, seus pais e outras duas pessoas — desconhecidas até então — estavam de frente para ela. Seus pais pareciam cansados e tristes, uma visão que fez seu coração apertar momentaneamente.
     — Mãe… — tentou dizer, mas sua voz estava mais baixa do que esperava. — Mãe — chamou outra vez, só assim a mulher se virou para ela.
     — Clary — a mulher se aproximou da cama com um sorriso e tocou o cabelo azulado da filha. — Eu espero que você acorde logo, princesa.
     — O que? — Clary franziu a testa ao mesmo tempo querendo sorrir com a brincadeira. — Eu estou acordada...mãe?
     Mesmo estando muito próxima a mulher não ouviu o que ela estava dizendo, Clary a chamou diversas vezes mas a mulher não parecia dar a mínima atenção. 

     Juntando todas as forças que pôde encontrar, a garota sentou-se na cama devagar, esperando sentir alguma dor mas não sentiu nada além de frio. Escorregou para fora da cama e se aproximou da sua mãe tocando o ombro dela, mas mesmo com tal gesto a mulher sequer se mexeu, e quando tentou fazer outra vez, sua mão simplesmente a atravessou.
     — É uma coisa engraçada, atravessar as pessoas. — uma voz surgiu de repente, uma voz masculina que ela não se recordava de conhecer.
     No canto mais escuro do quarto de hospital, as sombras se transformaram até se tornarem uma silhueta masculina de olhos iluminados que pareceram sugar cada canto da sua alma.
     — Quem é você? — ela se voltou para ele sentindo-se um tanto intimidada pelo desconhecido.
     — Sou o que veio te mostrar o que aconteceu, sou um tipo de...guia.
     — Guia? Eu não preciso de guia, preciso entender por que minha mãe não me vê. — ela falou alto e rindo, no fundo se desesperando.
     — Sou um guia...espiritual? Odeio o tempo mas é o mais leigo que eu posso ser. — disse sério, olhando o nada como se já tivesse feito aquilo várias vezes. Clary gargalhou nervosa.
     — Então está tentando me converter para alguma religião?
     — Quase isso. — ele direcionou a cabeça para a cama que antes Clary estava e por impulso ela olhou na mesma direção percebendo que havia alguém deitado lá, alguém estranhamente parecido com ela.
     Clary se aproximou desacreditada, era completamente parecido com ela inclusive o cabelo azul e uma pequena cicatriz acima da sobrancelha. A garota se aproximou daquele corpo e tocou-o devagar, sua mão não o atravessou e sim repousou em uma pele gelada.
     — Não estou entendendo. — murmurou.
     — É por isso que eu estou aqui. No dia de ontem às 23:40 você sofreu um acidente durante uma tempestade que atingiu com brutalidade a cidade de Alisvalley. Você está morta, Clarisse.
     — Não estou morta, moço. Acho que estou bem viva na verdade.
     — Você tem razão, não está completamente morta, ainda está em coma, então eu só não diria que está bem viva. — ele deu de ombros enquanto se levantava. — Você pode me chamar de Dante.
     — Meu nome é Clarisse, mas acho que já sabe disso. — murmurou sentindo-se um tanto catatônica.
     — É um prazer, Clary. — Dante se pôs ao lado dela e apoiou os braços em si mesmo como se estivesse investigando algo. — Ela está bem pálida, não acha? Mais do que o normal.
     — Isso não pode estar acontecendo, isso é impossível, completamente impossível. — falou sozinha.
     — Você está olhando para você mesma em uma cama de hospital ligada a uma porrada de fios, todos da sala incluindo sua mãe não conseguem te ver, ainda é difícil mesmo entender?
     — Sim — respondeu curta e grossa, queria batê-lo com força, mas ao invés disso andou até a porta do quarto e correu para fora do lugar que havia começado a se tornar sufocante.
     Olhou ao redor procurando por alguém que a olhasse diretamente, mas todos corriam para lá e para cá sem notar que ela estava lá, tentou acenar e gritar mas foi em vão, se sentia pequena e o desespero tomou ainda mais conta de si. Dante estava parado a olhando, apesar de ter feito aquilo tantas vezes ele sabia que não era um dia normal, as reações delas eram vagas e frias quase como se soubesse que tudo é verdade mas se recusasse a acreditar. Depois de alguns momentos apenas olhando ela se desesperar, Dante se desencostou de onde estava e arrumou seu sobretudo escuro com graciosidade, foi quando Clary se voltou para ele com os olhos cheios de lágrimas prestes a cair.
     — Eu ainda tenho que fazer meu trabalho, se puder vir comigo, eu agradecerei. — ele estendeu a mão para ela e foram alguns segundos até que ela levasse sua mão até a dele. 
     Um vento forte soprou fazendo ela fechar os olhos imediatamente. Quando os abriu já não estava no mesmo lugar de antes e sim em uma outra ala do hospital, uma ala repleta de camas com paredes repletas de desenhos e balões coloridos com mensagens aparentemente para crianças. Clary havia notado que agora não vestia as normais roupas de hospital mas sim roupas que lembrava estar usando na noite em que saiu de bicicleta, mas se distraiu completamente com algumas crianças andando pelo lugar. Algumas sozinhas e outras com familiares às ajudando de alguma forma.
     — Todos os dias as pessoas morrem, sejam crianças, adultos ou idosos… — a voz do ceifeiro ao lado dela soou baixa. — E isso faz parte da ordem natural das coisas, tudo o que nasce morre uma hora ou outra.
     Ela percebeu que ele estava falando de uma criança específica, uma criança pequena, sem cabelos, com pele morena e olhos castanhos que estava em um quarto com grandes janelas de vidro. A garotinha havia acabado de levantar, mas seu corpo continuava na cama e um barulho constante entregava sua morte.
     — É assim que deve ser. — Dante murmurou e logo começou a andar pelo corredor.
     Antes de sumirem novamente, Clary viu uma mulher vestida completamente de branco passar por eles e dar um sorriso para ela. A mulher entrou no quarto da criança e a garota de cabelo azul não pôde ver o que ela iria fazer mesmo que no fundo já soubesse, seu coração apertou outra vez. Quando abriu seus olhos novamente estavam em um lugar aberto onde o vento batia com precisão, estava um pouco forte, fazia o cabelo dela voar e espalhava a fumaça do cigarro que Dante havia acabado de acender.
     — Não sabia que mortos fumavam. — ela soou irônica ignorando a sensação horrível se estendendo em seu peito.
     — Você sequer sabia que a vida após a morte existe, por que se questionaria isso? — Dante soprou a fumaça entre os lábios e olhou o céu.
     A garota sorriu com a idéia de um fantasma bad boy mas não conseguiu pensar nisso quando relembrou do que estava acontecendo. Sentiu seu corpo retrair e tremer ao que caiu de joelhos e o desespero invadiu cada pedaço do seu ser. O fantasma sentou-se ao lado dela e não fez nada além de continuar fumando seu cigarro olhando para o céu.
     Ela teve a sensação de estar caindo e sentindo uma dor que não é possível ser sentida porque não há dor na morte.
     — É engraçado que com o tempo você não se surpreende mais com as reações. — Dante falou baixo, jogando o que restava do cigarro. Clary ergueu o olhar para ele recuperando seu ar pouco a pouco. — As pessoas temem a morte como se ela fosse um monstro, quando na verdade ela é mais como...um amigo incompreendido.
     — O que você quer dizer?
     — A morte é o destino, por que chorar por ela se todos terão o mesmo final? — ela observou os olhos dele ficarem avermelhados durante alguns segundos e logo depois voltar ao normal, um tom castanho claro.
     Com um pouco de dificuldade a garota se jogou ao lado do fantasma e abraçou suas próprias pernas olhando para o chão, ele observou cada gesto que ela fazia e  sorriu pegando um outro cigarro. 
     — Eu posso ver o meu irmão?
     — Posso terminar meu cigarro?
     Quando Dante finalmente terminou aquele cigarro ele descartou o filtro inútil e arrumou a jaqueta antes de esticar a mão para Clary. Quando ela segurou a mão dele e abriu os olhos, estava em um quarto que conhecia muito bem, com pôsteres de filmes e times de futebol americano colados na parede, uma guitarra e um violão em um dos extremos do quarto e uma bagunça clássica de roupas limpas e sujas, o quarto do seu irmão mais velho.
     Antes que ela pudesse pensar em andar até algum lugar do cômodo, a porta do quarto foi aberta e seu irmão entrou com pressa, ela teve a esperança de que ele estivesse a enxergando, mas se decepcionou quando ele só andou até a cama e sentou com a cabeça apoiada nos braços.
     — Oliver? — ela quis que ele ouvisse, mas nada aconteceu e ele continuou da forma que estava, mas agora havia começado a chorar como uma criança desamparada.
     Clary andou até o irmão mais velho e se abaixou de frente a ele desejando poder abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem. O ceifeiro sentou em uma cadeira livre e esticou suas pernas sobre a cama, estava distraído com os pôsteres e sequer queria prestar atenção no que a garota estava fazendo.
     — Me desculpe por te deixar, Oli. — ela sussurrou.
     — Você morreu, Clary. Não o deixou, não queria morrer. — Dante murmurou, distraído.
     — Pare de dizer que eu estou morta, morrer é esvaecer no inferno ou no paraíso sem dor ou qualquer outra coisa! Mas eu estou aqui! Sentindo com cada pedaço da minha alma!
     — Faz parte da ingenuidade humana achar que o paraíso ou inferno realmente existem. É parte da natureza humana insistir naquilo que não entende, faz parte de ser humano ter medo daquilo de que não há certeza de existência.
     Dante estava gostando da confusão no olhar dela, era um misto de entendimento com dúvidas que deviam surgir em sua cabeça e ir para lá e para cá freneticamente.
     Ela já tinha entendido — ou aos poucos entendia — como parte daquilo funcionava, era mais simples do que imaginava não estar viva, conseguia fazer coisas específicas a partir do pensamento e quem não gostaria de fazer isso? 
     Clary havia passado alguns momentos sozinha de frente a um espelho olhando seu reflexo e criando roupas que ela acharia legal usar em um baile escolar.
     — E então? — ela andou até Dante com um sorriso confiante e deu uma voltinha rápida. — O que você achou?
     Dante sorriu a olhando de cima a baixo, estava usando um vestido totalmente preto e um pouco justo que se adaptou bem ao seu corpo com um tênis cano alto branco com uma estrela estampada. Ela havia deixado seu cabelo azul solto e ele estava inquieto como sempre costumava estar, com mechas rebeldes ocasionalmente caindo nos olhos ela.
     — Você está linda para um fantasma. — ele disse rindo e dando a mão para ela, que a segurou fechando os olhos.
     Clary olhou ao redor encantada, era um baile em uma escola desconhecida mas tudo estava incrivelmente bonito e arrumado no tema fundo do mar. Nunca gostou da idéia de bailes escolares, mas agora parecia uma criança em um parque de diversões.
     — Você já parou para pensar o que acontece quando está em um lugar onde as pessoas não te conhecem? — Dante perguntou enquanto andava até a mesa de bebidas.
     — Bem, ninguém sabe que eu sou, então.
     — Sim, esse é o ponto, se ninguém te conhece ninguém sabe que está morta. —  ele completou, olhando pacientemente para o copo em que uma garota colocava um ponche azul para ele.
     — Aqui está, você quer também? — ela sorriu simpática para Clary.
     — Não, obrigado…? — Clary murmurou confusa e seguiu o garoto até próximo a lista de dança. — Então as pessoas podem nos ver?
     — Nitidamente, mas não se apresente, pode ser meio perigoso.
     Clary olhou ao redor, estavam em um lugar cheio de adolescentes animados que dançavam ao som de uma música animada que ela não conseguia lembrar o nome, sentiu que tudo ficou mais lento quando lembrou que ela poderia ser um deles, poderia dançar a madrugada com seus amigos e encher a cara até de madrugada, mas agora estava morta. Olhar ao redor estava a deixando com um misto de energia onde parte de si queria correr e chorar mas a outra parte do queria dançar e foi essa que ela escolheu.
     (I Just) Died In Your Arms tocava alto e logo todos — com poucas exceções — estavam dançando de forma animada, Clary era um deles, dando risada de si mesma e percebendo que talvez estivesse fora do ritmo por estar muito animada. Era como vagar para o esquecimento, não sentir nada como não deveria estar mas ainda assim estar lá, Dante deixou o copo vermelho em um lugar qualquer e se juntou a garota de cabelo azul segurando suas mãos e a puxando para perto. Clary parou suas mãos nos ombros dele e automaticamente Dante segurou a cintura dela, olhando ao redor.
     — Não estamos no ritmo. — ela riu.
     — Eu sei que não.
     — Se você está aqui, significa que também morreu, não é? Tinha uma vida antes de tudo isso?
     — Sim, morava em outro país com meus pais e minha irmã mais nova, bom, as coisas não deram certo por lá e acabei me mudando várias vezes.
     — O que você fez?
     — Coisas erradas, trabalhava como detetive particular como meu pai mas mexi com algumas coisas que não deveria.
     — Matou alguém?
     — Sim, foi um acidente, mas nada é justo e acabei sendo morto.
     — Mas por que está sozinho? Você poderia estar com alguém, o alguém que ceifou ou alguma das suas almas, não é?
     — Eu morri sozinho, e permaneço assim desde então. — os olhos dele ficaram tristes por um breve momento, os olhos de alguém que guardava algo maior do que qualquer um podia imaginar.
     Clary sentiu um arrepio por seu corpo mas continuou como estava, fechou seus olhos e encostou sua testa no sobretudo frio. O cessar da música e um vento forte entregou que eles não estavam mais no baile. Quando ela ergueu o olhar viu que estavam em uma ponte, em cima de um grande pedaço de concreto, cerca de dois passos e alguém cairia em direção a água.
     — Por que aqui?
     — Eu gosto daqui. — ele deu de ombros e andou mais para a beirada olhando lá para baixo sem medo algum.
     Clary fez a mesma coisa que ele, mas seu corpo gelou com medo de que caísse, uma queda daquela altura a mataria — ironicamente falando.
     — O que acontece se eu cair?
     — Nada, você já está morta.  — o garoto sorriu para ela.
     Clary ficou de costas para a queda e posicionou seus pés na beirada, entrou em um meio termo para ter apoio sentindo como se seu coração estivesse bombeando forte, o que é impossível.
     — Eu vou ajudar. — Dante ficou de frente para ela e segurou sua mão.
     Com isso, Dante fez ela inclinar seu corpo para trás mas ele segurava sua mão impedindo que ela caísse. A garota fechou seus olhos e sentiu o vento balançar seu cabelo, era uma sensação estranha estar perto de cair de uma altura que a mataria sem dó, mas ainda assim estava disposta a fazer isso. O garoto vestido de preto observava cada reação vinda dela, ele olhou o céu e sorriu consigo mesmo quando soltou a mão dela e ela começou a cair em direção a água.
     Dante olhou para baixo uma última vez antes de ficar de costas para a queda e também se jogar, o céu cinza gritava seu nome.
     Agora estavam em um quarto antigo e um tanto velho, tinha cheiro de mofo e não estava muito bagunçado com a exceção de vários discos de vinil e fitas cassete espalhadas por todo o lugar. A porta do lugar se abriu rapidamente e alguém tombou para dentro do quarto, era alguém vestido com um sobretudo escuro e um cabelo bem bagunçado, ele tropeçou em direção a uma cadeira e tomou um gole de uma garrafa aleatória antes de acender um cigarro.
     — Esse é você? Também pode ir pro passado?
     — Sou eu, e não, isso é apenas uma lembrança, uma das lembranças que carregarei durante toda a minha existência. — Dante olhou para aquela versão dele jogada ali e fumando olhando para o nada.
     Uns minutos depois ele se levantou, foi até uma vitrola e colocou um dos discos que estava jogado, uma música antiga começou a tocar e ele voltou a se jogar na cadeira agarrando-se ao cigarro que a essa altura já estava próximo do fim.
    — A decadência de Dante Devil. — ele deu risada se encostando em algum lugar.
     — Devil? Dante Devil? Como o Diabo? — Clary não conseguiu conter uma risada irônica.
     — Minha família sempre foi cética com o assunto de religião, sempre acreditaram que o Diabo foi inventado para por medo mas pessoas e as influenciarem a ir para a igreja dar dinheiro a hierarquia.
     — Família legal, imagino. — a garota continuou olhando para o que estava sentado em uma cadeira, completamente entregue a melancolia.
     — Família complicada. Bem, ao menos eu morreria de uma forma ou de outra.
     — Como assim?
     — Se não tivesse sido assassinado teria morrido de alguma doença provavelmente nos pulmões.
     — Que triste, um lobo solitário.
     — Demônio.
     — Como?
     — É o título que eu recebo por uma vida miserável de assassinatos, nicotina e álcool.
     Clary olhou para ele na lembrança novamente, agora fumava um novo cigarro e lágrimas escorriam em seu rosto com seus olhos brilhando o ritmo da balada depressiva.
     — Temos que ir agora. — Dante se desencostou de onde estava e bagunçou seu cabelo numa tentativa de se recompor.
     — Para onde temos que ir?
     — Seu enterro, ele vai começar em alguns minutos. — esticou sua mão para ela.
     Clary aceitou sem hesitar, mas antes de aparecerem novamente em um outro lugar, Dante olhou para a lembrança e a amaldiçoou do futuro que se aproximava para ela. 
     A garota de cabelos azuis, vestida completamente de preto e usando um chapéu um pouco grande, estava de frente ao seu próprio caixão, contemplando de camarote as lágrimas das pessoas que supostamente a amam. Um padre havia começado um sermão e ela prestou atenção em cada palavra.
     — Você pode decidir o que acontece agora. — o demônio parou do lado dela. — Pode traçar seu novo caminho.
     — Então é a decisão final?
     — Tecnicamente sim.
     Clary voltou sua atenção para o sermão, ouviu o pastor falar seu discurso como se já tivesse repetido-o tantas vezes que não se preocupava se iria errar coisa alguma. Seus amigos estavam sentados mais atrás, cabisbaixos e quietos, diferente do que costumavam ser normalmente. Estava em um momento onde nada podia ser mudado, estava morta e a possibilidade de voltar atrás se tornou inexistente, a ordem natural estava se cumprindo. Ela se perdeu por um momento, viajou na idéia de vagar sozinha pelo nada, olhou o céu e logo começou a andar por um caminho que não sabia onde iria dar.
     Mas uma voz a impediu de ir.
     Dante tentava não pensar, tentou ignorar todas as vozes em sua cabeça que diziam que ele não precisava mais ficar sozinho, queria lutar contra isso com toda sua alma, mas só precisou de segundos para falar a decisão que mudaria todo seu rumo.
     — Clary? — Dante a chamou.
     — Sim? — ela se virou para o ceifeiro.
     — Por favor, não vá.
     Please, Don't Go, onde uma alma perdida e um demônio vagam no plano invisível.

Please, Don't GoOnde histórias criam vida. Descubra agora