Base Aérea de Hosley Inglaterra - Janeiro de 44

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Os pilotos estavam exaustos. As missões de escolta a bombardeiros da oitava força aérea americana utilizavam todas as esquadrilhas e os confrontos com os caças alemães aconteciam em todas as missões. A Luftwaffe tentava a todo custo deter os ataques, mas apesar de todos os esforços, eles aumentavam em proporção e intensidade.

As baixas ocorriam com frequência em ambos os lados.

Desde o incidente da prisão dos pilotos brasileiros, três pilotos ingleses, dois tchecos e um francês haviam perdido a vida nos combates. Em contrapartida, dez aviões alemães haviam sido abatidos.

Os pilotos brasileiros formavam a seção azul, tendo com líder o tenente Navarro e como Squadron Leader o Capitão Styler. Navarro tinha abatido um FW-190 D-9 e Félix um ME-109 G. Nos intervalos entre uma missão e outra, os pilotos costumavam frequentar dois lugares. Ou estavam nos hangares junto aos mecânicos ou na sala dos oficiais jogando pôquer. O Coronel Miller não tinha autorizado sua saída da base, mas os outros pilotos podiam sair nos dias de folga e perambular por Londres, indo a restaurantes, bares ou casas noturnas.

Mas apesar da proibição, eles não reclamavam da situação.

Eles dividiam uma barraca com mais dois pilotos tchecos e dois ingleses, que ficava próxima de onde os aviões estavam estacionados. Um dos pilotos ingleses, George Weine, costumava ler Shakespeare em baixo da asa de seu Spitfire e também costumava conversar com seu avião. Os pilotos achavam aquilo engraçado, mas ele não dava a mínima. Era um jovem loiro, magro, com o rosto coberto de sardas, tinha vinte e quatro anos, estava noivo e com ideia fixa de casar em breve.

Ele costumava conversar com Navarro com frequência e tinham feito uma sólida amizade.

Os pilotos voavam em condições climáticas muito ruins, e somente quando o tempo estava realmente péssimo as missões eram interrompidas. Antes de cada missão os pilotos faziam uma refeição leve, e o cardápio variava entre purês de bata, salame, ovos mexidos, torradas ou sopa de legumes com pedaços de frango.

Nessas ocasiões havia pouca conversa entre eles. Alguns se entreolham sem dizer uma palavra, porque sabiam que aquele poderia ser seu último olhar.

A decolagem movimentava toda a base. Os pilotos corriam para seus aviões, verificavam os instrumentos, o motor, o combustível, as armas. Tudo devia estar em ordem. Um rápido aceno dos mecânicos, desejando boa sorte. Bandeiras eram agitadas próximo à torre de comando, e sinais luminosos ganhavam o céu, autorizando a decolagem. Os Spits decolavam sempre dois a dois. Era necessário que as seções se agrupassem, o que demorava cerca de quinze minutos, em seguida, rumavam em direção à costa francesa. A torre de comando realizava a correção da rota para o encontro dos bombardeiros que estavam retornando de uma missão, e era nesse momento que os caças alemães apareciam. Os pilotos procuravam uma melhor posição, de preferência com o sol a suas costas, mas nem sempre isso era possível. O combate era rápido e intenso. Frases de alerta, o som dos canhões, gritos de agonia ou euforia eram transmitidos pelos microfones instalados nos capacetes.

Após o confronto, os pilotos iniciavam o retorno à base. As aeronaves que apresentavam problemas pousavam em pistas alternativas estrategicamente construídas na costa inglesa.

Quando um piloto não retornava, a tristeza era compartilhada por todos e uma rodada de bebida era servida em sua homenagem no salão dos oficiais.

Os pilotos estavam todos reunidos para receber as instruções e estavam agitados com as últimas notícias. Alguns pilotos afirmavam que todos os boatos não passavam de um blefe alemão, mas outros acreditavam que as histórias tinham um fundo de verdade. Os alemães estariam construindo bases na costa francesa para o lançamento de artefatos com alto poder de destruição, com capacidade inclusive para atingir Londres.

O Último Inimigo - II ParteOnde histórias criam vida. Descubra agora