Unidade de Elite

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O último dos cinco canhões de 150 mm explodiu junto com as caixas de munição que estavam próximas, e uma bola de fogo azulada elevou-se, iluminando e aquecendo a madrugada úmida e gelada. Pedaços de metal e concreto da casamata que servia de proteção voaram na direção das nuvens pesadas e escuras, para em seguida, desceram atingindo a terra encharcada e as copas das árvores que estavam próximas. Dois caminhões carregados com munição, ocultos por uma rede de camuflagem também explodiram.

Os incêndios iluminaram a escuridão da noite, mostrando as trincheiras dispostas em semicírculo, os sacos de areia e as crateras abertas pelo último bombardeio que havia tentado destruir aquele lugar.

Os vultos se moveram aproveitando a escuridão que as chamas não conseguiam alcançar e se aproximavam com cautela do centro de artilharia, sem fazer o menor ruído, como se pertencessem à escuridão e pudessem retornar para ela assim que desejassem.

O homem que liderava aquela unidade se movia devagar, em meio aos escombros, atento a qualquer movimento. Ele era alto, segurava um fuzil de assalto, tinha o rosto pintado e usava uma roupa de combate noturna. Procurou o inimigo com os seus óculos de visão noturna com os quais realizava a captura de fótons por meio da lente objetiva, passando por um tubo de intensificação com uma tensão de 5 mil volts, transformando os fótons em elétrons amplificados por uma placa eletrônica de microcanais e, finalmente, apresentados em uma tela de fósforo verde. Levantou os óculos para não ficar cego pela claridade provocada pelas chamas do que restara de um dos caminhões e examinou as trincheiras à procura do inimigo.

Não havia nenhum movimento. Ele abaixou os óculos de visão noturna e entrou na trincheira. Havia uma grossa camada de lama e ele caminhou com cuidado em cima de alguns troncos colocados no fundo para não encharcarem as botas ou atolar-se na lama.

Então a chuva veio, leve e depois aumentando até ficar torrencial. Ele se aproximou das estruturas que abrigavam os canhões. Os canos das armas de grosso calibre, aquecidos pelas chamas, chiavam ao receber a chuva fria.

Ele parou atrás de uma estrutura de concreto semidestruída, observou seus homens entrarem nas trincheiras, chegarem nos bunkers e, após examiná-los, sinalizaram que não haviam encontrado nenhum soldado inimigo. O líder da unidade saiu da trincheira e entrou no bunker à sua frente. Caminhou por um corredor, parou junto à grossa parede de concreto e entrou na sala pronto para disparar, mas não havia ninguém, apenas destroços do que fora uma mesa, algumas cadeiras e um armário de metal. Havia um quadro na parede com uns mapas da região onde estavam, com alguns círculos pintados em vermelho e azul. Ele se aproximou, pegou o mapa e o guardou dentro da jaqueta. Examinou o grande canhão destruído e procurou em vão por algum objeto de valor. Depois saiu daquele local por um buraco no concreto e sinalizou para um dos seus homens, que entrou em uma trincheira, correu por uma dezena de metros e, colocando a mão na borda do buraco, saltou com agilidade ao seu lado.

— E então?

— Nada, Senhor, não encontramos ninguém. Os bunkers estão vazios, não há nada além de armários, algumas mesas e camas destruídas. Encontramos alguns mapas com prováveis posições de tropas. — e sorriu. — Mas duvido que as marcações sejam verdadeiras.

— Vamos levá-los para o pessoal da inteligência. Nós fazemos a nossa parte e eles fazem a deles.

— Sim, senhor.

— O que o senhor acha que aconteceu aqui?

— Eles colocaram explosivos nos canhões e abandonaram o local um pouco antes de chegarmos. Não foi uma retirada apressada, esse local é estratégico e estava defendendo uma ponte que os nossos rapazes estão tentando conquistar há algum tempo e com esse lugar eles conseguiram deter três ofensivas feitas pelo nosso Exército.

— Então por quê abandoná-lo?

— Eu não faço a menor ideia, senhor. Será que é porque vai haver mesmo uma trégua?

O líder da unidade soltou um grunhido.

— Faz algumas semanas que estão dizendo isso, mas até agora não aconteceu nada. Talvez seja um presente para nós, Pedro – disse dando um tapa em seu ombro — Chame Barcelos, mande-o avisar o Centro de Operações que cumprimos nossa missão e solicite uma carona para nós.

— Sim, senhor.

Pedro acenou para um dos homens que tinha um rádio nas costas, indicando um local junto a um muro feito de sacos de areia e então eles se moveram com cautela naquela direção, sabendo que estavam atrás das linhas inimigas e o inimigo poderia estar oculto, pronto para atacar.

O Capitão ficou olhando para os dois homens abaixados. Um deles retirou o rádio que carregava nas costas e começou a fazer contanto com o Centro de Operações. Ele olhou ao redor, para os outros comandos quando ouviu um zunido distante que foi aumentando acima do barulho da chuva e então surgiu uma explosão no local onde estavam Pedro e Barcelos. Os corpos desapareceram e, no local onde estavam, havia apenas um grande buraco. As bombas foram caindo em vários lugares. Ele viu o comando Vargas tentar se proteger dentro de um ninho de metralhadora, mas a chuva de estilhaços desmembrou seus braços e pernas como se ele fosse um boneco de pano. Dois outros comandos tentaram se abrigar em um bunker, mas uma bomba de napalm atingiu o lugar, atravessando o teto destruído e transformando o seu interior em um mar de fogo, e os dois homens, com os corpos em chamas, saíram do bunker como tochas humanas. Um deles caiu de joelhos, pegou a pistola que tinha presa em um coldre na axila e deu um tiro na cabeça. O outro caiu em uma poça de água e ficou se debatendo tentando apagar as chamas que consumiam o seu corpo.

— Maldição!

O Capitão correu para se proteger, mas uma bomba de fragmentação caiu a poucos metros de onde ele estava e a explosão o atirou para dentro buraco de onde ele havia saído alguns instantes atrás.

As explosões cessaram e as chamas que iluminavam os corpos despedaçados e carbonizados da unidade de elite passaram a lutar contra a chuva.

Havia uma colina coberta por uma floresta de árvores com copas altas. Um comando se aproximava furtivamente observando com atenção o cenário a sua frente. Ele segurava uma submetralhadora compacta nas mãos e carregava um iluminador laser a tiracolo. Observou o cenário a sua frente com os óculos de visão noturna e se moveu com cautela por entre os destroços sob a forte chuva, com o cuidado de se proteger na escuridão e examinou os corpos, mas o bombardeio havia sido devastador.

Não havia nenhum sobrevivente.

O comando se aproximou do bunker para onde o Capitão havia sido atirado pela explosão do bombardeio, colocou o dedo no gatilho e entrou sem fazer nenhum ruído. Do lado de fora, a chuva caía sem trégua e lutava para apagar as chamas.

Então, nas paredes do bunker destruído, surgiu a claridade do disparo de uma arma e o estampido ecoou pela floresta.

Dois dias depois, o armistício foi declarado, cessando todos os combates.

As negociações tiveram êxito e um tratado de paz foi assinado, terminando uma guerra que havia durado três longos anos. Os soldados voltaram para casa, para suas famílias e para recomeçarem suas vidas.

A guerra havia acabado.

Mas essa história estava apenas começando. 

Segredos de GuerraWhere stories live. Discover now