PRÓLOGO - AKADEMIK OKEAN

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As cartas náuticas estavam espalhadas pela mesa de trabalho junto com os mapas meteorológicos e outros documentos importantes que continham valiosas informações esperando para serem devidamente colhidas e interpretadas, e junto delas, um teclado parcialmente escondido pelas folhas de papel, cujos fios se ligavam aos computadores de bordo que mostravam em seus monitores as informações obtidas pelos anemômetros, barômetros e termômetros instalados no navio de pesquisa russo Akademik Okean.

O casco de aço pintado de azul sustentava os dois andares de cabines divididas entre dormitórios da tripulação e os laboratórios. Acima de todo o resto um conjunto de três antenas de 8 metros de altura e, na popa, um grande guindaste se erguia acima de todo o resto, geralmente era utilizado para içar pequenos submarinos ou outros aparelhos que precisassem mergulhar.

Apesar de ser muito excitante estudar meteorologia a bordo de um navio de pesquisa, todas aquelas horas de trabalho somadas ao balançar constante da embarcação em movimento tornavam o tempo do Dr. Yerik Evanoff cada vez mais maçante e cansativo, e depois de quase um mês naquele regime de pesquisa enclausurada e flutuante, era como se cada minuto durasse várias horas – e não poderia ser diferente, já que seus superiores na universidade haviam sido muito específicos no que diz respeito à duração da viagem de pesquisa, e eles, por sua vez, eram constantemente pressionados pelos patrocinadores, já que cada dia naquela embarcação custavam alguns milhares de dólares.

O Dr. Yerik viu sua mesa mergulhada em um caos de folhas de papel, marcadores coloridos, algumas migalhas de pão e uma xícara de chá de menta que esfriara havia vários minutos, e então pensou que um breve descanso serviria bem para sua saúde mental (seu principal instrumento de trabalho) cada dia mais ameaçada pelo desconforto daquele navio. Se levantou de sua cadeira, retirou seu pesado agasalho térmico de plástico e borracha, colocou seu chapéu de pelos castanhos e abriu a escotilha de sua cabine. Imediatamente teve que fechar os olhos, já que eles haviam recebido uma quantidade de luz a que não estavam muito habituados – passara as últimas doze horas trabalhando sob a luz da lâmpada de sua cabine. Saiu para o convés com os olhos semicerrados como uma criatura que acabara de sair da caverna onde estivera escondida havia séculos.

Finalmente abriu os olhos depois que eles já haviam se acostumado e ficou apoiado na grade da borda do navio, contemplando a excêntrica geografia da Antártida logo à sua frente, branca, fria, bela e inóspita, a algumas poucas centenas de metros.

Olhou para baixo e pôde ver águas tão cristalinas que provavelmente, pensou, nunca mais veria algo igual na natureza, tanto no que dizia respeito à sua pureza quanto ao perigo que ela representava, já que suas temperaturas eram extremamente baixas. Mais adiante, viu pequenas ilhotas de gelo puro que se estendiam para cima em majstosos arcos e curvas que pareciam verdadeiras obras de arte esculpidas pela água e pelo vento. Mais ao longe pôde ver a costa, formada por rochas escuras quase completamente cobertas por grossas camadas de neve, que se estendiam pelo cenário como um manto cobrindo os muitos quilômetros daquele continente isolado, e para completar, acima de tudo um grande pico nevado que, apesar de estar muito distante em terra, era tão grande que dava a impressão de estar a apenas poucos metros.

Apesar de tudo Yerik gostava daquele lugar, era um cenário extremamente agradável, estava trabalhando em algo relevante dentro do universo da ciência atmosféricas e dentro de poucos dias a coleta de dados que resumia sua missão naquele inóspito lugar chegaria ao fim, e então ele poderia retornar à sua terra natal e concluir sua pesquisa. Quem sabe ganhar um prêmio ou dois.

Durante suas reflexões na borda da proa do navio, Dr. Yerik ouviu passos fortes e determinados em sua direção. Poderia reconhecer de longe a forma militar e determinada daquelas botas velhas que o capitão Bóris Russel usava no dia a dia do Okean.

A dimensãoWhere stories live. Discover now