II

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P.O.V Cassie

Segunda-feira

Encaro a tela do celular, marcando 05:41 da manhã, como todos os dias anteriores acordo antes do despertador. Me deito de barriga para cima, olhando detalhadamente cada rachadura do teto, cada canto com um pouco de mofo.
Moro num apartamento aconchegante, porém decadente. Ele se localiza distante do centro e perto de coisa alguma. A vizinhança é barulhenta, de três em três horas diariamente, os habitantes do andar de cima discutem, de dez em dez minutos no apartamento à frente, os gêmeos choram, são adoráveis, só não quando estão com fome, ou seja, sempre.
O toque do despertador preenche meus ouvidos, anunciando o momento de levantar, com uma certa urgência jogo os cobertores para o lado, clamando por um banho, para dissipar o sono, mesmo tendo acordado cedo e não dormido, continuo com um imenso sono.
Escolho a roupa do dia, me dirijo ao chuveiro, torcendo para que haja água quente ou ao menos morna. Aproveito os quatro segundos de água quente, para depois soltar gritinhos com uma mudança drástica de temperatura. O banho dura menos que um minuto, não quero correr o risco de pegar uma pneumonia em pleno verão.
Ligo a TV assim que chego na sala de estar, o noticiário da manhã relata que encontraram mais um corpo nas redondezas, talvez seja um Serial Killer, se tivermos sorte, mas com certeza no máximo e na pior das hipóteses um animal que veio procurar alimento na cidade, que se deparou com um humano saboroso, e decidiu brincar um pouco. Tá fui longe demais, e má também. Desculpa!
Pego uns cookies de chocolate, encho uma caneca de chá, abrindo a porta e iniciando mais um dia.
Como toda manhã sigo a pé até a biblioteca onde Lan trabalha, empurro as portas duplas da entrada com dificuldade, tentando equilibrar minha bolsa, a caneca e os cookies restantes. Passo pelas prateleiras, olhando do chão até o final delas, amo os livros, talvez eles sejam meu vício perfeito.

Eu: Oi, Lan!- o cumprimento quando me aproximo da sua mesa.
Lan: E aí Cassie, tudo bem?- sorri, desviando o olhar por um momento do computador.
Eu: Tudo, e você o que está aprontando?- tento ver o que tem na tela, mas ela é arrastada para o lado, sendo tirada do meu campo de visão.
Lan: Tô bem, e não estou aprontando nada. Essa parte é com você. - sorriu vitorioso.

Observo suas feições, que no momento ainda estão tranquilas. Fico na ponta dos pé, uma mania, olho ao redor apoiada na mesa, arrumo meu gorro antes de voltar minha visão ao ser estranhamente calmo na minha frente.

Eu: Quer cookies?- balancei o último na sua frente, recebo um negar de cabeça- E chá?- mexo as sobrancelhas para cima e para baixo com ar sorridente.
Lan: Você não vai deixar mais uma caneca na minha biblioteca né?- arqueou a sobrancelha, inclinado a cabeça na direção especialmente reservada para minhas canecas guardadas aqui.

Não tenho culpa se a biblioteca é o meio exato entre o hospital, meu apartamento e a facudade, fica mais fácil guardar aqui do que levar ela até o hospital.

Eu: Ah- encarei seus olhos. - Um dia, eu te garanto, vou levar todas elas para casa- disse convicta.
Lan: Contanto que você cumpra, deixa a caneca aí na mesa antes de sair- revirou os olhos.
Eu: Te amo viu?- beijei sua bochecha, deixando a caneca na mesa.

Virei para porta na intenção de ir para o hospital, ver os sorrisos daquelas crianças lindas e tão importantes na minha vida, quando escuto Lan me chamar.

Lan: Cassie?- se levantou apoiando as mãos na mesa, virei nos calcanhares.
Eu: Eu.
Lan: Ontem a noite você veio aqui?- quis saber, fiquei confusa, ontem eu trabalhei a noite toda.
Eu: Lan, ontem eu passei a noite anotando e servindo mesas no restaurante, e você sabe disso- respondi com sinceridade, e curiosidade na voz- Porquê?
Lan: Não é nada, pode ir- se sentou novamente já focando em seu trabalho.

Estranho. Mas também o que não é estranho nessa cidade.

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