Good Boy.

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Outro cansativo e entediante dia. A manhã havia começado nublada, o céu tingido em nuances escuras, repleto de nuvens carregadas e apenas um breve resquício de frio.

— Conseguiu?

— Ainda não. É difícil achar um estágio dessa porcaria de curso. — bufei, apoiando a testa na carteira e querendo afundar meu rosto ali.

— Por que não muda de curso então?

— Porque sou burra e só consegui entrar nesse. — murmurei arrastado.

— A vida tem dessas. — a outra concordou, e a encarei séria, arrancando uma gargalhada alheia. — O que planeja, então, hm?

— Continuar cuidando do Jeongguk.

— Sério, Haeri? Vai continuar bancando a babá do nerd de 21 anos que tem idade pra te namorar?

— Não fala assim, ele é uma gracinha. E a mãe dele é tipo maluca religiosa. Ela insiste que se ele ficar sozinho por tempo demais, pode "se converter para os maus caminhos". E ela paga muito, não tem porquê não aproveitar.

— Daí ela coloca Kim Haeri, a garota de 24 anos mais gostosa e descarada de Seul, pra cuidar do filhinho dela.

— Até parece. — fiz careta para Yuri, mostrando a língua. — E Jeongguk é só um bebê, daqueles que dá vontade de apertar as bochechas até perder os movimentos das mãos.

— E não esqueça a parte do gamer-nerd-otaku-virgem. É muito importante. — ela zombou, me acertando com uma bolinha de papel. — Isso quer dizer que vai furar de novo o nosso rolê de sábado, não é?

— Basicamente. — murmurei, suspirando pesado. — Preciso de dinheiro pra sobreviver.

— Então boa sorte com a noite toda sozinha em pura chatisse. Bem que você podia tentar dar uns pegas nele, ele deve ser bonito.

— É lindo, porém bebê demais. Dá vontade de pegar no colo e não soltar mais. — resmunguei de cabeça baixa. — Sem falar que hoje é dia dos amigos dele irem pra lá jogar vídeo-game.

— Wa, ele tem amigos? Impressionante. Pensei que a mãe dele proibisse, já que amigos são os que mais levam os outros para o mau caminho.

— Você que o diga.

— Ha ha ha. — Yuri me deu um tapa suave no ombro. — De todo jeito, meus pêsames.

¤¤¤

Com um sorriso torto no rosto e em um silêncio um tanto constrangedor enquanto seguia a mulher à minha frente, funguei baixinho e tentei conter a minha curiosidade em perguntar o porquê ela estava toda vestida com tons pretos, além do chapéu com véu de renda no topo da cabeça. 

— Espero que não se importe em ter os amigos do Jeon aqui outra vez. 

— Não tem problema algum. — respondi sorrindo. A mulher carrancuda se virou e cessou os passos, me fazendo parar bruscamente. 

— Ótimo. Irei à missa hoje, então demorarei mais que o previsto. 

— Mas... hoje é sábado. — em meio ao sorriso amarelo, uni as sobrancelhas. 

— E daí? Tenho que rezar. Além do mais, preciso fazer as cem ave-marias junto das outras cem que deixei passar semana retrasada. Deus me perdõe. — ela fez o sinal da cruz. — Talvez eu passe a noite em vigília, terá algum problema em dormir aqui hoje? Darei um extra recompensativo.

— Nenhum problema. 

— Jeon, querido. — suavemente, ela bateu com o nó do dedo indicador na porta de madeira, abrindo-a em seguida dando a visão de um Jeongguk sentado ao chão concentrado em seu console. — A srta. Kim chegou. 

Inócuo | Jeon Jeongguk.Onde histórias criam vida. Descubra agora