(Alfred)
Já passava das onze horas quando Sarah reclamou que estava com fome.
― Tia! ― Ela chamou Isabelle na cozinha. ― Estou com fome. Que horas que sai o almoço? ― Ela massageou teatralmente a barriga.
Isabelle colocava água na panela do arroz para cozinhar.
― Está quase pronto, querida! Só mais uns minutinhos. ― Ela sorriu para a criança. ― Vá ficar com o seu avô, ele está te esperando.
― Estou bem aqui. ― Alfred falou na porta. Ele estava observando a cena toda. ― Ora, vejamos! Só porque ganhou a competição de desenhos já acha que pode dar ordens? ― Sarah deu um sorriso com os olhos fechados para ele. Eles haviam feito dez desenhos cada, e Isabelle teve a tarefa de "julgar". Sarah venceu de sete a três, como já esperado. ― Venha cá, deixe a tia terminar o almoço.
Os dois voltaram para a sala. Esta estava toda bagunçada, havia papéis por todo lado, lápis perdidos e desenhos espalhados pela casa. Alfred fez todos os seus desenhos na mesa, já Sarah desistira no terceiro e partira para o chão, ela gostava de desenhar deitada.
― Temos que arrumar essa bagunça. Comece a me dar os lápis.
― Mas a gente não vai almoçar na cozinha? ― Sarah perguntou, coçando a cabeça. ― Por que arrumar aqui?
― Mesmo assim querida. Se nós bagunçamos, nós temos que arrumar. Não podemos deixar tudo para a coitada da Isabelle. Ela nem é nossa empregada! ― Alfred colocou o dedo indicativo em sua têmpora. Sarah concordou com a cabeça.
― Está certo, então! ― E começou a coletar os objetos dispersos.
Quando acabaram, Isabelle surgiu para anunciar que o almoço estava pronto.
― Nossa, o que aconteceu aqui? Vocês arrumaram tudo sem me chamar? ― Ela cruzou os braços, sorrindo. ― Por essa eu não esperava.
― Já era hora de aprendermos, não é mesmo? ― Alfred riu.
― Vamos vovô! O almoço está pronto! ― Sarah começou a empurrar Alfred, o fazendo rir mais ainda.
Um barulho de palmas distraiu todos.
― Deve ser Charlotte! ― Isabelle logo foi ver quem era. Sarah foi correndo atrás. Alfred decidiu esperar na sala.
Realmente era Charlotte. Era um costume a moça almoçar na casa de Alfred nos fins de semana, já que sua vida era muito corrida nos outros dias. Charlotte vestia uma blusa de alças branca, e uma calça legging preta, com sapatilhas da mesma cor. Vinha abraçada com Sarah na direção de Alfred.
― Bom dia senhor! Ou boa tarde, não sei que horas são! ― Ela deu um lindo sorriso de dentes extremamente brancos e o abraçou.
― Ainda é bom dia! ― Alfred falou ao checar as horas no relógio da parede.
― Chegou bem na hora, Charlie! ― Sarah falou, puxando o braço de Charlotte em direção à cozinha.
― Nossa, que menina esfomeada! ― Isabelle falou, seguindo para a cozinha. Alfred também foi. ― Nem parece que comeu um sanduíche imenso há poucas horas.
― Eu tenho muita fome, tia! Não posso fazer nada. E o cheiro da batata frita fez a minha barriga roncar!
― Está bem, querida. ― Isabelle sorriu. Mas antes, vá lavar as suas mãos no banheiro. Todos vocês.
A refeição era um dos melhores momentos para Alfred quando Sarah estava junto. Durante o almoço, ela brincava e fazia todos rirem, mas todas as vezes finalizava o seu prato, sempre agradando Isabelle. Ela não visitava Alfred regularmente, mas quando vinha, Alfred sabia que seria como uma festa. Ela conseguia fazer qualquer um se sentir melhor, independentemente da situação. Ela era como uma luz que iluminava o ambiente e o coração de todos que estivessem por perto. Ela era sua neta, seu sangue, seu legado. Sua vida.
O resto da tarde foi extremamente tranquilo, exceto o momento que Sarah e Charlotte começaram a dançar ao som de uma música alta. Quando se cansaram, as duas se jogaram no sofá e tiraram um cochilo. Foi tempo suficiente para Alfred tomar um rápido banho. Quando retornou à sala, as duas ainda estavam dormindo, e Alfred reparou que já estava quase na hora de Edward chegar para buscar Sarah.
Um sentimento de tristeza apoderou-se dele. Ele não queria que a neta fossem embora, não sabia quando voltaria a vê-la novamente. Neste exato momento Alfred escutou o som de um carro estacionando na frente de sua casa.
Foi verificar quem era. Abriu a porta principal da casa e viu Edward saindo de seu belo carro preto. Alfred suspirou e foi pegar a chave do portão.
― Olá meu filho. ― Alfred falou ao abrir o portão. Se surpreendeu ao receber um forte abraço de Edward.
― Olá pai! Como vão as coisas por aqui? ― Ele o soltou do abraço.
Os dois caminharam em direção à casa.
― Está tudo ótimo, filho.
― A mocinha deu muito trabalho para vocês? ― Ele perguntou, com um tom de desculpas.
― Quase nenhum. ― Alfred sorriu para ele.
Quando Edward entrou na casa e contemplou a cena à sua frente, teve que cobrir a boca para conter uma risada. Os dois voltaram para o lado de fora para conversarem.
― As duas parecem ter se divertido bastante.
― E o fizeram. Na verdade, todos nos divertimos. ― Alfred falou, abaixando a cabeça.
Edward o olhou por um tempo. Por fim, suspirou.
― Pai, quer que ela fique hoje?
Alfred ergueu a cabeça.
― Como assim? Ficar, você diz...
― Dormir. Quer que ela passe essa noite aqui? Acho que coloquei roupas suficientes na mochila dela. ― Ele pareceu buscar a informação na mente. ― Charlotte poderia ficar também, já que hoje é sábado. Assim faria companhia para ela. O que acha?
Alfred piscou algumas vezes, absorvendo a informação.
― Ora, isso seria maravilhoso! ― Ele deu um enorme sorriso e abraçou Edward. ― Obrigado, meu filho!
― Não precisa agradecer.
Isabelle estava na porta observando os dois, e também deu um abraço em Edward.
― Ela vai ficar louca quando descobrir. Obrigada, senhor.
― Imagina. Eu que tenho que agradecer por cuidarem da pequena. ― Ele deu um pequeno sorriso. ― Bem, eu vou embora, tenho que voltar para o escritório, o trabalho está duro. Vejo vocês amanhã. ― Ele acenou para os dois e foi em direção ao seu carro, e logo desapareceu na rua.
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M.S.

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Uma Bela Mentira [COMPLETO]
Mystery / ThrillerAlfred Clarke é um senhor de idade já avançada e alguns problemas de saúde, que vive sozinho uma vida pacata e regular, e só se vê feliz com a presença de sua adorável neta Sarah, de apenas nove anos de idade. Recebe frequentes visitas de sua amiga...