“Rao, por favor, a ti eu venho com o coração em prantos, sempre me ensinaram que eras a luz do mundo, o caminhos dos que se perderam e o consolo dos aflitos. Hoje eu perdi meu mundo, não há mais caminho para mim e não sei se poderei ser consolada.
Me despedi de meus pais, papai me disse para ser corajosa, me disse que eu iria para um novo lugar para ajudar meu primo Kal-El. Mamãe me abraçou, disse que me amava e que sentiria minha falta, ainda sinto o calor dos braços dela ao meu redor, mesmo no frio do espaço sua presença ainda me envolve.
Como pode ainda existir se ninguém mais se lembrará de você? Rao, sua verdade se perdeu no clarão da morte de minha casa, meu povo morreu com as preces a ti nos lábios, embora eu ainda saiba, minha passagem será breve e então terás morrido como meu mundo.
Rao, estou na escuridão e no silêncio, não a nada a minha volta além do som da minha respiração, das batidas do meu coração. Estou sozinha, me ensinaram que eras a luz, mas essa está ausente. O calor dos braços de minha mãe está me deixando, sua memória começa a ficar nublada, seriam seus olhos realmente azuis? Seria seu sorriso brilhante como uma estrela em seu auge?
Meu pai também está distante, ele não cumpriu sua promessa de sempre me proteger e estar comigo, seu amor se foi e eu fiquei, sozinha, a deriva.
Meu propósito está perdido, Rao, não estou com o pequeno Kal, será que ele também está vagando pelo vazio? Ele não se lembrará de sua casa, dos pais que lhe deram a vida e da família que o acolheria, apenas um bebê que não tem mais nada.
Não sei quanto tempo faz, não há nada para ver aqui, posso está perdida a uma hora ou a cem anos, não estou sempre adormecida, vejo a escuridão e ela me embala, torna-se minha fiel companheira, mas ela não é gentil, não há consolo na solidão. É uma imensidão vazia, não a para onde ir e o silêncio começa a sufocar.
Rao, não sei se ainda pode me ouvir, estou longe de sua luz, mas me leve a você, quero reencontrar meus país, quero o colo de minha mãe e o afago de meu pai. Não lembro mais das vozes deles e talvez eles sequer tenham existido.
Será isso a morte? Eu talvez não tenha conseguido escapar, essa é minha punição? Passar pela eternidade no vazio frio do espaço, sem que ninguém jamais ouça a minha voz. Rao talvez assim como você eu já não exista mais, seja nada além de um resquício de um planeta que outrora orbitava a sua luz.
Estou cansada, mesmo quando durmo não sei mais como sonhar, não existe nada além de mim e esse Pod, minha gaiola, minha prisão, mas por que fui condenada? Será que sou tão terrível quanto aqueles violões que mamãe condenava? Qual crime cometi para amargar essa sentença? Minha mera existência é tão cruel que eu paguei com esse castigo?
Eu vejo uma luz, será o fim? Será finalmente o encerramento de minha penitência e poderei então seguir junto de meus pais? É tão rápida sua aproximação, sinto vertigem, meu coração dispara e o vazio ainda continua.
Rao estou vendo as estrelas, elas brilham distantes, mesmo estando em seu meio elas são inalcançáveis. Há escuridão de novo, mas essa e da minha própria exaustão, novamente não a sonhos, mas pela primeira vez há um barulho. Algo está em chamas, ouço o fogo e sinto meu corpo sendo pressionado por uma força invisível, me falta o ar.
Eu senti o impacto, há muito não sentia nada tão intenso. Rao, está claro aqui, muita luz me rodeia e um grande campo verde me cerca, esse é o paraíso? Se é o paraíso por que ainda estou sozinha?
Mãos fortes quebraram o vidro de minha prisão, ele veste azul e vermelho e exibe o símbolo de minha casa, El Mayarah. Ele se apresenta, é Kal, mas não era para ser um bebê?
Rao, esse mundo é barulhento, meus ouvidos doem e o ar é pesado, sinto meus pulmões arderem, Kal me leva pelo mundo que o acolheu, chamou de casa. Como pode ser sua casa se a pouco a dele foi calcinada?
Kal me deixou, vejo figuras estranhas, me disseram que eu estava protegida, mas como posso estar a salvo se não os conheço? Se nada tenho além de lembranças fugazes de meu berço?
Rao esse mundo é estranho, as pessoas são cruéis, me chamam de esquisita pois não sei como ele funciona. Há criaturas estranhas e estridentes aqui, a luz está em toda parte, mas a escuridão ainda parece a espreita.
Fecho os meus olhos a noite e sinto novamente a opressão da solidão, o nada do vácuo me assola e me invade. Não quero mais dormir, não quero mais esse medo que me domina e me destrói.
Estou cercada de almas, mas ainda me sinto sozinha, preciso esconder quem eu sou, ninguém pode saber sobre mim e isso afasta ainda mais as pessoas. Minha nova irmã não gosta de mim, Rao será essa a continuação de minha penitência? Está perto de tanta vida e ainda me sentir distante? Preciso de sua luz, estou perdida.
Rao, o lar que eu perdi não posso mais encontrar, mesmo que minha irmã tenha me acolhido, mesmo que seu amor seja caloroso, ainda sinto o vazio, ainda sinto a escuridão, ainda estou perdida.
O símbolo de minha casa agora adorna meu peito, posso finalmente usar meus dons em prol deste mundo que me recebeu. As almas aqui são frágeis e sua vida é como um sopro, mesmo com um novo propósito, uma nova jornada, um novo caminho, ainda me sinto a deriva. Será que ainda estou sendo punida?
Eu sinto raiva, incontrolável e vermelha, o ódio me consome e é errado acalentar esse sentimento que expulsa todos os outros? Rao não sou eu, quem é essa pessoa que fere aqueles a quem jurei proteger, antes era brisa e agora sou tempestade, sinto vontade de devastar esse planeta como o meu foi, quero sentar sobre as cinzas e regozijar sua queda.
A raiva se foi, mas trouxe o vazio ainda mais forte, eu queria a obliteração desse mundo e novamente estaria sozinha, será esse meu destino? A eterna solidão, eu vejo luz daqueles que fazem dessa cidade sua morada, eu os admiro, mas como uma obra prima eles estão distantes se mim, mesmo que possa toca-los ainda os vejo distantes.
Vejo os passos dos humanos para alcançar as estrelas, o combustível de sua vontade queima e eles querem chegar na imensidão que eu temo. Rao o sonho deles foi atrasado por um vilão, sua pequena nave quase é destruída. Kal me ajudou e pela primeira vez em muito tempo me sinto perto de casa, e a solidão se afasta por um momento.
Rao, eu vejo novamente sua luz, mas agora era brilhante em verde nos olhos dela, sinto seu calor no sorriso, vejo a beleza de sua verdade em seus delicados traços. Não há mais solidão, a escuridão partiu sem que me desse conta. com duas palavras ela me trouxe para casa, sua voz me segura e me consola.
Prazer, Lena Luthor”

VOCÊ ESTÁ LENDO
The Last Daughter of Krypton
FanfictionNa perda de seu mundo, uma criança faz uma prece... "Rao ouça a minha voz..."