Sobre um objeto de raiva

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Quando conhecemos uma pessoa nova e percebemos que vamos ter uma amizade, sempre acreditamos que a outra pessoa vê aquele vínculo do mesmo jeito que nós. Bom, acontece que nem sempre é assim.

Quando uma pessoa tem poucos amigos na vida (sim, aquela história do bullying, de exclusão no colégio e etc. também foi uma realidade para mim, surpresa), a tendência é que ela se apegue muito rápido a qualquer pessoa que pareça minimamente interessada na sua amizade.

Isso foi real para mim, embora sempre tenha me considerado uma pessoa cuidadosa nesse sentido. É verdade que eu me abro muito rápido, mas, por outro lado, eu sempre tomo cuidado de não revelar muito sem que a pessoa me dê algo em troca também. Veja só, eu tenho minhas inseguranças com meu relacionamento amoroso, sei que tenho muitas dúvidas sobre meus reais sentimentos e penso frequentemente em traição e em como sou atraída por outros rostos na multidão. Mas eu só falei isso com pessoas que demonstraram as mesmas inseguranças que eu. Não é como se eu fosse jogar uma possível bomba no colo de alguém que pode jogá-la para cima e não sofrer consequências. Não é que eu não confie nas pessoas, é só que... tá, eu não confio nas pessoas. 

Mas depois de um tempo, se você vê que a amizade vai pra frente, você se abre. Você fala sobre suas ideias abertamente, e o medo da traição aos poucos vai passando. Eu considero segredos o bem mais precioso que podemos ter dentro de uma amizade. Eles são uma moeda de troca valiosa, mas que eu espero jamais ter que usar como troca com ninguém. De verdade. Mas, de novo, as pessoas não veem os segredos da mesma forma que eu.

E esse foi meu maior erro com você. Ter dado munição o suficiente para que você explodisse o meu mundo se quisesse. E eu tenho medo. Porque você é uma pessoa só. E pessoas sozinhas não se importam com danos colaterais. Porque no fim ninguém se importa o suficiente com elas, só momentaneamente. Mas eu não acho que sou uma pessoa sozinha, acho que tenho muito a perder. Muito mais que você, isso é óbvio.

E se você alguma hora for explodir meu mundo, vou me confortar no fato de que: posso não ter nada de útil contra você, posso saber segredos seus que não farão diferença para ninguém. Mas não ter ninguém que você possa perder é o suficiente para eu ficar feliz em saber que você já começa essa guerra mais perdedora do que eu. Ah, sim. Isso é uma guerra, caso não tenha ficado claro ainda. 

Seu pai? Bom, acho que ele nunca se importou realmente com você. Sua mãe? Ela me parece uma pessoa mais sozinha que você. Talvez seja a única pessoa que realmente se importe com você, do jeito dela, mas que você parece não se importar tanto se perder. Sua irmã? Parece que ela arranjou alguém melhor do que você para se importar em perder. Seus amigos? Quê amigos? Como já disse, você tem, no máximo, colegas. Sua relação com as pessoas são de curto prazo, já nascem com prazo de validade. Porque você é descartável. Você pode achar que não, mas conta aí nos seus dedos quantas pessoas que você conhece há mais de 3 anos que se lembraram de você no seu último aniversário. Você pode ter seu whatsapp pulsando de mensagens, mas eu aposto que 90% dessas pessoas nem lembrará mais de você ano que vem. Ou lembrará apenas como alguém que "ah, eu costumava conversar, mas perdemos o contato". E eu tenho dó de você. Pena mesmo. Porque, quando nos conhecemos, você queria passar essa imagem de pessoa fria, que não conseguia se conectar ou se importar com as pessoas. Acho até que queria que eu visse você como uma espécie de psicopata. Afinal, ser uma psicopata é melhor do que ser nada. Hoje eu consigo enxergar que você é só um nada mesmo. 

E quem não é nada, não tem nada a perder. 

Mil convites para sair hoje serão mil pessoas que nem lembrarão de você amanhã. As minhas três mensagens no whats hoje serão as mesmas três que estarão lá daqui dez anos. Eu tenho orgulho de ter poucas pessoas na minha vida, de continuar não sendo popular, não sendo a queridinha, de ser eu mesma. E eu aposto que você tem inveja disso. Você quis loucamente entrar na minha vida, ser parte do meu mundo. Só que eu não percebi que você não queria ser parte do meu mundo, e só. Você queria o que eu tinha, queria a minha história, as pessoas que me rodeavam e a aprovação que eu tenho. Você sabe também qual é minha maior insegurança e soube usá-la contra mim. 

Eu posso até sentir o baque de perceber que, sim, você cativou algumas das pessoas com as quais eu me importo. Mas você vai sair logo, logo da vida delas. Você as conhece por minha causa,  e eu vou arrancar você de perto delas, custe o que custar. Não me entenda mal, eu não tenho nenhum plano mirabolante para isso. Minha única arma é esperar o tempo fazer o serviço dele. Porque você mesma vai voltar a ser o serzinho invisível e insignificante que era antes de eu dar espaço pra você. Vá em frente, tente provar que eu estou errada. Que você é relevante, amada, querida. O tempo sempre cuidou de tirar as pessoas que eu não queria perto não apenas de perto de mim, mas das pessoas que eu queria que estivessem apenas comigo.

De um jeito muito louco, eu sempre sinto que saio vitoriosa. Sabe por quê? Porque eu tenho um sexto sentido de julgamento de caráter. Dificilmente um falha de caráter que eu percebo em alguém não acaba sendo percebida por todos, cedo ou tarde. E a sua é gritante, escrito na sua testa. Não vai demorar muito pra você pisar no calo de alguém. Pra você despertar a antipatia de alguém que não vai ter a mesma paciência que eu, e olha que eu já tenho a paciência curta.

Te desejo boa sorte, verme, enquanto a bota do tempo te esmaga lentamente.

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⏰ Last updated: Feb 25, 2019 ⏰

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