Capítulo 2

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— Então era você que estava na janela daquela casa — disse acenando com a cabeça em direção à minha casa —...bela decoração.

Todas as respostas que estava elaborando na minha cabeça pareciam imbecis, como iria responder a essa pergunta? Com certeza havia ironia na frase, não poderia ser idiota e agradecer.

— Ahn, valeu? — é, eu acabei agradecendo. — Sim, era eu...bom, acho que vou voltar pra lá...minha mãe deve estar me procurando.

Achei que tinha feito a coisa certa, porquê eu estava ali mesmo? Ao me virar bruscamente para retornar à minha casa, escuto:

— Na sua casa está tendo um jantar de Ação de Graças e você acha melhor ficar dentro do seu quarto? Quem em sã consciência faria isso?

Senti uma súbita sensação de culpa por saber que era verdade, não dava atenção que devia à minha mãe, e raiva, porque como podia uma pessoa aleatória vir dar palpite na minha relação com a minha família? Virei-me de frente para quem estava falando, com uma expressão nada amigável.

— Eu, em sã consciência, faço isso. Se você conhecesse minha família e soubesse o que...

— Qual é o seu nome? — subitamente me interrompeu para fazer a pergunta, com um leve sorriso nos lábios.

— O quê? Ahh...sou Alex Wright...e você? —perguntei, hesitante.

— Sou Taylor Said. — sorriu de lado, ainda me olhando nos olhos. — Topa sair daqui?

Agora eu que deveria fazer a pergunta: quem em sã consciência convida alguém totalmente desconhecido para sair? Talvez devesse revidar, mas só falei:

— Não sei se é uma boa ideia...minha mãe realmente deve estar dando desculpas aos meus tios pelo meu sumiço, devo voltar. — no fundo, tudo o que eu queria era aceitar e sair dali, o frio estava me deixando com uma aparência ainda mais tímida, com certeza minhas bochechas estavam rosadas, não só pelo frio.

— Ah...vamos lá! Você tem que aproveitar o feriado. Relaxa, sua mãe deve estar rodeada de gente que a adora, não vai fazer alarde por você não estar lá.

Por que Taylor estava fazendo isso? Eu não sou interessante a esse ponto. Poderia encontrar com uns dos seus amigos e ter bem mais diversão. Não poderia ficar mais ali. O que a mãe iria pensar? Se ela me visse ali, conversando com uma pessoa de quem, com certeza, não iria gostar por motivos de aparência,  iria entrar em pânico e nunca aprovaria esse início de amizade. Não deveria mais estar ali. Precisava sair imediatamente.

— Olha, eu realmente preciso voltar. Eu...peço desculpa, mas não posso. Prazer...em te conhecer...Taylor Said. — estava ficando cada vez mais claro meu nível de nervosismo por querer sair dali mas, ao mesmo tempo, querer ficar.

Talvez tenha sido loucura minha mas, ao dizer isso, o brilho dos olhos de Taylor sumiram e sua descontração também. Piscou os olhos ansiosamente e lançou uma risada sem humor.

— Igualmente, Alex Wright.

Dei um sorriso fraco e virei-me. Fechei os olhos e suspirei; fiz o que deveria fazer. Desejei ver a expressão de Taylor mas não iria checar, meu cérebro já estava em funcionamento. Andei depressa para adiantar a chegada em casa, totalmente falhando, por causa da neve que mais parecia uma areia movediça nos meus pés. Esperava que Taylor não estivesse olhando.

Abri a porta de casa e o cheiro de canela tomou conta dos meus pulmões; de um certo modo, era bom voltar pra casa. Alguns primos me encararam com uma enorme interrogação no rosto, mas depois deixavam pra lá. Nunca havia falado mais que um "bom dia" para eles; sabiam que eu não falaria onde estava anteriormente. Fui à cozinha para me aquecer um pouco, já que o forno provavelmente estaria ligado, aquecendo o ambiente. Encontrei a senhora Wright conferindo se a torta de maçã estava intacta: perfeccionista ao extremo. Ela virou e ficou surpresa ao me ver ali, algum milagre deveria ter acontecido.

— Oi, meu filho! Onde você estava? Sua tia me disse que você saiu às pressas de casa! O que houve? Está tudo bem?

Minha mãe e tia Elisa eram confidentes desde a infância; tudo o que acontecia com uma delas, a outra, em poucos minutos, já sabia. Talvez soubessem mais da vida dos outros do que as delas mesmas, mas nunca iriam admitir. Eu nem sabia.

— Tudo bem, mãe, só quis sair um pouco de casa, ver a neve. Acho que nunca fez tanto frio aqui em Abita Falls...enfim, vou pro meu quarto, não precisa ir me chamar para a sobremesa, não estou com muita fome.

— Alex! Lá vai você de novo pro seu quarto...só fica enfornado! — aproximou-se e pegou a minha mão. — Você precisa conhecer mais pessoas da sua idade, meu filho. Sabe de uma coisa interessante? Na Igreja que frequento, há um grupo de jovens da sua idade que fazem reuniões entre si, você deveria ir. Quem sabe não encontra alguém legal? Com certeza você acharia uma pessoal ideal para começar uma amizade e depois, talvez, algo mais...

Só de pensar no perfil de "ideal" que minha mãe tinha, meu estômago embrulhou. Se ela soubesse que conheci uma pessoa da minha idade, mas que, para ela, não seria a ideal de acordo com seus conceitos, ela me censuraria imediatamente. Minhas mãos não paravam quietas de nervosismo, coloquei-as para trás, escondendo de minha mãe.

— Mãe, eu já falei que não preciso disso. Eu já conheço pessoas suficientes! Não precisa fazer todo esse esforço por mim, por favor. Agora vou para o meu quarto, tá? Não estou afim de sobremesa agora.

Fui apressadamente para o meu quarto e deitei na minha cama. Meu pensamento se voltava para os momentos anteriores. Eu não deveria estar pensando tanto assim...foi algo normal, nada demais. Pessoas se conhecem todos os dias, era algo natural; mas quando se conheciam, havia essa mistura de sentimentos? Ou eu que estava fantasiando demais? Provavelmente, a última pergunta seria a resposta.

Desde sempre tive pensamentos intensos demais, sentimentos demais, perguntas demais; não sabia se isso me prejudicava ou se me favorecia: poderia prejudicar, fazendo tempestade em copo d'água, levando tudo a sério, machucando-me mais, palavras pesavam em minha cabeça e coração; poderia favorecer, já que as pessoas estavam se tornando frias demais com o passar do tempo, os sentimentos já não eram mais sentidos como deveriam ser.

A dualidade sempre se fez presente na minha vida, mais uma prova de que intensidade poderia facilmente ser meu sobrenome. O que aconteceu hoje não iria acontecer de novo.
Nunca mais iríamos nos encontrar novamente.

Por isso, resolvi me dar um conselho: foi uma nova experiência, absorva. Enquanto pensava, meus olhos pesavam. As decorações na janela eram tudo o que via; elas trouxeram interesse de alguém há uns minutos, sorri. Depois de alguns segundos, adormeci.

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⏰ Última atualização: Feb 25, 2019 ⏰

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