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O sinal tocou as seis e meia da manhã no orfanato, as crianças logo correram da cama, era um dia especial, dia em que muitos casais iam até o orfanato para quem sabe adotar uma das milhares crianças e jovens que moravam lá.

Ei. — Liza, uma jovem muito sorridente bate na porta de um dos quartos masculinos.

Oi Liza. — Will responde sem muita vontade.
Ele já tinha 15 anos, havia sido abandonado assim que nasceu, ele sabia que na maioria das vezes, as famílias preferiam bebês e crianças até os dez anos.

Você não vai descer? — Ela senta ao seu lado, na cama.

Para que? Você sabe que os pequenos é que serão adotados.

— Eu sei, mas vai que hoje seja diferente. — Ela sorri.

Duvido muito. — Fala, ranzinza.

Meu Deus Will, para de ser chato. — Ela lhe da um soco. — Vem, você não vai me deixar sozinha, com aqueles loucos. — Ela o puxa para fora do quarto e os dois descem as escadas correndo.

O tumulto se forma no grande refeitório, as mesas eram separadas por crianças de 5 á 8 anos, de 9 até os 13 em outra mesa e depois dos 14 até os 18, que era idade máxima que permaneciam ali. Fora o berçário, que ficava no prédio ao lado.

Ninguém sabia ao certo o que acontecia com os que completavam 18 anos, na maioria das vezes, as meninas podiam ficar, porque eram ótimas cuidadores de crianças, mas os meninos, apenas alguns saiam e conseguiam ter uma vida lá fora, a maioria fugir antes de completar seus 16 anos.

As freiras corriam para ajeitar as crianças pequenas em suas cadeiras, era barulhento, todos estavam ansiosos para saber quem seria o escolhido ou escolhidos.
O silêncio tomou conta de todos, assim que a freira chefe chegou.
Uma senhora já com seus 70 anos, alta e sempre com a cara fechada, falava firme e enchia o lugar de regras, mas pouco se tinha do que reclamar dela, tratava as crianças bem, com disciplina e cuidado.

Sentados. — Ordenou e assim fizeram. — Como vocês sabem, hoje é um dia especial, dia de visita. Quero todos muito comportados, vestindo sua melhor roupa, educados e atentos. — Começou a caminhar entre as mesas. — Eu sei que o sonho de todos aqui, é serem adotados, mas se não conseguirem dessa vez, não desistam. Semana que vem, teremos outras visitas.

Ela sentia muita pena deles, eram apenas crianças em busca de amor, de uma família.

A irmã Adelaide irá servir o café, comam, subam e se arrumem. As oito e meia começam as visitas. — Falou e se retirou.

Irmã Adelaide começou a servir o café, com a ajuda de outras freiras.
Tinha pão, geléia, manteiga, queijo, presunto, café e leite quente, só tinha queijo e presunto em dias especiais, já que o orfanato dependia de ajuda dos outros.

Assim que iam terminando de comer, as crianças se retiravam para seus quartos, estavam ansiosos para as visitas, pela esperança de finalmente sair dali.
Liza sentou ao lado de Will, ela era negra, com lindos cabelos ondulados, era magra e alta, estava sempre sorrindo, havia completado seus 15 anos uma semana antes.

Muda essa cara, Will. — Disse, mordendo seu pão.

Eu não gosto de dias assim. — Ele mal tinha mexido em seu pão.

Olha, eu sei que você esta aqui desde pequeno, mas ainda existe esperança. Tenha fé. — Liza sempre teve o poder de deixar Will melhor.

Não existe esse negócio de fé. — Retrucou. — Mas obrigada pela ajuda. — Sorriu, mordendo finalmente seu pão.
Terminaram de comer e subiram, Will dava passos bem devagar, não estava nada animado.
Assim que chegou em seu dormitório, despediu-se de Liza e entrou em seu quarto.

E ai estranho, pronto para ser deixado de lado, mais uma vez? — A voz irritante de seu colega de quarto, já nem fazia mais efeito sobre ele.

Não enche Oliver.

— Está tristinho porque ninguém quis você? — Ele debochava.

E alguém quis você? Ou tu mora aqui, porque gosta da minha compania? — Disse irritado.

Oliver havia perdido os pais quando pequeno, em um acidente de carro, como não havia familiares responsaveis, o governo o mandou para o orfanato até encontrar um parente. Mas isso já tinha dez anos e nunca acharam ninguém.

Pelo menos eu tinha uma mãe e um pai, não fui jogado aqui. — Retrucou.
Oliver adorava infernizar a vida de Will, tinha prazer nisso.

—  Me deixa em paz, Oliver. — Ele apenas sentou em sua cama.
As palavras de Oliver sempre o machucavam, mas ele jamais demonstraria isso.

Não estou tirando sua paz, seus demônios já fizeram isso. — Ele ria, junto de mais dois adolescentes.

Will apenas pegou suas roupas e caminhou até o banheiro, ouvir Oliver falar do passado, o deixava assustado.
Fazia 5 anos que nada mais tinha acontecido, nenhum surto, nenhum pesadelo.
Mas Oliver insistia em atormenta-lo.

Will se vestiu e voltou ao quarto, Oliver já não estava mais ali e isso o deixou aliviado, não que ele tivesse medo, mas já havia brigado tanto, se machucado tanto, que dessa vez, ele só queria um descanso. 


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Os monstros em minha mente.Onde histórias criam vida. Descubra agora