p a r t e t r ê s

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“ temporal interior para o oceano. ”

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Ela enxergava a luz no fim do túnel.

A escuridão que percorria o céu do lado de fora chegava a ser assustadora para alguns olhos. Mas para os de Yerim, era encantadora. As lágrimas da chuva banhavam o piso de seu quarto, arrastando com a ajuda do vento suas cortinas para o céu. Elas tocavam o teto em momentos inesperados, e a areia banhava o piso mais seco. Tudo isso, trazido pelo lado de fora da janela, onde a tempestade acontecia como a precisão de um cálculo matemático feito por computadores.

Uma mecânica da natureza inexplicável. Yerim só poderia observá-la, deixar seus olhos vislumbrarem-se com o temporal qual o oceano se transformava, satisfazendo toda sua confusão interna ao encontrar-se com as nuvens escuras.

Só faltava uma coisa: os raios elétricos. Eles assustavam. Mas eram belos. Igual a vida de Yerim.

— Yerim! Yerim! Deixe eu entrar neste quarto! — A mãe abriu a porta, vendo a situação da filha, e correu para a janela, fechando rapidamente.

A menina ficou quieta, observando a mãe cansada, segurando a madeira para não escapar e deixar tudo voltar. A beleza toda fora posta para longe, e Yerim sentia-se pelada, sem a proteção de seu aguardo pelos raios e relâmpagos.

— Você está louca, ou o quê? — A mãe encarou-a séria, de braços cruzados. Yerim não permaneceu quieta.

Seu coração batia à mil. Algo lhe dizia que estava errado. Estava tudo errado. Que sua vida não era aquela, que permanecia em um sonho. Todas as dores passadas, e as frustrações consigo mesma, passariam rápido. Não tão rápido quanto gostaria, mas se ficasse olhando para a tempestade, conseguisse ver mais tarde um raio de sol surgindo para fazê-la sorrir.

— Eu quero continuar. — Sussurrou para a mãe. — Isso não é o certo.

Fitou-a nos olhos, encontrando o mesmo brilho que viu na loja de vestidos. O mesmo brilho que ela já tinha visto nas vezes anteriores, mas não se lembrava. Não era seu defeito não contrariar. O defeito era de sua mãe.

Então, veio a dor. A forte dor. Uma descarga elétrica percorrendo pelo seu corpo, sendo machucada a cada centímetro. Igual a terra, ao receber os raios. Mas Yerim não recebia os raios, não aqueles raios. Não tinha beleza na dor, na chuva que caía dentro do quarto. A tempestade lá fora protestava contra as janelas, balançando-as. A casa ficava quieta, com medo. Yerim segurava-se, permanecendo com o pensamento. “Isso não é o certo”, repetia, e as batidas fortes vinham mais e mais.

Acabaram somente depois que as nuvens soltaram seu primeiro raio elétrico do lado de fora, em alguma hora do fim da tarde, quando não se distingue mais o dia com a noite

sea [⭐] joyriOnde histórias criam vida. Descubra agora