Terceiro

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       Criando estratégias

A rua campo baio corta o Condominio Reserva das Hortências de ponta a ponta sendo uma  bem movimentada pois é passagem do Condomínio Sausalito para o Parque Petrópolis. É uma rua  muito segura pelo fato de que os que trafegam por ela já passaram por dois ou três portarias monitoradas por câmeras vinte e quatro horas. Bem na metade de seu percurso do lado esquerdo de quem vai em direção a São Paulo, deriva uma pequena viela que até hoje ainda se mantém sem asfalto por desejo dos próprios moradores. Casas de campo e chalés enfeitam essa região da serra da cantareira. Ali todos os vizinhos se conhecem . Todos são moradores antigos. Lígia Alves de Oliveira é uma dessas pessoas que há anos fazem parte da história daquela viela. Sua casa se destaca das demais pelo estilo colonial. Ela existia ali bem antes daquele bairro Campo Baio tornar-se um Condomínio. Conhecida como Casa dos Alves pelo fato de os avós e pais de seu esposo terem construído ali nos anos cinquenta. Ali vivem ela, seu filho, sua nora e dois netos. Seu esposo, o velho como é mais conhecido, mora em outra casa ainda mais antiga. Há seis meses vivem em casas separadas . Uma tentativa de sequestro de sua neta de apenas oito anos , ocorrido há cinco anos , fez com que ela acolhesse seu filho e esposa . Seu marido, o velho foi morar sozinho na casa de seu filho, casa essa também muito antiga construída pelo avô de seu marido . Seu filho trouxe a mulher e os dois filhos para essa 'viela devido ser um dos locais mais seguros da serra.
A polícia conseguiu prender apenas um dos sequestratores que confessou ser o mentor do sequestro. Na época pediram uma fábula em dinheiro como resgate. Eles não tinham nem dez por cento desse valor para libertar a pequena Geovana e pediram tempo. Todos os Condomínios da serra ofereceram ajuda abrindo os conteúdos das câmeras de monitoramento para a equipe de investigadores da polícia . Em pouco tempo eles chegaram até um dos sequestratores que se entregou como sendo o mentor: Cláudio Acacio Inacio Mendonça.. A criança estava segura e escondida numa casa em construção a quinhentos metros dali mas nada sofrera. Os comparsas fugiram antes da chegada da polícia. Um detalhe no entanto deixou os policiais confusos durante seu trabalho de investigação: porque escolheram a família do velho e porque exigiram uma fábula como resgate?
O velho, logo que recuperaram a neta, pediu para falar com o sequestrador em sua cela, alegando o desejo de gravar na memória a feição do preso e se precaver . Ficaram uns cinco minutos conversando a sós. O velho saiu pálido da cela e sabia que veria o sequestrador ainda outras vezes tão logo esse cumprisse os cinco anos de prisão. Por isso resolveu ocupar a casa de seu pai em que o filho habitava e pediu para esse morar com a mãe na Casa dos Alves. Esse endereço era desconhecido do sequestrador.
Nestes cinco anos investigou o nome Cláudio Acacio Inacio Mendonça e descobriu que viera da cidade de Ouro Fino do Estado de Minas Gerais. Filho de família tradicional da cidade, desde a época do Império. Isso deixou o velho apreensivo e achou melhor ficar sozinho no casarão da rampa ou casarão da macieira como é mais conhecido.
Ao ver o Cláudio Acacio passando por detrás do repórter seus sentidos deram sinais de alarme confirmando suas previsões quanto ao sequestrador insistir em procura-lo outras vezes. Agora, sua rua e residência sao inteiramente monitoradas por câmeras que se interligam com todas as portarias até a descida da serra para São Paulo. Está seguro ali no casarão mas por via das dúvidas julgou melhor afastar se da família pelo menos por enquanto, até resolver de vez esse mistério do baú do imperador.

Por onde iniciar essa investigação ou seja la que nome poderia dar a esses próximos passos: Caça ao tesouro? Pesquisa histórica sobre seus antecedentes? Não importa nada disso tudo, ele apenas deseja obedecer seu coração, sua razão e a sua vontade pois a segurança de si mesmo e de sua família depende também disto. O momento é de traçar estratégia para poder seguir em frente. Ou ele parte para cima desta situação com coragem para o que der e vier ou terá que estar sempre perseguido e vigiado pelos Claudios Acacios da vida como se sussurrassem nos seus ouvidos: " ouça, eu sei o que você fez no passado". Ele tinha certeza de apenas uma verdade nesta questão toda: o tesouro existe, é real. Seu tataravô foi homem de palavra e pronto!. Tem que trabalhar por etapas e com muita paciência, agindo , pensando e ouvindo seu coração.
Primeiro passo que deve dar é manter um lugar como seu quartel general , ali deve estar concentrado tudo o que ele pesquisa e sabe sobre o tesouro: documentos, anotações, imagens , gravações de programas que fazem referências a vida do imperador e de seu tataravô ou a fatos peculiares na família desde o tempo do Império. Esse quartinho, que seus ancestrais tanto privilegiaram não permitindo que fosse visitado por ninguém que não fosse convidado, ele cuidará e terá um zelo como se fosse um templo sagrado. Ele se compromete entrar nesse quarto em todas as noites num horário escolhido exclusivamente para isso, mesmo que não sinta vontade nenhuma de fazer isso, é questão de disciplinar sua força de vontade. Quando entrar ali e não tiver nada para fazer se sentindo mais perdido do que cego no meio de tiroteio ele ficará apenas por ficar, respirando o ar do ambiente, ouvindo o som do silêncio. Terá que estar tão conectado com aquele lugar como se o quarto e ele fossem uma pessoa única.
Segundo passo: Agir. Terá que confiar em alguém que lhe seja amigo de verdade. E amigo de verdade as vezes pode se tornar uma pedra no sapato porque você da-lhe carta branca para criticar e julgar suas atitudes. O amigo de verdade é um irmão que você adota e pelo qual voce é adotado. É o amigo quem pode nos fazer ver perigos que sozinhos muitas vezes não conseguimos enxergar. Partir para a ação de imediato, isso quer dizer procurar o Caleb.
Os passos seguintes dependerão dos resultados desses primeiros passos.

Deveria falar com o Caleb a respeito do tesouro? Deveria enfrentar o Cláudio Acacio e ver afinal porque essa perseguição? O sequestro tem alguma coisa a ver com o segredo de seu tataravô?. E se esse homem da capa preta não for o sequestrador e tudo não passou de desconfiança e mal entendido ? Ja se passaram quase cento e trinta anos desde a visita do emissário de rei e o que aconteceu com ele depois que deixou a Fazenda São Pedro e partiu para Minas Gerais? Foi pego pelos bandidos? E o passaporte real que levava consigo? Onde foi parar caso ele tenha sido assassinado? Esse tesouro ainda existe ou seu bisavô falou demais e alguém descobriu onde foi enterrado e ja se apossou dele ha muito tempo?
Todas as perguntas possíveis sobre isso passeiam pela órbita da mente do velho . Este no entanto, homem experiente e muito vivido, sabe muito bem fitar a estrela da noite e manter as mãos firmes no leme sem se deixar confundir pelos açoites das inúmeras ondas que fustigam sem parar o casco da embarcação.
Ajeitou as pastas que havia espalhado sobre a mesa. Colocou-as juntas dentro de uma sacola e achou mais seguro prende-la sob o tampo da mesinha. Desceu as escadas observando se não havia ninguém próximo ao portão. Entrou na salão e retirou um pequeno criado mudo. Era leve e conseguiu levar nas costas até o quartinho. Arrumou o móvel no canto esquerdo e afastou a mesa até o Centro do espaço. Ele conseguiria ali sentado escrever apoiando na mesa e alcançar o criado mudo apenas inclinando o corpo para a esquerda. Retirou as pastas que havia deixado na sacola sob o tampo da mesa e guardou-as dentro de um fundo falso na gaveta. Levantou-se e sentou-se sobre as pernas no chão em frente da mesa. Respirou profundamente três vezes.Tinha que relaxar e não pensar em nada. Apenas estar. Focou o olhar num ponto e pronto. ..apagou antes de entrar no Reino dos Céus. Foram segundos mas foi tempo suficiente para se harmonizar e restabelecer-se completamente como se tivesse dormido várias horas.
Saiu do quarto trancando a porta e descendo as escadas dirigiu-se até a cozinha. Ligou para o celular do Caleb. Apenas dava sinal de ocupado . Tentou mais duas vezes. " Ele deve ter desligado o celular" - pensou .

A CHAVE ESCONDIDAOnde histórias criam vida. Descubra agora