Sexto

12 0 0
                                    

      Começa a investigação

Ao pegar no celular, o Sr. Caleb notou que haviam três ligações não atendidas do velho." Depois eu ligo pra ele" -pensou ao atender a ligação da Abin.
- Sr. Goldstein ! - ouviu uma voz feminina do outro lado - Sr. Goldstein?
- Boa tarde senhorita Carmen Diaz !
- O Sr. Sergei Levandovski pede para o senhor ligar para ele hoje as vinte e duas horas. Ligar para o número de sempre.
- Obrigado Carmen. Ligarei sim. Tchau!
- Tchau!
Colocou suas roupas sujas dentro da máquina de lavar. Adicionou sabão em pó . Foi até seu quarto e verificou se haviam meias ou camisetas usadas espalhadas pelos cantos ou dentro do guarda roupa . Encontrou dois pares de meia cheirando a mofo dentro da gaveta inferior do guarda roupa. Voltou à máquina e a ligou. Sentiu sua visão cansada . Esteve usando sua Internet durante todo o período matutino. Na época em que morava na " Mossad" adquirira o costume de perambular pelas ruas de Jerusalém em todo fim de tarde. Percorria a Ma'ase Khoshev num determinado trecho onde situava uma Oficina Mecânica Ezekiel & Sons , ali ele entrava na primeira a esquerda e parava no Hummus Talpiot ,um dos vários restaurantes que haviam naquela região. Ali conhecera o Sergei Levandovski, um jovem estudante da antiga União soviética que estagiava como garçom. Tornaram-se amigos desde então e a partir dali continuavam juntos a caminhada seguindo em frente pela Yad Harutsim até completar o percurso na Po'alei Tsedek perto da General Pierre Koenig onde Sergei fazia um curso rápido da língua inglesa na Association of Americans and Canadians( AACI). Fazia um ano que chegara em Israel. Sua amizade com o jovem Caleb se intensificou pois podia aprender com esse amigo o hebraico e ministrar-lhe algumas aulas de russo . Saiam juntos com suas respectivas namoradas e terminavam o passeio na república onde vivia Sergei. Ambos no entanto eram apaixonados pela filha do diretor da AACI de nome Melissa Crosby.
Caleb, acabou atraindo seu amigo Sergei para o mundo da espionagem mas pagou caro por isso pois sua atitude acendeu uma luz piscante de perigo na mente da diretoria que desconfiava de tudo relacionado a União Soviética, e um jovem russo recém chegado era motivo de alerta .
O teste final para seu ingresso definitivo na Mossad ocorreu em plena selva amazônica após superar com méritos um árduo exercício de sobrevivência ao lado do Caleb no Alto Rio Negro entre os índios yanomami .
O Sr. Caleb Goldstein após ter se naturalizado brasileiro convidou o amigo Sergei para que viesse ao Brasil, dessa vez em circunstâncias bem diferentes. A proposta na verdade surgiu dentro do alto escalão da Abin que ja vinha acompanhando durante anos a evolução desse profissional nas fileiras da Mossad...a oportunidade finalmente surgiu quando Israel e Brasil iniciaram uma série de intercâmbio no Campo de segurança nacional. O Brasil enviou três agentes para integrar na Mossad e Israel também enviou três agentes para integrar nosso corpo de segurança....deu tantos resultados positivos que nossos agentes ficaram definitivamente por lá e dois de Israel optaram em viver aqui. Os resultados colhidos de ambos os lados foram excelentes...permutaram tecnologias secretas que até então jamais havia se cogitado...Sergei Levandovski acabou se naturalizando brasileiro e evoluiu muito dentro da Abin ocupando então cargo de extrema confiança Mora em Brasília. Casou-se com a Melissa Crosby e pelo menos duas vezes por ano visita o amigo Caleb em Sao Paulo. Caleb imaginava que o telefonema a noite seria exatamente para combinarem essa visita. Depois de organizar a area de serviço ligou para o velho.

O céu foi se enfeitando com inumeros tons do vermelho ao amarelo que o sol espargia na roupagem das nuvens . Lentamente sob o som orquestral de dezenas de pássaros exóticos na densa floresta da serra elas se alinhavam formando um cenário único louvando a mãe natureza em festa de primavera. Os quero-queros se agitavam gritando em defesa de seus espaços enquanto casais de jacus sobrevoavam as grandes árvores vindo pousar rasteiros nas clareiras perto do Casarão da Macieira. Inhambus se desafiavam à distância num canto longo e afinado. Cães se punham a ladrar obedecendo a não sei o que de regência maestrina sendo aos poucos imitados ao longe até os mais profundos recônditos das matas. A vida diária cedia a vez para a noturna numa harmonia ímpar que somente conseguem perceber as pessoas adequadas a esse ambiente. O velho regressara diferente e feliz pela visita aos netos e esposa. Chegando no portão verificou a caixa de correio. Continuava sem novidades. Ao descer pela rampa lembrou-se de que não alimentara a cachorra Pandora antes de sair de casa de manhã. A cachorra veio latindo contente e correndo balançando a cauda ergueu as patas até a altura de seu peito sujando sua camisa. Abraçou o animal com carinho e compaixão fazendo massagens em seu dorso.
- Boa tarde Pandora! Que estrago você fez no quintal ! Desculpa eu ter esquecido de sua ração . Vem aqui, você está morrendo de fome . - colocou ração na vasilha do animal e água no pote . A cachorra quase derruba tudo no chão desesperada pela fome. O velho se afastou dando a volta pelo quintal. Estava tudo uma bagunça . Haviam até roupas espalhadas sobre a grama. A cachorra conseguira entrar na área de serviço e fuçara tudo em busca de alimentos.
Havia escavado muito o solo sob a macieira. Ali na sombra sob a árvore sempre foi o lugar de repouso da Pandora . Arranhara com as patas dianteiras todo o tronco a partir da raiz como se estivesse perseguindo algum animal. O velho não conseguiria organizar todo o quintal nesse fim de tarde. Ja escurecia e as lâmpadas da rua acendiam. Recolheu apenas as roupas que estavam espalhadas no gramado. Colocou-as dentro do tanque. Antes de entrar, verificou por alto toda parte ao redor do casarão. Tudo certo exceto a bagunça que a Pandora aprontou. Entrou direto para um banho. Notou que esquecera o celular sobre sua cama. Haviam 'duas ligações do Caleb. Eles estavam se desencontrando. Precisava falar com o seu amigo mas não podia ser pelo celular . Achou melhor ligar. Ligou convidando-o para que viesse, ainda hoje se possível, até o Casarao da Macieira tratar de negocio. Nao entrou em mais detalhes ja se prevenindo contra qualquer especulação . O Caleb compreenderia com certeza essa frieza. Amigos amigos, negócios a parte ..Precisava da ajuda de um profissional discreto e que tivesse acesso a documentos históricos. Ele era a pessoa perfeita para esse trabalho. A pergunta que fica no ar: Ele aceitará? Quanto antes resolvesse, melhor. Já estava vencendo o prazo e nenhuma mensagem via correio....não pode vender nenhum terreno pois não sabe onde está o tesouro, ao mesmo tempo sua familia precisa quitar uma divida de impostos atrasados de algumas areas que estão sujeitas ao IPTU. Para seu sossego, pelo menos o terreno onde fica a Casa dos Alves ainda permanece como área rural...mas até quando?.
O Caleb apareceu uma hora depois.
- Então, meu amigo, do que se trata ? Algo tão importante que não podíamos falar pelo celular? - perguntou logo que entraram na cozinha.
- Estou precisando dos teus serviços.
- De quê? Aparar a grama? - perguntou Caleb rindo.
- Não brinca não. A coisa é seria.
- Algo a ver com o Claudio Acacio?
- Não, talvez ...não sei...pode ser também.
Caleb percebeu que precisava deixar que o velho esclarecesse a urgência da conversa e relaxasse. Pediu café.
O velho por sua vez tentava um jeito de falar sobre o segredo do tesouro. Ganhou uns segundos pensando enquanto preparava um café. Ajeitou a mesa com pão e queijo, doce de banana. Serviu o amigo e comentou:
- Você se lembra do sequestro da Geovana?
- Claro.
Ele fez contato ? - indagou referindo-se ao homem que aparecera na reportagem.
- Não, mas você não viu nada estranho na época ? Afinal você é da policia e tem o espirito investigativo no sangue.
- Algumas coisas não fazem sentido sobre esse sequestro. O assunto porém, foi resolvido..Prenderam o mentor.
- O que você acha que não faz sentido?
- Na época , acompanhei os fatos pela TV. Dei todo apoio de amigo, mas não podia me envolver pois ja estava aposentado da Abin e a Abin nem foi requisitada mas ouvi uns comentários lá dentro quando fui visitar um amigo na Polícia Federal. Você sabe que a Abin só é acionada em casos de segurança nacional.
- Que tipo de comentários?
- Porque um bando de sequestradores amadores teriam pedido uma fábula astronômica em valores a uma família de classe média?. Eles nunca fizeram sequestro algum. O sequestro da Geovana foi o primeiro e tenho certeza que jamais fizeram isso em outro lugar.
- E você sabe a resposta?- perguntou o velho.
- Não , mas você por acaso nunca se questionou sobre isso? - Indagou Caleb enquanto se servia com café e leite e ao mesmo tempo observava a reação facial do velho.
- Sim. Eu me fiz essa pergunta inúmeras vezes e a presença do Cláudio Acacio na TV me deixou alarmado.
- Porque esse rapaz voltaria a lhe importunar? Essa resposta você a possui mas respeito seu direito de não me dize-la.
- Mas é preciso que eu te diga. Antes no entanto quero saber como funciona seu trabalho, honorários, prazo , enfim como você costuma trabalhar?
Caleb sorveu um gole. O café estava muito quente. Assoprou para esfriar e ficou com o olhar fixo nos olhos do velho.
- Você é uma das raras pessoas que conhecem um pouco mais sobre minha vida. Sou aposentado e trabalho por conta. Presto serviços ocasionalmente para agentes federais que me procuram mas nada de trabalhos ditos consideráveis. Procuro dividir meu trabalho por etapas até completar toda a investigação. Cobro por essas etapas.
- Compreendo. Imaginava que havia um custo fechado por todo trabalho.
- Não é viável trabalhar desde jeito. Há investigações que começam tão simples e fáceis mas no decorrer do processo se tornam complicadas e perigosas envolvendo as vezes perigo de morte. Prefiro ouvir primeiro o que você tem para me dizer.

A CHAVE ESCONDIDAOnde histórias criam vida. Descubra agora