ACCIDENTAL

❁ [12] young blood ❁

Notas sobre o meu namorado:

Sua primeira paixão foi um garoto do fundamental, gostou dele por 5 anos; ele ainda sobe na barra de ferro que tem nos supermercados; usa maiúscula ou minúscula no início das mensagens de texto dependendo do quanto se sente confortável com a pessoa; costuma mandar áudios de 5 minutos contando empolgado sobre seu dia e depois se desculpa pela duração, mas faz a mesma coisa no dia seguinte; ele gosta de mandar fotos fazendo caretas em lugares públicos; gosta de abacaxi gelado; rói as unhas tanto quanto eu; é bom em matemática, mas prefere filosofia; gosta de aprender palavras estrangeiras que não têm tradução direta; ele mente para que as pessoas que se importam com ele não sofram.

E essa última característica é o que nos levou a ter várias discussões ao longo das nossas duas semanas de namoro.

Tivemos, é verdade, momentos muito bons e felizes em que eu percebo que a cada dia me apaixono mais por esse garoto. Entretanto, é difícil não pensar que ele está mentindo para mim constantemente e que o sorriso em seu rosto é passageiro.

Só que na minha tentativa de tornar esse sorriso algo que dure da porta de sua casa para dentro acho que só piorei as coisas. Com o tempo e com o ganho de intimidade eu meio que passei a ignorar o conselho de Nayeon e de minha mãe de não me envolver diretamente, apenas tentar trazer mais felicidade para sua vida. Bem, ultimamente ao invés de dar alegria parece que eu só pioro tudo me metendo em situações que não compreendo, e hoje eu consigo admitir isso, mas não foi bem assim anteontem.

Estávamos há meia hora discutindo via telefone porque no almoço daquele dia eu percebi uma nova marca roxa em seu corpo. Então lhe indaguei pela décima vez sobre o que estava acontecendo em sua casa, mas pela décima vez recebi a mesma resposta clássica:

— Eu já disse! Eu só me bati na quina de um móvel! Foi um acidente.

— Caralho, dá pra parar de mentir?

— Eu não to mentindo!

— Chega, Jimin. Eu desisto. Você não sabe ter ninguém cuidando de você, acho que já se acostumou.

— E você acha que pode falar alguma coisa? Você nem sabe como é ter um pai.

— Se for pra ter um pai como o seu eu prefiro que o meu continue bem longe.

E desliguei.

Eu não sei nem explicar o que diabos aconteceu nessa conversa.

Meu comportamento foi completamente inaceitável e eu tenho noção disso, mas na hora eu já estava com raiva e o que Jimin disse foi a gota d'água. Pessoas com raiva são como um trem desgovernado. Se já somos tendenciosos a falar coisas egoístas normalmente, a raiva deixa as pessoas sem filtro algum. É claro que isso não é uma justificativa, mas é o que eu digo para tentar desculpar a mim mesmo.

Nayeon estava certa, não tem como eu cuidar de Jimin sendo que não consigo cuidar nem de mim, o que posso fazer é incentiva-lo a tomar as decisões certas, mas até isso é difícil quando não conheço de fato a realidade em que vive. Antes, pelo menos, eu estava o ajudando a esquecer das coisas ruins, mas agora toda vez que nos víamos ao invés de o distrair eu constantemente trazia a tona o que lhe faz mal.

O pior de tudo é que mesmo sabendo que errei eu ainda estou com raiva dele pelo o que disse sobre meu pai. Por isso, não nos falamos há três dias. E hoje é meu aniversário.

1 de setembro, meu aniversário, e ele nem para superar o orgulho e me mandar um "ei, parabéns".

Espero uma mensagem dele desde meia-noite. Na virada meu celular quase trava de tanta mensagem recebida: memes no Twitter de meus amigos virtuais, amigos antigos que até pararam de falar comigo mas que postaram foto no stories do Instagram me desejando parabéns, um texto gigantesco de Jennie, um mini texto de Hoseok, um desenho digitalizado de mim dado como presente por Taehyung, entre outros textinhos, fotos, pistas de presentes que serão dados mais tarde, etc. Esse é provavelmente o aniversário em que mais recebo atenção, porém o que eu mais queria não acontece: uma simples mensagem de Jimin. E isso por si só arruina meu dia.