❁ [06] i wanna be yours ❁

4.1K 460 337
                                    

Está chovendo novamente e o barulho das gotas serve como trilha sonora para nós dois. Depois de nos livrarmos de meu moletom e de minhas calças também, eu e Jimin ficamos um bom tempo nos beijando e conversando sobre coisas aleatórias, espirrando água um no outro e nos escondendo dos casais que passam pela área da piscina para transar em um dos quartos nos fundos da casa.

— A gente tem que lembrar de pegar um pote pra levar comida. — Sugiro, entre selinhos na boca de Jimin, que está em meus braços. — Quero levar marshmallow.

— Você não vai me fazer passar a vergonha de pedir um pote, me dá cobertura e eu só enfio na mochila.

— Não precisa, a Jennie é muito tranquila com essas coisas. Ela é rica, mas tem alma de pobre. — Rio e acrescento mais beijinhos no rosto de Jimin. Socorro, ele é tão fofo, não consigo resistir. — Ei, ainda tem vodka na sua mochila, não é?

— Não, entreguei tudo para uma garota que estava aqui. Eu cheguei e ela imediatamente perguntou se eu tinha bebida, e eu dei porque ela parecia mais necessitada do que eu. Também porque, se eu tivesse qualquer bebida perto de mim, eu ficaria ainda pior. Não conta à Nayeon.

— Meu Deus, Jimin! Essa garota por acaso não era a Jeongyeon? — Agora faz sentido ela não estar aqui como prometeu.

— Puta que pariu!!! Eu sabia que conhecia ela de algum lugar, eu sou um idiota. — Jimin arregala os olhos e bate em sua testa. — O que ela está fazendo aqui? A Nayeon sabe?

— Tenho certeza de que sim, e espero que elas já tenham se encontrado. — Afinal, não é justo que só eu saia feliz dessa noite.

— Acho que sim, deve ser por isso que ela sumiu. Já são quase 3h e ela tinha dito que voltaríamos nesse horário.

— Foda-se a escola amanhã, eu não quero voltar agora. — Puxo Jimin de volta para mim e lhe dou um beijo prolongado.

Eu ainda mal posso acreditar que alguém realmente se interessou por mim por causa da pequena parte do meu universo que mostro nas redes sociais e do que os outros falam de mim. Por tantas noites eu chorei acreditando que nunca seria amado por alguém, enquanto uma pessoa maravilhosa pensava em mim e eu nem fazia ideia. Acho que é assim mesmo, a gente pode marcar a vida de alguém e não fazer ideia, porém me pergunto se Jimin manterá esse interesse depois que descobrir mais a fundo sobre mim.

Eu tenho medo de que ele tenha gostado apenas da parte feliz que mostro, porque o que há de ruim dentro de nós não é exposto na internet, muito pelo contrário, tentamos esconder isso até de nós mesmos. Minha ansiedade, minha indecisão e meu egoísmo são coisas que apenas as pessoas mais próximas de mim tem conhecimento, elas me aceitam mesmo assim, mas será que Jimin pode fazer o mesmo?

Ah, olhe para você mesmo, Jungkook: imaginando um futuro com alguém que acabou de conhecer. Parabéns, é por isso que você sempre quebra a cara.

Acontece que, mesmo se eu realmente me ferrar por causa das minhas altas expectativas, eu não vou abrir mão de ser feliz hoje por causa do amanhã. Essa forma de pensar me faz perceber que, apesar das diferenças, existem semelhanças entre minha filosofia e a de Jimin. Afinal, ambos gostamos da ideia de serendipidade mesmo com crenças opostas, ele deve gostar da palavra por representar o acaso, já eu gosto porque, para mim, tais coincidências são só instrumentos do destino.

— Hyung, por que você gosta do Existencialismo? Não acha que é uma forma muito fria de pensar?

Jimin estava com a cabeça repousada em meu ombro, mas olha em meus olhos antes de voltar a brincar com os dedos em minhas costas e responder:

— Sabe, já faz um tempo desde que eu saí da escola, mas ainda lembro da aula em que aprendemos sobre Heidegger como se fosse ontem. — Fico ainda mais atento. O que eu conheço do Existencialismo vem de Sartre, pois quando conheci a corrente por meio dele simplesmente me revoltei e não quis mais prestar atenção. Só fui bem na prova porque nas questões de múltipla escolha eu marcava as alternativas totalmente contrárias ao que eu acreditava. — Por muito tempo eu sacrifiquei a mim mesmo e a minha felicidade pra me encaixar no que os outros achavam certo para mim, e na autenticidade eu encontrei a liberdade. Ele fala sobre isso, sobre como fomos lançados nesse mundo e devemos transcender em busca da autenticidade ao invés de aceitar o "nada" imposto pelos outros. Sabe, Jeonggukie, pra mim não é sobre acreditar em Deus, destino, ou qualquer coisa do tipo. É questão de que já estamos aqui e não há garantias, a única certeza é a morte, então não devemos nos esconder, temos que ser felizes com o que temos, simplesmente existir.

ACCIDENTALOnde histórias criam vida. Descubra agora