Bilhete

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Estava aguardando a próxima sessão iniciar na sala 02 e como seria só uma pessoa eu deixaria para abrir a porta faltando oito minutos para começar o filme.
Enquanto não chegava o momento de abrir a sessão eu estava conversando com Irene sobre coisas aleatórias. Ela me contava que iria inaugurar uma loja de coisas de kpop próxima ao cinema, e como ela era muito fã do gênero, estava entusiasmada me falando sobre os álbuns que pretendia adquirir com seu próximo pagamento.

Desvio brevemente meu olhar percebendo que o possível cliente da próxima sessão se aproxima da bomboniere do cinema, então vou em direção da porta da sala e a abro verificando se as luzes internas estavam acessas, caso contrário o cliente acabaria caindo em algum degrau da escada, o que seria uma situação desagradável.
Bambam se aproxima de mim e começa algum assunto, mas que não consigo entender pois tenho minha atenção voltada para o rapaz que está vindo em minha direção.

Ele vestia um moletom branco e calça jeans justa com rasgos nos joelhos e a toca do moletom estava sobre o boné preto que usava, assim ninguém conseguiria ver seu rosto eu suponho, mas quando se aproximou de mim retirou a toca e o boné. Por alguns segundos, que pareceram muitos minutos na verdade, eu entrei em uma espécie de transe pois tudo no rosto daquele rapaz me convidava a ficar o admirando. Sua pele era clara e tinha aparência de ser muito suave e macia que fazia uma combinação linda com os lábios avermelhados que não eram tão grossos mas tinham um volume bem convidativo. Os olhos não chegavam a ser um tom de mel, mas eram de uma cor linda e isso o deixava atraente juntando com a pintinha em baixo de seu olho direito.

Eu podia ficar admirando aquele rapaz durante minutos, mesmo ele parecendo impaciente pois estava com a cara fechada ao que tudo indicava, mas fui interrompido por Bambam fazendo um "cof cof" nitidamente forçado para que eu voltasse a realidade. Assim que desperto daquela espécie de hipnose observo que o rapaz está bem próximo e com seu ticket direcionado a mim. Seu semblante sério.

- Err.. tenha um bom filme! - falo com certo entusiasmo na voz enquanto furo seu ticket e o devolvo.

Ele apenas o pega novamente e entra na sala sem ao menos agradecer, o que me deixa intrigado pois ele não parecia ser mal educado enquanto se aproximou da bomboniere e pediu pipoca. Eu pude ouvir seu tom de voz e não foi algo desagradável de se ouvir.
Me viro depois que o rapaz some de meu campo de visão e me deparo com Bambam segurando uma risada escandalosa do tipo que só ele consegue ter. Eu seria zoado.

- Você é péssimo secando alguém chefe.. - ele fala aos risos e eu o olho torto.

- Que foi? Vai dizer que não ficou interessado no rapaz? - ele ri mais ainda.

- O que eu vou dizer é que você tem uma sala toda pra limpar ainda ao invés de reparar no que olho ou deixo de olhar. - falo com tom de repreensão.

- Já estou indo, não se irrite!
Mas só pra concluir... Você tem bom gosto chefe. - Bambam pisca em minha direção e sai rindo sozinho até a outra sala.

Eu suspiro enquanto o vejo se afastar até a sala 01 que fica ao lado oposto de onde eu estava. Quando escuto um ruído vindo da sala onde o rapaz acabará de entrar, entro na mesma e desligo os interruptores que ficam localizados no corredor de entrada.

Os trailers haviam começado e a sala precisava estar totalmente escura, com exceção da luz proveniente das imagens que passavam no telão. Entro mais um pouco na sala chegando até a parede lateral do espaço e ao lado do telão, me viro em direção aos assentos e o vejo sentado no de numeração L16, que ficava em um posicionamento bom e quase no meio da sala. Como a única luz do local é originada pelo telão, e digamos que é muito forte essa iluminação, dificilmente uma pessoa sentada de frente para ele conseguirá enxergar alguém que esteja próximo as laterais do mesmo, é como se toda a luz que é direcionada dele deixasse os outros pontos mais escuros que o normal, dificultando a visão.

Eu aproveitei todo esse método que normalmente usamos para verificar as salas durante as sessões, pois não podemos deixar que os clientes utilizem celulares e nem que tenham má conduta durante o filme, para observar aquele rapaz. A luz do telão fazia com que todo o seu rosto ficasse iluminado, e eu posso jurar que por um momento eu não estava mais enxergando um humano, mas sim um anjo. Ele tinha os contornos de sua face com uma precisão que beirava a perfeição, como se tivesse sido esculpido por algum artista que quisesse zombar da beleza humana e provar que ele tinha o dom de delinear algo tão belo e raro que deveria ser apreciado por todos. Observo que ele não é muito expressivo, pelo menos não vendo filme, já que ele movia pouco a boca a não ser por estar mastigando pipoca e quase não mudava de expressão.

Depois de seis minutos ali dentro, saiu da sala e vou verificar as telas de TV que ficam na parte externa para os anúncios de novos filmes que serão lançados e também para expor a programação do cinema. Mesmo eu tentando negar, eu sentia uma necessidade imensa de adentrar novamente aquela sala e observar o belo rapaz. Já fazia algum tempo que eu havia aceito minha homossexualidade e estava bem com isso, nas nunca tinha vivenciado algo como esse sentimento. Era novo e me deixava confuso, mas era uma confusão boa e do tipo que deixa você ansioso por mais.
Já estava perto de acabar o filme da sala 02 quando volto ao interior da mesma e me posiciono ao lado dos interruptores das lâmpadas. Quando o filme termina e as luzes estão acesas vejo o rapaz, ainda desconhecido para mim, descer os degraus e o comprimento me abaixando levemente e agradecendo. Ele nada responde apenas acena com a cabeça de um jeito bem despreocupado.

O vejo se afastar da entrada da sala e suspiro indo até o acento que o mesmo estava para verificar se havia algum lixo e assim recolher. É então que percebo uma tirinha de papel localizada no suporte para copos que há na cadeira. Não havia lixo e aquilo tão pouco parecia um e isso só me fez ficar mais curioso para ver do que se tratava.

Pego o pequeno papel e o abro vendo uma frase onde se lia "A razão pode responder perguntas, mas a imaginação tem que pergunta-las. As pessoas são um mistério a ser desvendado, está disposto a desvendar este mistério?". Não sabia ao certo o que ele tentou expressar no pequeno bilhete, mas eu estava determinado a descobrir.

Algo me dizia que desvendar aquele moreno atraente me proporcionará uma experiência única e espero não me arrepender de já estar cogitando conhecê-lo melhor.

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Olá pessoas lindas, espero que tenham curtido a leitura <3

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