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O raciocínio lógico de Andrea Sachs perdia-se em suspiros de total agonia defronte a pilhas e pilhas de papéis sobre a mesa.

Era de praxe literalmente perder a noção do tempo em meio ao trabalho interminável que precisava realizar diariamente como assistente da editora Miranda Priestly, mas a tensão que se instalava nos corredores do escritório às vésperas de uma nova edição da revista tornava cada segundo ainda mais insuportável. Ao ser responsabilizada completamente pelo Livro da Runway, Andrea sentia-se inteiramente sobrecarregada: sua rotina estava reduzida em acatar milimetricamente as observações feitas à caneta nas margens das páginas e repassá-las aos demais responsáveis pelo conteúdo da revista, os quais estavam igualmente atordoados pela pressão que as reações negativas da editora-chefe lhes causavam.

Tudo estava fora de ordem. Emily, também assistente de Miranda, encontrava-se no mesmo estado de atordoamento de Andrea; a fim de recuperar um pouco de sua energia para terminar de realizar sua função estabelecida, a esguia mulher de cabelos ruivos dirigiu-se à recepção do escritório, ao encontro da máquina de café que, ao ter seu primeiro botão pressionado, espirrou a bebida sobre as vestes claras de Emily.

- Mas que inferno! – Imediatamente exclamou Emily, ao sentir o líquido quente chocando-se contra sua barriga e manchando sua camisa Dior.

- Emily, está tudo bem? – Perguntou ingenuamente Andrea, esticando seu pescoço em direção à porta da recepção.

- Eu pareço bem para você? – Respondeu a ruiva em fúria, cruzando a porta dirigindo-se até sua mesa para pegar um lenço que havia em sua bolsa – como se não me bastasse perder a cabeça neste escritório, acabo de perder minha camisa mais cara... – concluiu, pesarosa, enquanto esfregava o lenço seco em sua blusa na esperança vã de remover a mancha. Andrea, discretamente, deixou escapar um sorriso sarcástico pelo canto de seus lábios ao observar tal tolice.

- Emily, estamos exaustas, precisamos ir para casa... já são 19h passadas, e as pilhas de papéis parecem nunca acabar! – Aproveitou o ensejo para manifestar seu descontentamento – Mas, apesar disto, eu estou em, digamos... melhores condições – continuou olhando para a mancha na camisa de Emily, selecionando cuidadosamente as palavras que emitia para não estressar mais ainda sua colega – para concluir o que falta. O que você acha de ir para casa descansar? Eu posso terminar sua parte.

Emily ficara extremamente contente ao ouvir tais palavras, porém seu orgulho e imagem soberba não a deixaram esboçar sequer um sorriso na face. Assentiu com a cabeça fazendo um sinal positivo, e agradeceu a colega de forma objetiva e pontual. Desistiu de esfregar o lenço em sua blusa e o guardou na bolsa, a qual carregou no braço em direção à saída do escritório. Ao deixar a peça, o som da batida da porta decretava que Andrea estava completamente sozinha na Runway, exceto pela presença de Miranda Priestly em sua sala particular.

- Andrea? – Chamou a editora em tom austero. A assistente, embora tomada pelo sentimento de desprezo a si mesma por permitir sacrificar tanto tempo de sua vida servindo àquele emprego, levantou-se e fora ao encontro a sua chefe.

- Sim? – Questionou em sua prontidão e inocência que tomava conta da sala da editora cada vez que a adentrava, tal atmosfera que era quase incômoda; Miranda, olhando sobre os óculos perfeitamente equilibrados na ponta de seu nariz, analisou cada detalhe de Andrea dos pés à cabeça sem manifestar qualquer expressão facial.

- Todos foram embora? – Perguntou Miranda, enquanto fechava a última revista que estava a ler e a deixava sobre sua mesa.

- Sim, Miranda. Me ofereci para concluir o trabalho de Emily, pois ela teve um contratempo e precisou sair antes de termina-lo. Posso ficar até mais tarde – dispôs-se cordialmente, priorizando o resultado do trabalho para a revista.

- E por que diabos você vai ficar mais tempo, Andrea? – O tom agressivamente sarcástico na voz de Miranda era assustador e ecoava pela sala enquanto a grisalha levantava-se de sua cadeira e se aproximava da assistente – Não posso acreditar que seja pelo trabalho, tendo em vista o seu estado – olhou-a mais uma vez dos pés à cabeça, reduzindo o ritmo de sua fala – deplorável de cansaço.

Andrea constrangeu-se imediatamente; sentiu suas bochechas corarem e seu coração palpitar. Miranda era extremamente cruel com suas respostas grosseiras sem motivos que as tonassem cabíveis. A assistente mal pôde formular mentalmente uma resposta que a defendesse, pois, a chefe ainda não havia concluído sua fala:

- Me diga, Andrea... Há, de fato, uma preocupação com o trabalho a ser feito ou... – ponderou, diminuindo consideravelmente seu tom de voz sem perder a autoridade no mesmo – você gosta de permanecer aqui a partir do horário em que todos vão embora, exceto eu e você?

O Despir do DiaboWhere stories live. Discover now