Uma ratoeira no século XVII
A invenção da ratoeira não data de nossos dias. Assim que as sociedades, ao se formarem, inventaram uma polícia qualquer, essa polícia, por sua vez, inventou as ratoeiras.
Como talvez nossos leitores ainda não estejam familiarizados com a gíria da rua de Jerusalém, e esta seja, desde que escrevemos — e já se vão uns quinze anos — a primeira vez que empregamos tal palavra aplicada a essa coisa, expliquemos o que é uma ratoeira.
Quando, numa determinada casa, prendem um indivíduo suspeito de determinado crime, essa detenção é mantida em segredo. Colocam então quatro ou cinco homens de emboscada no primeiro cômodo, abrem a porta a todos os que batem, fecham-na com eles dentro e os prendem. Dessa forma, no fim de dois ou três dias, estão ali quase todos os frequentadores da casa.
Eis o que é uma ratoeira.
O apartamento de mestre Bonacieux, portanto, foi transformado em ratoeira, e todos que apareceram por lá foram detidos e interrogados pelos homens do sr. cardeal. Desnecessário dizer que, como uma passagem privada conduzia ao primeiro andar habitado por d'Artagnan, os que iam à sua casa estavam isentos de tais encontros.
Além disso, os três mosqueteiros iam até lá sozinhos. Haviam começado a procurar cada um de seu lado, mas não tinham encontrado nada, descoberto nada. Athos chegara inclusive a interrogar o sr. de Tréville, atitude que, considerando o mutismo habitual do digno mosqueteiro, deixara admirado o seu capitão. Mas o sr. de Tréville não sabia de nada, a não ser que, da última vez que estivera com o cardeal, o rei e a rainha, o cardeal tinha um semblante muito preocupado, o rei estava inquieto, e os olhos vermelhos da rainha indicavam que ela ou não dormira ou chorara. Mas essa última circunstância não lhe causara muita espécie, pois a rainha, depois de seu casamento, ficava sem dormir e chorava com muita frequência.
O sr. de Tréville, em todo caso, recomendou a Athos o serviço do rei e sobretudo o da rainha, pedindo-lhe que fizesse a mesma recomendação a seus companheiros.
Quanto a d'Artagnan, não arredava de casa. Convertera seu quarto em observatório. Das janelas acompanhava a chegada dos que se deixavam prender. Além disso, como arrancara os tacos do assoalho, escavando o piso, e um simples teto o separava do quarto de baixo, no qual ocorriam os interrogatórios, ele ouvia tudo que era dito entre os inquisidores e os acusados.
Os interrogatórios, precedidos de uma revista minuciosa da pessoa detida, consistiam quase sempre nas seguintes perguntas:
— A sra. Bonacieux entregou-lhe alguma coisa para seu marido ou para qualquer outra pessoa?
— O sr. Bonacieux entregou-lhe alguma coisa para sua mulher ou para qualquer outra pessoa?
— Seu marido ou sua mulher fez-lhe alguma confidência de viva voz?
"Se soubessem de alguma coisa, não perguntariam dessa forma", pensou consigo d'Artagnan. "Ora, o que procuram saber? Já que o duque de Buckingham não está em Paris e não teve ou não deve ter entrevista alguma com a rainha."
D'Artagnan aferrou-se a essa ideia, a qual, por tudo que ouvira, não era de todo absurda.
Enquanto isso, a ratoeira funcionava, e a vigilância de d'Artagnan também.
Na noite do dia seguinte à prisão do pobre Bonacieux, quando Athos acabava de se despedir de d'Artagnan para dirigir-se à casa do sr. de Tréville, quando as nove horas acabavam de soar e quando Planchet, que ainda não fizera a cama, começava seu expediente, ouviu-se alguém batendo à porta da rua. Dali a pouco essa porta se abriu e fechou. Alguém acabava de ser apanhado na ratoeira.