Capítulo Único - Maresia

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Quase cinco horas da tarde e Armando ainda na rua. Saiu mais ou menos às duas da tarde pra resolver umas coisas e umas quatro já queria estar debaixo do chuveiro tomando um banho bem gelado (porque o calor de Salvador não tava de Deus não). Porém, como nem tudo nessa vida são flores, acabou atrasando um monte de coisa.


Aproveitou pra ir tomar uma cervejinha no barzinho do seu Aguinaldo. Conhecia esse velho desde que se mudara praquele bairro, há mais de doze anos atrás. Tinha a esperança de que ele faria um desconto no seu chopp. (Ele nunca fazia, mas não custava tentar.)


A preguiçinha de final de tarde de sexta-feira bateu com força. Junto com ela, uma carência que nem ele mesmo tava reconhecendo. Ficou olhando o mar. Lembrou de Wilson.


Wilson adorava mar, adorava praia. Não podia ver um dia de sol que já tava enchendo o saco pra ir à praia. Armando sempre era o primeiro a se opor à ideia. Odiava praia. O sol queimava a sua pele pálida e deixava ele todo vermelho, parecendo um camarão. Não que Wilson fosse muito diferente dele – a única diferença era que ele gostava da sensação de fritar no sol de 10h da manhã de Salvador.


Bufou, soltando uma risadinha em escárnio logo em seguida. Quem em sã consciência iria optar por ficar não sei quantas horas debaixo daquele sol escaldante pegando bronze ou seja lá que porra?


Tomou um gole de sua Devassa, ainda pensando nele. Sacou o celular do bolso e deu logo de cara com o negocinho que ele nunca sabia o nome ("widget", dizia Wilson, porra de "uídjete", rapaz) dizendo a temperatura. 34ºC de sensação térmica. Porra, Salvador.


Ficou imaginando o que Wilson estaria fazendo nesse momento. Considerando que ele recentemente inventou de voltar a estudar, chutou que ele estaria tentando resolver questão de alguma matéria chata que cai no Enem. Mas só tentando mesmo, porque ele fica insuportável quando tá (segundo as próprias palavras dele) "preso dentro de casa" no calor. Reclama a cada trinta segundos. No mínimo, irônico, já que ele ama tanto assim a praia.


A mão de Armando tava coçando pra ligar pra pedir pra ele vir tomar uma cervejinha com ele. Mas Wilson tava levando essa história de estudar a sério. Não achava que tinha muita possibilidade de ele aceitar.


Mas ligou mesmo assim.


"E aí, que que cê tá fazendo?"


"Acabei de sair do banheiro. Tava tomando banho. Esse calor não tá dando mais não, velho, sinceramente."


"Pronto. Pois então você não tá afim de aparecer aqui no Aguinaldo pra tomar uma cervejinha comigo não?"


"Ah, sei lá. Pode ser... Daqui a pouco eu chego aí." Wilson demorou um pouco pra responder, mas aceitou. Será que tinha desistido desse negócio de estudar? Quando ele chegasse, iria ficar perguntando, só pra atazanar a paciência dele. Esse era um dos passatempos preferidos de Armando.

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⏰ Última atualização: Mar 08, 2019 ⏰

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