Corra.

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Corra...
Então corra
Corra...
Então corra.

Não corra não, meu bem
Tu pode ir bem mais além
Tu não deve a ninguém
Não precisa ser refém
Não, de ninguém.

Não ande sozinho na noite
Tu pode ser pego pela corte
Tu pode vagar pelo monte
Não precisa ir tão longe
Não, fique no monte.

Então se liberte da escravidão
Tu pode ser mais que escuridão
Tu pode seguir o teu coração
Então não faça abolição
Não, saía do chão.

Não se corrompa com o capital
Tu pode viver bem na moral
Tu não precisa ser maioral
Não relaxe o seu astral
Não, seja imoral.

Corra...
Então corra
Corra...
Então corra.

Não corra não, neguim
Tu pode chegar perto de mim
Se tu se sentir melhor assim
Não fique pagando de escravo ai
Não, não seja assim.

Seja o que tu quiser
Luther King, Projota ou Pelé
Se tu quiser seja mulher
O que importa é a tua fé
Então, fique de pé.

Tô cansado de ouvir não
Tô cansado de ouvir pega ladrão
Me cansei dessa revolução
Com o nego toda ingratidão
Sem, sem solução.

A vergonha dos ancestrais
A putinha dos policiais
Quem iniciou todo esse cais
Sem ter a certeza de olhar para trás
Não, não olhe pra trás.

Corra...
Então corra
Corra...
Então corra.

Não adianta ir na rua protestar
Não dá pra fazer o nego voltar
Irmãos correndo na rua de lá
Me pergunto quando isso vai acabar
Quando, quando vai acabar.

Eu sou o próximo Michael Brown
Pena que a polícia ainda não me achou
E tudo que o nego já suportou
Ainda perguntam sobre o seu valor
Qual, qual teu valor.

Eu sou o próximo Anthony Hill
Que sem motivos sucumbiu
Rumo à puta que pariu
Ninguém me conhece nesse Brasil
Não, eu nunca existiu.

Vou correr até chorar
Vou chorar até suportar
Vou suportar até isto acabar
Será que o racismo vai acabar
Quando, quando será.

Corra...
Então corra
Corra...
Então corra.

Poesia Preta.Onde histórias criam vida. Descubra agora