Give me your hand

Não está tudo bem

Camila's view

Um e-mail e o meu coração congelou. Procurei meu celular, eu precisava falar com a Lauren. Não queria falar com ninguém antes de falar com ela. Aquilo não podia ser real. Eu li, reli, li mais uma vez, sentia meu rosto queimar. Comecei a imaginar um milhão de possibilidades.

"Como eu vou dizer isso pra ela sem ter um treco antes? Como ela vai reagir? Eu ligo ou mando uma mensagem? Karla Camila, é só uma possibilidade, não cria tanta expecta...."

AAAAAAA JÁ CRIEI

Procurei na lista de contatos favoritos, "Lolo".

"LIGAR"

...
...

— Alô? Amiga? Tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

— Oi Laur, você ta ocupada? Preciso conversar.

— Um pouco, tem que ser agora?

— É...

— Desculpa, eu te ligo depois, pode ser? Beijo, até mais tarde.

— Ok, se cuida. Até.

E lá se foi toda minha euforia. Há dias isso vinha se repetindo, "pode ser depois?" "agora não dá", "estou ocupada", "depois a gente se fala", "desculpa".

Eu me senti tão insignificante. Era difícil aceitar tantas desculpas quando parecia não haver mais espaço para mim na rotina da minha amiga, mas respirei fundo e decidi relevar, contaria a notícia quando ela me ligasse de volta.

Só de pensar na possibilidade de deixar minha cidade para morar e estudar em outro país, e ainda estar perto de Lauren, meu coração parecia que ia saltar da minha boca. O e-mail me oferecia a chance de estudar por seis meses em uma iniciação científica NO CANADÁ! Eu estava tão animada para fazer isso acontecer.

Lauren me convenceu de nos inscrever neste projeto juntas há cinco meses. Decidi ceder porque me parecia bobo, nunca aconteceria de verdade. Foi apenas mais uma inscrição entre um milhão de outras que fizemos, a única diferença é que era fora do país. O e-mail continha a informação de que eu havia sido pré-selecionada, mas ainda faltava todo um processo para ser aprovada.

Eram sete horas da manhã quando me levantei agitada e fui para a cozinha preparar o café da manhã. Tive que encontrar uma maneira de canalizar toda aquela ansiedade.

— O que aconteceu com Camila? Amor, substituíram nossa filha! — Mamãe disse surpresa enquanto descia as escadas.

— Eu vivi para ver esse dia. — Papai vinha logo atrás, estranhamente bem humorado.

— Uma jovem quando ela acorda de bom humor, não quer guerra com ninguém. Respeitem o meu momento. — Eu disse, e os dois se olharam em um silêncio que parecia dizer muito.

— Esse bom humor por acaso tem nome? — Surgiu da minha mãe a típica pergunta sugestiva.

— Deixa eu ir antes que essa conversa fique constrangedora, tchau pra quem fica. — Ele pegou um pão de queijo e saiu apressado pela porta que dava para a garagem de casa.

— Não senhora, eu não vou contar o motivo, não ainda. Nem adianta insistir.

Mantive a decisão de contar para minha amiga antes de qualquer outra pessoa.

— Tudo bem, mas saiba que é bom ver você animada assim. Desde que Lauren foi estudar no exterior, você tem estado muito triste, minha filha. — Disse ela colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.