1. Não se diminua pra caber em alguém

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Malu

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Malu

Mais um ano tinha acabado de começar e com ele mais uma série de brigas. Eu já tava desgastada, sabe? Eu namoro com o Fábio tem 7 anos e é sempre a mesma coisa. Se eu bebo um gole de cerveja eu to "Sendo irresponsável, não tá pensando no teu futuro, que absurdo, cara!", mas se ele quebra a mesa da varanda da minha casa em plena festa de ano novo e eu reclamo eu to sendo "Muito egoísta! Caraca Malu, eu deixei de viajar pra praia com os caras pra virar o ano com a tua família, como você pode jogar tudo sempre em cima de mim?".

Eu já não sabia mais como me comportar no nosso relacionamento, algo que deveria ser tão simples, afinal, é um vida dividida com alguém a mais de 7 anos, não deveria ser assim. As palavras continuam vindo na minha cabeça como um grito.

"TERMINAR, VOCÊ PRECISA TERMINAR"

Mas eu não podia. Como que eu ia viver sem a minha vida? Era assim que eu chamava o Fábio, de vida. Ecoava na minha cabeça o verso daquela musica "sem ter alguém pra chamaaar, de vidaaaa", e eu já começava a chorar, confesso que sou uma mulher chorona, metade de mim são lágrimas e a outra metade são sonhos. E esses sonhos são outra questão, eu nunca quis ser mãe! Eu quero conhecer o mundo, sair do Brasil, morar em Portugal, fazer uma pós graduação lá na gringa, estudar a arquitetura do nosso mundo, que é gigante, e aqui eu me sinto tão pequena, eu to constantemente me diminuindo pra caber dentro de alguém. Até que ponto vale a pena jogar meus sonhos fora pra sonhar o de alguém? Eu amava o Fábio, mas eu não queria ser a mãe dos filhos dele, eu amava o Fábio mas eu não queria alugar um apê perto da praia pra fazer churrasco pros "caras" todo domingo, eu amava o Fábio mas eu não tenho medo de avião, minha alma é grande demais pra caber só desse lado do oceano, isso me lembra a ultima discussão que a gente teve na semana do natal.

O Fábio queria casar, e eu não, ele sempre soube disso, tivemos anos suficientes pra ele conhecer quem eu sou e quem eu pretendo ser, mas parece que isso  não adiantava. Minha prima veio aqui pra casa passar Natal com a gente e ela acabou de ter um bebê, ele é lindo! O nome dele é Lucca e ele sorri toda vez que alguém fala bú! E numa dessas brincadeiras minha e do Fábio com meu priminho ele me solta um

"Mal vejo a hora da gente ter o nosso" E claramente minha cara de desconforto ficou óbvia. "O que foi Maria Luiza? Porque você sempre faz essa cara? Você não quer ser mãe dos meus filhos?"

"Você sabe que eu não pretendo ser mãe dos filhos de ninguém, vida"

"Ah, claro! Quantas vezes eu vou repetir Malu? Você quer mesmo chegar aos 40 anos e ser uma mulher frustrada? Sem realização? Sem uma pessoa como eu pra construir a vida contigo? Você sabe que ninguém vai te amar como eu te amo, ninguém vai ter a história que a gente tem, isso é coisa de uma vez na vida, amor"

E isso mexia comigo, eu passei o resto do natal todo pensando que "isso é coisa de uma vez na vida, amor" e até que a ideia de ter um filho começou a fazer sentido... Sei lá, não devia ser tão ruim, eu precisava ceder pra ele. 

Minha avó sempre contava a história dela e do meu avô, meu avô morreu quando eu tinha 7 anos de idade e ele sempre repetia "nunca aceite na sua vida alguém que te dê menos que uma parede de hambúrguer". Ele dizia isso porque quando minha vó era pequena, ela era tão pobre que mal tinha dinheiro pra comer o básico, e quando ela via pessoas da cidade dela ou algum amigo comendo um hambúrguer, o sonho dela era que caísse uma caixa de hambúrguer do céu pra ela poder comer. No primeiro dia dela morando na casa nova dela e do vô, assim que ela entrou, a parede da sala estava cheia de hambúrguer na prateleira, meu avô tinha feito um por um,tudo pra tocar um desejo de infância. Não aceite alguém que te dê menos que uma parede de hambúrguer, droga. Quando eu ia ganhar a minha? Eu nunca tinha ganho nem buquê... Pode parecer bobo mas eu SEMPRE quis um buquê de flores, e a gente tava a 7 anos juntos e eu nunca ganhei nem uma rosa. Ele sempre dizia que achava bobo, "imagina só, você andar com buquê na rua e todo mundo olhando, que micooo!". É, que mico.

Eu não consigo tomar uma decisão no meio desse caos, eu sinto que mereço mais, mas talvez eu precise doar mais, né? Porque o Fábio é incrível, ele nunca me traiu, quer formar família comigo, é um cara honesto e bom pra mim, é difícil achar um desses nos dias de hoje.

A gente tinha combinado de conversar hoje, faz cinco dias que a gente não se fala direito desde a virada no ano. Eu tava sem paciência e ele também, ficamos cada um na sua e é isso. Mas foi bom pra pensar, eu realmente amo o Fábio, ele é meu chão, se eu ficar sem ele meu mundo vai todo desmoronar porque ele é minha base, vale a pena sabe, todo relacionamento tem "e se", ou então "será que?". Faz parte da vida né? ... né? Ah sei lá, acho que vou pagar pra ver, deixar pra lá, eu sempre deixo tudo pra lá por ele, são 7 anos, não 7 dias...

Eu tava terminando de montar minhas aulas de Francês, eu sou formada então eu dou aula num curso aqui perto de casa, quando eu tava terminando ouvi o interfone e já suspirei, eu sabia que era o Fábio. Gritei pra Dani, minha irmã do meio, atender o telefone pra mim, quando ela disse que ele podia subir senti a voz dela meio chorosa. Fui até a porta do quarto e ela passou meio que tampado o rosto.

"Que foi Dani? ta tudo bem?"

Minha resposta foi uma porta batida na minha cara, tenso. Não consegui ir conversar com ela, ela não me deixou entrar, resolvi ir atender o Fábio e tentar conversar com ela depois. Logo fui abrir a porta, quando eu abri tive uma surpresa.

"Fábio!! Eu não acredito que vocês fez isso..."

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⏰ Última atualização: Mar 14, 2019 ⏰

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