há tantas e tantas estações sonho com o dia em que finalmente ganharei minhas asas. sejam elas grandes, pequenas, belas ou feias, não me importa, desde que carreguem meu corpo exausto para um lugar distante deste.
cada despertar é doloroso e sombrio. aquilo que deveria estampar em meus lábios os mais brilhantes sorrisos, apenas põe angústia sobre angústia em minhas costas, e carrego de tal peso há tantas estações...
há dias em que meus músculos se contraem em aflição; dias em que o escarlate percorre vagarosamente de dentro para fora de minha pele, em união ao translúcido que meus olhos transbordam.
por muitas vezes, alimentar meu cérebro com melodias agitadas e em volumes exagerados alivia a dor por instantes. nem sempre resulta.
aquilo que fica impregnado no peito,
na mente, na alma, leva tempo a sair.peço tantas vezes aos horários de dígitos comuns para que minhas asas cheguem logo, mas eles já não me ouvem, assim como as estrelas cadentes, anjos e quaisquer outras superstições. sinto-me mudo. talvez esteja.
há tempos em que deixo tanto de lado. deixo por eles. consigo contar nos dedos os que tenho, e o pavor de perde-los é tão imenso que me faz deixar de lado. os tremores que se fodam, eles precisam de mim. o ar - que já não me é abundante - esforça-se para retornar aos brônquios. e eu os ouço. eu me esforço para sugar cada um de seus demônios, pois prefiro ter todo o peso dos céus em minhas costas à deixa-los sentir da mesma dor que senti.
sacrifícios após sacrifícios. estações após estações.
escarlate corre, translúcido pinga.dor que não cessa.
diga-me, grande e poderoso universo, quando finalmente terei minhas asas?
juno.
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𝘰𝘶𝘳 𝘬𝘪𝘭𝘭𝘦𝘳 𝘮𝘪𝘯𝘥𝘴.
Randomassombros diários transcritos em angústias contínuas. © junggkox, 2018.