Durante todo o caminho minha mente divagou, pensei em como minha vida iria mudar, que eu nunca mais veria Damon na vida, e Trouble deve estar morta a essa altura. Todos os criados do castelo correndo horrorizados, guardas tentando inutilmente ganhar uma guerra perdida e eu, fugindo que nem uma covarde. E então chorei, por todos aqueles que morriam por mim. Não havia mais nada que eu pudesse fazer além de chorar, o que só me fez me sentir ainda mais covarde. E agora eu ia para Noslen, onde eu nunca mais sairia. Não porque eu não queria, mas porque não deixariam, eu me tornaria uma Slen, e nenhuma Slen deixaria eu sair até que meus estudos tivessem sido concluídos, mas não seria relevante, porque eu apenas aprenderia sobre Noslen.
Noslen. Noslen. Nunca achei que sentiria raiva da minha própria religião.
A viagem foi mais rápida do que imaginei. Me recompus, e desci da carruagem com a minha mala. Os guardas me olharam com pena. Mas não queria que sentissem pena de mim, e sim, daqueles que morreram. Eu sou inútil, e inúteis não devem ter a pena de ninguém. Sou apenas a princesa de um reino caído. Que será lembrado nas aulas de história como o reino mais idiota da história.
Entrei no jardim de Noslen e olhei os canteiros com flores murchando, as folhas das árvores caídas e amareladas. Bati na porta e uma Slen a abriu e me observou por alguns segundos. Era uma mulher alta, tinha olhos azuis, com uma túnica azul escura que ia até os pés, que estavam com sapatos fechados também na cor azul escuro, os cabelos estavam cobertos por um pano típico das Slens.
— Quem é você? Está perdida?
— Meu nome é Skarllet, e não, não estou perdida, fui enviada pelo rei Will.
A Slen se assustou e chamou uma outra Slen, uma Slen mais velha, e certamente mais sábia. Essa Slen estava vestida da mesma forma que a outra. Ela me avaliou e fez sinal para que eu entrasse no local. Eu a segui. O lugar era simples, tinha uma escada um pouca a frente da porta e dois arcos, um de cada lado. Ela me conduziu para cima e me levou a uma espécie de escritório. Ela fez sinal para que eu entrasse e quando entrei para minha surpresa ela fechou a porta e não entrou. Olhei em volta e vi uma outra Slen. Ela estava sentada me observando igual às outra duas.
— Porque está aqui?
— Fui enviada pelo rei Will.
A Slen teve uma breve surpresa, mas logo depois ficou séria novamente.
— Sabia que isso um dia ia acontecer, estava em uma das profecias. Sabe que agora em diante sua vida irá mudar?
Assenti.
— Você vai ter que cortar essas pontas azuis do seu cabelo. Não poderá mais usar esse tipo de roupa, apenas túnicas e casacos permitidos. Sua túnica estará te esperando na sua cama, juntamente com uma tesoura, para cortar seus cabelos. Aqui não terá ninguém para fazer suas tarefas, todos os dias você será escalada para fazer tarefas e aprender. E se não o fizer, terá graves consequências. Espero que tenha um bom dia. Hoje você apenas terá que se preparar. A Slen Olga vai te mostrar seus aposentos e os lugares que você poderá frequentar.
Assenti novamente. Uma Slen entrou na sala, provavelmente essa tal de Olga, e fez um sinal para que eu a seguisse. Quando saímos do escritório ela me conduziu por um longo corredor e disse.
— Aqui ninguém tem seu próprio quarto. Todos dividem o mesmo. A única Slen que tem o próprio quarto é a Slen superiora. Mas parece que ela abriu uma exceção para você e uma garota, a qual você irá dividir o quarto. Ela provavelmente está ocupada nesse momento, então a noite você a verá.
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Killer Queen
Historical FictionDepois de duzentos anos do fenômeno Shutter, que resfriou a Terra durante seiscentos anos, onde civilizações foram devastadas com a perda de toda tecnologia até então existente, restando apenas poucos registros em livros. Os humanos estão vivendo um...