2 - Se ficasse na sua frente

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O encaro possuído pela raiva, no estado que eu estou realmente poderia bater nesse... Mas me concentro para respirar fundo e sentar novamente na minha mesa.

- Além de tudo é covarde - Suk fala baixo para que apenas eu escute

- Ou tenho ética suficiente para não começar uma briga no meio do escritório - digo no mesmo tom de cinismo.

- Você que sabe, se quiser terminamos isso lá fora... - ele sorri com deboche. - Aí a gente vê quem é melhor.

- Você não vai conseguir me provocar Suk - digo fingindo mexer no computador.

- E por que eu acho que já provoquei? - Ele continua com o sorriso.

- Porque você é... - percebo a força que estou colocando ao segurar a mesa e respiro fundo ante de xingá-lo e volto a mexer nos meus papéis ouvindo-o rir.

Não posso deixá-lo me desequilibrar, não posso deixá-lo me desequilibrar.

Pego o telefone da moça de mais cedo e peço que me mande uma digitalização do testamento e uma declaração escrita de como era a relação do senhor com a garota.

Depois disso volto a trabalhar no casa da mãe que está processando a escola do filho. O garoto é autista e sofria bullying dos funcionários.

Mas assim que começo a ver os documentos que ela me enviou o e-mail da viúva chega, e como a audiência dela é antes me apreço para ler:

Tudo começou assim que ele adotou a garota. Percebi que tinha sido um erro na mesma hora. Que seria uma má influência para meus filhos colocar aquela peste dentro de casa.

Ele não percebia, porque ela era especialista em bajulá-lo e se fazer de santa perto dele, mas quando ele estava fora a garota parecia o demônio. Ela sujava tudo, quebrava as coisas e depois queria colocar a culpa nos meus, pobres e inocentes, filhos.

Ele adotou uma criança ou uma adolescente? Porque não vejo uma criança pequena bajulando alguém,  nem uma adolescente sujando e quebrando tudo. Se bem que...

Me sinto mal por pensar nos meninos ao ouvir sujar e quebrar. Tiro o pensamento da cabeça e volto a ler:

As coisas iam piorando com o passar do tempo, a garota era atirada e tentava seduzir meus garotos para conseguir mais da herança. Mas claro que eles não lhe davam bola, afinal foram bem criados.

E no ano passado meu marido começou a adoecer, foi quando a víbora viu a oportunidade perfeita para dar o bote. Ela o bajulava cada vez mais até, por fim, convencê-lo a deixar metade da herança para ela e apenas um quarto para cada um dos meus filhos.

E por isso ela está sendo acusada de fazer a cabeça do meu, pobre, marido, e espero que a justiça seja feita.

Acabo rindo, esse é um dos relatórios mais mal escritos que eu já vi, mas já devia esperar por algo assim depois daquele primeiro encontro. É evidente que ela está se vitimizando, e aos garotos, mas a questão é: quanto ela está exagerando? E se está fazendo de propósito ou se realmente se sentia desse jeito.

Abro o arquivo do testamento.

Ele realmente deixou cinquenta por cento do dinheiro nos bancos para a garota e o resto para os dois garotos.
Mas duas coberturas e todas as joias e objetos de valor ficaram para a esposa e os carros para os garotos. Fora o dinheiro ele deixou apenas um pequeno apartamento para a garota, para ser entregue assim que morresse.

- O.K., isso é estranho - falo sozinho.

Por que o apartamento deveria ser entregue no momento da morte?

O dinheiro deve ser gasto, prioritariamente, com os estudos e só será liberado por completo quando esses terminarem, assim como os carros, mas o apartamento dela é para ser entrega imediata.

- Será que ela realmente estava influenciando o cara? Mas por que pedir o apartamento pequeno e não o grande?

Talvez tenha pedido desse jeito para que não ficasse evidente, mas do jeito que a moça falou dela elas já devem ter uma richa há um tempo, sendo assim ela provavelmente já sabia que seria processada, então por que o imóvel de imediato?

Se ela estava mesmo influenciando o velho ela não deve ser estúpida a esse ponto.

Ou será que é? Suspiro frustrado e começo a procurar por casos parecidos.

...

- Deixaram isso pra você - a secretaria do escritório fala colocando um saco em cima da mesa.

- Para mim? - pergunto confuso mas ela já foi.

Abro o saco e tem uma quentinha de almoço e um papel:

Não se esqueça de comer
- NaHyung

Sorrio, arrumo minhas coisas e desço. Procuro por ele no jardim mas não está lá.

Vou até a recepção e pergunto por ele. Me dizem que está no horário de almoço na sala dos funcionários.

Depois de me indicarem o caminho vou até o local.

- Sr. Kim - chamo.

- HoSeok - ele fala surpreso. - O que faz aqui?

- Obrigado pela comida, mas não precisava se incomodar - falo. - Não é para ficar gastando dinheiro comigo.

Me sento ao seu lado, ele come de uma vasilha igual.

- Eu vi dar três horas e você não tinha saído ainda, então comprei uma para você quando comprei a minha - ele fala como se não fosse nada de mais.

- Eu estou trabalhando num caso complicado, ainda está no início mas estou tendo que fazer algumas pesquisas, eu me perdi na hora, achei que ainda eram doze e pouca - rio.

Abro o almoço e começo a comer.

- Não devia comer aqui com os funcionários - NaHyung fala.

- Verdade - digo. - Mas eu não me importo.

Ele ri.

Assim que termino de comer subo para terminar a pesquisa. Não gosto desse tipo de cliente, desse tipo de caso, eu nunca sei se estou do lado certo.

Forever - JHSOnde histórias criam vida. Descubra agora