DISFEMISMO

XI - Doer

Cresci lendo histórias de amor,
amava me deliciar com personagens idiotas que mesmo
com todo dinheiro do mundo
viam em uma pessoa a fonte de felicidade.

Eu gostava de rir de casais apaixonados,
Com seus apelidos ridículos
E sonhos impossíveis.

Era engraçado o quanto meus amigos ansiavam por um amor.

Até que eu caí.

Gradativamente, forte e doloroso.

Eu me apaixonei e vi toda a minha vida ser tirada de mim.
me vi lendo e relendo mensagens, encontrei minha boca profetizando palavras apaixonadas
e tirando as amarras de tudo
aquilo que condenei por anos.

Eu não só me apaixonei,
amei,

Desejei,

Precisei,

Quis tanto que antes,
descrente,
naquela época,
até orava para que não existisse um fim.

O problema é que a vida é
solúvel e as pessoas mentem.

Eu caí novamente.

Dessa vez em um abismo profundo, uma dor aguda em um mar roxo.

Deitada em cima de uma poça
de sangue com os dedos na boca
e as lágrimas rolando me lembrei
de todas às vezes que eu
no auge da minha inocência
dizia com todas as forças
"nunca vou amar ninguém",

Naquele momento eu amava
alguém e doía,
Mas o amor machuca, certo?

Era nisso que eu pensava
quando ele me chamava de burra e batia em meu rosto.

Quando seus dedos longos puxavam meu cabelo
para depois pedir perdão,
Ele dizia que me amava demais
e quem ama briga.
Eu perdoei tantas vezes porque
uma queda nunca começa no ar, existe um chão antes disso,
existem flores vermelhas
e margaridas brancas.

Existe também um texto
que diz que o amor
é incompreensível e amar é lutar, nunca desistir mesmo diante das dificuldade.

Tantas vezes me vi no chão do banheiro rezando
para uma força maior,
implorando para que os gritos cessassem e ele abaixasse
a garrafa.

Quando ele rasgava minhas roupas para depois destruir o resto de minha dignidade eu fechava meus olhos e pensava

O amor dói.

Quem ama briga.

Quem ama maltrata.

O amor é complicado.

Era isso que meu pai falava para minha mãe.
Era isso que meu pai dizia quando gritava comigo.
Era isso que meus tios diziam para minhas primas.
Era isso que o namorado das minhas amigas falavam durante uma discussão.
Era nisso que eu acreditava em quanto ele me fodia em cima de lençóis sujos de sangue e bebida.

O amor dói.

Mas o que dói mais ainda
são os socos que ele me da quando me recuso a beija-lo.

O amor dói.

Mas o que dói de verdade são
os tapas que ele da em meu rosto enquanto me chama de inútil.

O amor dói.

Mas o que me mata mesmo
é saber que as lágrimas que rolam
em meus rosto são também de outras milhares de mulheres.

O amor dói

E nada começa com um empurrão,

Normalmente eles dão rosas vermelhas para depois manchar nosso corpo de vermelho sangue.

Mas ta tudo bem

Porque o amor

Ele dói.