fogo.

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Fazia quase quatro horas desde que eu te esperava voltar.

Você sempre costuma chegar às oito. Sempre em ponto. Atraso não estava em seu dicionário. E, até hoje, ele permanece.

Só que em outro sentido.

As últimas noites foram este sufoco de agora. Uma passagem do tempo que me obrigava a esperá-la, sentada no sofá que minha mãe havia dado para mim quando eu me mudei, e onde passamos por tantos momentos felizes juntas. O que me fazia pensar, como essas situações acabam surgindo, e aonde elas podem acabar parando.

Eu jamais imaginaria que nossa relação tão bela, de noites dormidas de conchinha e chocolate quente em tardes chuvosas acabassem nesta farra que sua vida se tornou após a sua promoção, e que nossos corações acabassem tão separados um do outro, apesar do sentimento existente entre eles.

Pelo menos, era o que o meu alegava a cada maldito segundo em que o ponteiro do relógio ultrapassava. Mas, e para você, Jisoo? O que vale tudo isso?

Uma brincadeira, um tipo de jogo do amor? Algo em que o maioral acaba saindo na farra e o perdedor deve ficar em casa, lamentando por um cafuné na nuca e um beijinho de conforto? Esta é sua lei, a partir dos últimos meses? Se divertir, e que o coração se foda, pois o amor está reservado – ou melhor, abandonado – dentro de casa?

Minhas sinceras desculpas se o seu tipo predileto de vida amorosa for este. Porque ele não é o meu.

Você me conhece, Jisoo. Sou garota difícil de aturar, e fácil de se amar. Sou fogo que queima, mas aquece também. Sou vilã por fora, mas com uma grande história por trás de toda sua máscara dura.

Ultimamente, você tem sido imcompreensível, mesmo ainda te entendendo – seus esquemas e estratégias haviam sido gravadas por mim, o que me fizeram agora ter um grande motivo por esperá-la há tanto tempo. Meu fogo se instalara em sua lareira, aceitando o conformismo, e encontrando beleza nele – porém, você acabou aprendendo a dominá-lo, me fazendo crepitar verdadeiramente agora. E a vilã da história, agora é nós duas. Só que eu tenho o motivo. Você ficou assim por vontade própria.

E isto é tão triste quanto o motivo do sorriso falho da vilã que ficava dentro de casa.

Conferi novamente o relógio na parede. Faria quase meia-noite, e até agora nada de você. "Por onde você se enfiou, Jisoo?"

Na televisão, passava o noticiário da noite, e depois, começaria um filme de ação bem famoso. Eu sabia porque acabei lendo a coluna de programação da televisão enquanto te esperava. Sorri minímo para o jornal pousado na mesinha de centro. Um dos poucos costumes que você ainda mantém, mesmo que eu nunca consiga te pegar lendo um desses.

O que meus amigos diziam de você? "Ah, ela parece ser legal." Dizia Jennie; "Uma garota interessante, responsável...", comentava Jungkook; "Jogue, se atire até não poder mais", falou minha assistente no consultório dental. 

Garota de boa impressão, agora sei porque todo mundo te acostumou a gostar da vida lá fora.

E eu? "Ah, não chegue muito"; "Muito estranha, não acredito que dê certo"; "Tem jeito de vadia, vai acabar te traindo."

Neste caso, o feitiço virou contra o feiticeiro.

Ou acha que nunca reparei no jeito que você olhava para Chaeyoung, aquela sua colega no escritório? Não vou negar, garota atraente ela. Mas, poxa, você não tinha se conformado em ter controlado totalmente meu fogo?

Eu brilhava tanto, que te enchi de esperanças na sua lâmpada. E isso é um erro. Tudo tem limites, e minha luz acabou se escapulindo de você. O que significava que, essa complexidade aí, que você sente diariamente, não é minha.

no more ☆ blackpinkOnde histórias criam vida. Descubra agora