A silhueta dele é impecável. Sua pele branca e quente - amorenada pelo sol - imóvel enquanto esperava com suas mãos em punho, estático, em pé, ao lado de uma grande e oca árvore quebrada ao fundo da ravina. Seu rosto retorcido em agonia. Estendeu uma das mãos aberta em minha direção. Mesmo sustentando seu braço por minutos, até obter minha reação, o mantinha completamente parado e alinhado como uma imagem de mármore. Seus olhos estavam fixos e fundos, não podia se quer dizer se estava piscando. Eram lindos aqueles olhos. De um castanho único, derretido entre bem definidas demarcações pretas.
Ele era digno de páginas e páginas de narração descritiva, congelada, imóvel assim como ele.
Eu estava condenada pela luz que tocava minha pele e refletia seu terno azul marinho. Então falou com uma voz que rompeu os céus:
- Anda até aqui.
Sua mão estendida era macia e fria. Segurou a minha no perfeito equilíbrio da firmeza e força. Levou-me para as sombras e me envolveu em seus braços. Seu abraço era mais equilibrado que sua mão fora, eu mal podia me mexer, mas era bom. Seu cheiro era amadeirado e seu pescoço quente.
Sua cabeça se ergueu enquanto me afastava mantendo as mãos firmes nos meus braços. Num segundo ele me olhou nos olhos, no outro, suas mãos desciam e apertavam minha cintura. Corri as mãos pelo seu terno sem gravata. Seu pescoço era quente como uma caneca de café com leite numa manhã de outono. Sua barba não estava alinhada e marcava sua linha no queixo, seu cabelo baixo estava desordenado e isso conseguia deixa-lo melhor. Suas olheiras eram profundas e seu brilho translúcido se tornara um olhar opaco.
Seus lábios carnudos e quentes eram rosa e perfeitamente hidratados. Conseguia sentir seu hálito quente e de odor de menta. Não consegui olhar para mais nada. Se estivesse de fora do meu corpo, ia ver minha boca aberta e meu rosto congelado, fixo.
Seus lábios mexeram.
Seu beijo era quente e macio. Suave e profundo. Era um longo suspiro incrédulo. Mas suas mãos eram fortes e me prendiam nele como se estivesse lutando para não me soltar. Ele não lutava contra mim, mas contra si mesmo.
Eu apertava sua nuca e o puxava pelo paletó com toda a força que tinha. Não tinha. Pois em algum momento parei de respirar. Esqueci como. Perdi todo o fôlego.
Segurei seu rosto em minha mãos, sentia sua barba. Tive de afastar os lábios, ofegante. Não conseguia abrir os olhos, ainda sentia seu hálito. Taquicardia. Minhas pernas vacilaram, mas é claro que ele não ia me deixar cair. Nunca.
Nunca?
- Olha pra mim. – disse ele.
Ele me distraía. Só queria mais do seu beijo. Eu sabia que não seriam boas noticias. Ele não podia falar.
Não deixa ele falar.
E num puxar de roupas, seu beijo quente me envolveu novamente. Ele bufava e lamentava no beijo como uma criança na cama pela manhã, sabendo que vai ter de levantar mesmo que embrome. Mas não deixa de embromar.
Suas mãos me apertaram mais forte e num impulso, minhas pernas abraçavam sua cintura. Senti a parede úmida da árvore quebrada nas minhas costas. Segurei seu paletó com ambas as mãos e o abri expondo seus ombros. Desabotoei sua blusa e o calor do seu peito tomou conta de tudo. Tudo.
Num abrir de cinto. Desabotoar de calças. Ele estava dentro de mim. Era grande, forte, rápido e ritmado. Mesmo me segurando o tempo todo, seus braços não falhavam. Eu arranhava sua nuca enquanto ele se inclinava para trás, de olhos fechados, e eu desfrutava dos seus gemidos roucos, graves e estimulantes. Enquanto em voz alta e limpa, cantava meus segredos para toda a floresta.
Seus gemidos, entre mordidas, no meu pescoço ficavam mais longos e falhos. Ele ia mais forte e mais rápido. Podia sentir a dilatação do seu prazer. Sua falta de controle. Minha falta de controle.
Ele abraçou minha cintura com um de seus braços me puxando mais para baixo do achei que poderia ir. Ele me tocou com sua outra mão como nunca antes haviam me tocado. Eu não queria que acabasse. Mas acabou. Primeiro eu, depois ele. A sensação era indescritível. Ficamos uns momentos ainda unidos. Escorrendo.
Desarmei em seus braços. Ele então me desencaixou e abotoou as calças. Minhas pernas soltaram sua cintura e ele me carregou de lado.
- Vamos caminhar – sua voz ainda estremecia meu corpo fraco, sua blusa ainda estava aberta e seus braços ainda não falhavam.
Eu dormi.
Quando acordei estava deitada na grama e ele olhava o céu. Estávamos numa área alta onde a floresta era menos densa e o sol mais forte. A grama estava seca e ele olhava para o céu. Seus olhos brilhavam de novo e seu braço ainda estava firme em volta de mim.
- Oi. – Bastou uma palavra minha e seus olhos voltaram ao opaco.
- Você acordou.
- Sim.
- Dormiu bem?
- Sim. Por quanto tempo dormi?
- Uma hora.
- Desculpa.
- Você é linda dormindo. É quase uma dose de calmante te ver tão pacífica e confortável. Sabe quando uma mãe carrega o filho por muito tempo e tudo fica frio e incompleto sem ele e seu calor enroscado nela, mesmo que os braços dela estejam cansados? É assim que eu me sinto com você.
Ele sorriu, mas foi um sorriso triste. Então levantou e estendeu sua mão para mim. Me hipnotizei em seu toque e seus traços mais uma vez. Ele me beijou. Simples. Pressionou seus lábios contra os meus com agonia e por um bom tempo. Então pegou fôlego para falar.
Em uma questão de instantes – aqueles instantes – a árvore da ravina estava mais inteira, firme e menos oca que eu. Enquanto ele andava para longe de mim.
Como uma explosão nuclear, crescente e incontrolável, a ansiedade me derrubou. Meus pulmões funcionavam rápido demais e, ao mesmo tempo, puxando quase nenhum ar.
- Para de chorar. Para de chorar. Para de chorar. – repetia aos soluços à mim mesma.
Não dava.
Precisava ir atrás dele.
Falta de oxigenação no cérebro causa: tontura. Visão turva. Confusão. Fadiga. Desmaio.
Quando acordei, o sol já tinha se posto e um guarda florestal me encarava. Desmaiei antes de chegar à metade da trilha. Patético. Minha ansiedade sobre a ideia de perdê-lo me custou uma última segunda chance.
Fui liberada depois de responder muitas perguntas que investigavam se ele tinha me dopado, agredido fisicamente, sexualmente... mas nenhuma pergunta foi se eu o amava e tinha doado e perdido todo o meu coração numa árvore quebrada e oca ao fundo da ravina.
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A Árvore
Short StoryUma jovem apaixonada entra em crise após o termino forçado de seu relacionamento. Mas isto não acontece antes que o casal sele seu amor nas paredes úmidas de uma grande e quebrada árvore oca.