17 dias. 8 horas. 36 minutos. 23 segundos. 24. 25. 26...
Só para de pensar.
Para de pensar no que está no seu coração. No que está na nossa casa. Só para de pensar.
Eu vou aprender a odiá-lo, a não o chamar de amor, a chama-lo pelo seu nome e salvar minha alma. Salvar minha mente, antes que eu afunde demais e nada possa ser feito.
Eu vou tentar decidir aonde vou me deitar a partir de agora. Mas não há nenhuma luta em mim, mesmo que nada nesse mundo tente me impedir.
Ele disse – você aguenta. – pôs o paletó e eu soube que estava tudo errado.
Eu estava em pé, na trilha, gritando – não, por favor. Eu te amo. Eu te amo.
- Garota, salva a sua alma. Salva sua mente, antes que se perca demais e nada possa ser feito. Sem mim, você ainda tem tudo. Você aguenta.
Aguenta.
Flashes da árvore assombram minha cabeça. A cada piscada. A cada sonho. Ele criou raízes em mim e eu fiquei sem base, quando ele se foi, sem oxigênio, minhas pernas falharam e eu caí. Preciso cortar suas raízes de mim. Eu vou derrubar a árvore.
E é por isso que estou aqui, imóvel, com as mãos em punho, estática, em pé, ao lado de uma grande e oca árvore quebrada ao fundo da ravina. Com o rosto retorcido em agonia estendi uma das mãos com uma machadinha em sua direção. Mesmo sustentando meu braço por minutos, até obter reação, o mantinha completamente parado e alinhado com a frieza de uma imagem de mármore. Meus olhos estavam fixos e minhas olheiras fundas. Não podia se quer dizer se estava piscando.
Eu estava condenada pela luz que tocava minha pele e refletia o metal da lâmina que então a atravessou com um som que rompeu os céus.
Eu golpeava e quebrava e arremessava os pedaços. E cavava e arrancava as raízes com as mãos. E chorava e gritava e caia no chão.
A grande e oca árvore quebrada era mais forte do que eu pensava. Será que eu também? Será que eu, oca e quebrada, ganhei a árvore por ser mais forte do que pensava?
Como uma explosão nuclear, crescente e incontrolável, a ansiedade me derrubou. Meus pulmões funcionavam rápido demais e, ao mesmo tempo, puxando quase nenhum ar.
- Para de chorar. Para de chorar. Para de chorar. – repetia aos soluços à mim mesma.
Não dava.
Precisava terminar.
Falta de oxigenação no cérebro causa: tontura. Visão turva. Confusão. Fadiga. Desmaio.
Quando acordei, o sol já tinha se posto pela janela da sala branca e um médico me encarava.
- Qual a última coisa que lembra?
- Desmaiei antes de chegar à metade das raízes. - Patético.
- Bateu a cabeça em uma pedra quando desmaiou.
Minha ansiedade sobre a ideia de tirar as raízes de mim me custou uma última segunda chance.
- Foram feitos uma série de exames para liberá-la para uma tomografia.
Última.
- Mas não pode ser exposta à radiação.
Não tinha mais chances.
- Está ciente que está grávida?
Não tinha como tirar as raízes dele de mim.
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A Árvore
NouvellesUma jovem apaixonada entra em crise após o termino forçado de seu relacionamento. Mas isto não acontece antes que o casal sele seu amor nas paredes úmidas de uma grande e quebrada árvore oca.