Parte 2 - Raízes

15 4 6
                                    


17 dias. 8 horas. 36 minutos. 23 segundos. 24. 25. 26...

Só para de pensar.

Para de pensar no que está no seu coração. No que está na nossa casa. Só para de pensar.

Eu vou aprender a odiá-lo, a não o chamar de amor, a chama-lo pelo seu nome e salvar minha alma. Salvar minha mente, antes que eu afunde demais e nada possa ser feito.

Eu vou tentar decidir aonde vou me deitar a partir de agora. Mas não há nenhuma luta em mim, mesmo que nada nesse mundo tente me impedir.

Ele disse – você aguenta. – pôs o paletó e eu soube que estava tudo errado.

Eu estava em pé, na trilha, gritando – não, por favor. Eu te amo. Eu te amo.

- Garota, salva a sua alma. Salva sua mente, antes que se perca demais e nada possa ser feito. Sem mim, você ainda tem tudo. Você aguenta.

Aguenta.

Flashes da árvore assombram minha cabeça. A cada piscada. A cada sonho. Ele criou raízes em mim e eu fiquei sem base, quando ele se foi, sem oxigênio, minhas pernas falharam e eu caí. Preciso cortar suas raízes de mim. Eu vou derrubar a árvore.

E é por isso que estou aqui, imóvel, com as mãos em punho, estática, em pé, ao lado de uma grande e oca árvore quebrada ao fundo da ravina. Com o rosto retorcido em agonia estendi uma das mãos com uma machadinha em sua direção. Mesmo sustentando meu braço por minutos, até obter reação, o mantinha completamente parado e alinhado com a frieza de uma imagem de mármore. Meus olhos estavam fixos e minhas olheiras fundas. Não podia se quer dizer se estava piscando.

Eu estava condenada pela luz que tocava minha pele e refletia o metal da lâmina que então a atravessou com um som que rompeu os céus.

Eu golpeava e quebrava e arremessava os pedaços. E cavava e arrancava as raízes com as mãos. E chorava e gritava e caia no chão.

A grande e oca árvore quebrada era mais forte do que eu pensava. Será que eu também? Será que eu, oca e quebrada, ganhei a árvore por ser mais forte do que pensava?

Como uma explosão nuclear, crescente e incontrolável, a ansiedade me derrubou. Meus pulmões funcionavam rápido demais e, ao mesmo tempo, puxando quase nenhum ar.

- Para de chorar. Para de chorar. Para de chorar. – repetia aos soluços à mim mesma.

Não dava.

Precisava terminar.

Falta de oxigenação no cérebro causa: tontura. Visão turva. Confusão. Fadiga. Desmaio.

Quando acordei, o sol já tinha se posto pela janela da sala branca e um médico me encarava.

- Qual a última coisa que lembra?

- Desmaiei antes de chegar à metade das raízes. - Patético.

- Bateu a cabeça em uma pedra quando desmaiou.

Minha ansiedade sobre a ideia de tirar as raízes de mim me custou uma última segunda chance.

- Foram feitos uma série de exames para liberá-la para uma tomografia.

Última.

- Mas não pode ser exposta à radiação.

Não tinha mais chances.

- Está ciente que está grávida?

Não tinha como tirar as raízes dele de mim.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Nov 08, 2019 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

A ÁrvoreOnde histórias criam vida. Descubra agora