Anos antes
Seul
Ela estava sozinha na sala de espera.
Não era bem novidade. Durante todo o processo de seleção ela esteve sozinha. Não haviam outros participantes, pelo menos até onde sabia.
Mas, talvez, aquele fosse o processo de seleção padrão na Coréia do Sul, os candidatos escolhidos cumpriam seus testes individualmente, sem saber da existência de seus concorrentes. Sistine não sabia se era assim mesmo. Bom, se parasse para pensar, aquela era uma vaga muito estranha.
Estava na Coréia há oito meses e já havia tentado inúmeros processos seletivos para todo tipo de trabalho: desde assistente de escritório a atendente de fast food e até cozinheira, mas nada havia dado certo. Os coreanos, pelo o que deu pra entender, não eram muito entusiastas de estrangeiros e preferiam contratar nativos.
O desanimo estava batendo. A realidade era bem diferente do que imaginava. Estava ali para estudar e dar um rumo diferente à sua vida. Havia entrado na KAIST (melhor universidade de ciências da Coréia do Sul) e cursava engenharia aeroespacial, que era o seu sonho. Tudo ia bem com os estudos, mas o fato de não ter um emprego contrabalançava a felicidade da faculdade. Não entenda mal, Sistine poderia ligar para a família nos Estados Unidos e pedir dinheiro. Não só seus pais, mas seus avós e tias não reclamariam um só segundo se ela pedisse ajuda. Porém, ela não queria isso.
Por vir de uma família numerosa e extremamente unida, ela nunca se sentiu realmente livre para fazer suas próprias escolhas. Seus pais não lhe impunham sonhos, mas, na América, eles eram celebridades e Sistine passou a sua vida "monitorada" por todos, já, ali na Coréia, não. Ela poderia ser ela mesma e construir sua história, por isso, não ligaria para a família.
Como ia dizendo, aquela vaga de emprego era estranha. Sistine não havia encontrado-a em sites de busca ou mesmo por indicação da faculdade. Um dia, quando esperava o transporte para ir à aula, viu um panfleto amarelo preso na parada do ônibus que dizia: seu inglês é fluente? Tem vocação para ensinar? Se sim, mande seu currículo para kangYO.RM.SK.
No início, Sistine ignorou. Devia ser algum tipo de pegadinha ou coisa do tipo, mas, segundos depois, quando a angústia de estar desempregada e sem dinheiro bateu, ela enviou o currículo. Mais tarde, quando estava em aula, recebeu a resposta com um endereço, data e horário para que ela comparecesse.
Estrangeira, sem amigos nem família na Coréia. Essas eram as características suficientes que poderiam fazer com que Sistine não fosse à "entrevista". Afinal, havia tanta gente sem noção no mundo. E se aquilo fosse coisa macabra? E se ela acabasse morta ou rapitada? Será que haviam descoberto de quem ela era filha? Será que haviam descoberto quem eram seus pais e avós?Reunindo toda a coragem e necessidade que tinha, Sistine compartilhou seus planos com sua melhor amiga Rosie (que estava no Canadá), e disse que se algo acontecesse ela saberia onde encontra-la e rastrea-la.
Encurtando a história, agora ali estava ela, seis fases depois, na última entrevista daquela vaga para professor de inglês.
Sim, seis fases:
Primeira, uma prova escrita;
Segunda, gravou um vídeo em que teve que dar aula para crianças coreanas;
Terceira, teste psicológico;
Quarta, mais um vídeo só que agora ela deu aula para um grupo de idosos coreanos;
Quinta, uma entrevista em que foi colocada em uma sala branca, vazia, em que havia uma só cadeira para ela sentar e responder às perguntas que ecoavam de um alto-falante na parede. Muito bizarro, mas ela estava viva e havia passado para a última fase.
Uma mulher de longos cabelos pretos a chamou da sala de espera e a acomodou em um escritório, segundo ela, a sexta fase era uma entrevista com o contratante. Sistine imaginou que ele deveria ser alguém muito importante, pois só isso justificava aquele processo tão longo e sigiloso. Vestia sua melhor roupa (uma blusa branca de seda com uma saia lapís, bem formal) e apertava as mãos de tão nervosa que estava. Havia chegado até ali, e se o contratante não gostasse dela?
Mas, antes que começasse a surtar e a suar com a possibilidade de não conseguir esse emprego, a porta do escritório abriu e o contratante entrou.
Ele sorria.
Como sempre sorria.
O coração de Sistine disparou.
Por um segundo Sistine esqueceu quem era e o que estava fazendo ali.
Hoseok estava de preto, com um cachecol listrado (fazia frio lá fora? ela não tinha percebido) e usava seus óculos redondos.
Ele não sentou atrás da mesa do escritório, parou ao lado dela.
- Você está com fome? - Perguntou.
A cabeça de Sistine não raciocinou rapidamente e ela ficou em silêncio, com o coração a mil. Aquilo era inesperado, ela falava coreano (e outras cinco línguas) fluentemente, nunca havia "bugado". Mas, com ele tão próximo, ela já não lembrava como falava "eu te amo" em coreano".
- Pensei que você fosse a professora de inglês que o Namjoon contratou para mim...
- RM... me contratou?
Ele sorriu.
- Acho que sim.
- Se você está dizendo... acho que sou eu.
- E então, está com fome? Queria ir comer Ttteokbokki. Você vem?
- Mas, e a entrevista?
- Esta é a entrevista. - Sorriu.
Sistine sentiu suas bochechas corando e apenas seguiu Hoseok pela porta.
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Sistine (JHope)
FanficQuando ela perguntou o que havia feito para que tudo chegasse naquele ponto, ele não soube o que dizer. Parecia clichê responder que era o sorriso ou a forma como ela enxergava o mundo. Jung Hoseok não suportava a ideia de aquele sentimento ser pas...